Roberto Birindelli: “Jamais acabaria um relacionamento por telefone!”
O ator, que vive o machão Josué em Império, se declara doce e romântico
Novela tem disso. De repente, um personagem que nem era do primeiro time rouba a cena e faz o Brasil se apaixonar. Isso, graças ao talento de seu intérprete (além da aposta do autor, claro!), que aos poucos conquista todo mundo e vira queridinho. É exatamente o caso do ator Roberto Birindelli, que tem surpreendido como o Josué, fiel escudeiro do Comendador (Alexandre Nero) na trama global das 9. Josué tem chamado tanto a atenção que muita gente até aposta: no final das contas, poderá ser ele o grande vilão que manda em Maurílio (Carmo Dalla Vecchia) nas armações contra os Medeiros.
Seja como for, esse sucesso todo de Birindelli foi conquistado com muita batalha em seus 29 anos de carreira. O galã – apesar de não se considerar como tal – de 53 anos chegou ao Brasil aos 15, quando a família fugiu do rigoroso regime militar do Uruguai. E foi superacolhido pelos brasileiros.
Em sua trajetória, além de Império, Roberto fez outros trabalhos importantes. Foi, por exemplo, Grego na série A Teia (Globo, 2014); o Ugo de Passione (Globo, 2010); e o mafioso Francesco Tucci de Poder Paralelo (Record, 2009). E brilhou ainda no cinema e no teatro, sobretudo com a peça Il Primo Miracolo.
E na vida a dois, bem longe do trabalho? Bom, Birindelli assegura não ter nada a ver com Josué, que, rústico e até grosseiro, chegou a romper o romance com Helena (Julia Fajardo) pelo telefone, a mando do patrão. Atualmente, ele mora no Rio, com a esposa, Juliana Sarda, de 33 anos, e se diz apaixonado! Apesar das gravações intensas da novela, Roberto reservou um tempinho para falar com TITITI. Dá só uma conferida!
Do que mais se lembra da época em que deixou o Uruguai para morar no Brasil?
O Uruguai vivia uma repressão enorme e com poucas oportunidades de crescimento. Meu sonho era ser arquiteto, queria fazer a Universidade Federal de Montevidéu, muito renomada, mas aos poucos minha família e eu fomos percebendo que não poderíamos ficar no país. Quando cheguei ao Brasil, em 1978, era época da abertura política (governo de João Figueiredo) e eu achava aquilo um paraíso! Os amigos me diziam que era o fim do golpe militar, e eu tinha vivenciado uma situação mais violenta no Uruguai. Quando chegamos aqui, a opção era morar em São Paulo. Mas não lembro o que fez meus pais optarem por Porto Alegre (RS). Provavelmente, foi por causa das tradições mais parecidas com as de Montevidéu.
Qual foi a primeira impressão do Brasil?
No início, foi bem difícil. O Uruguai tem tradições latinas espanholas bem diferentes das portuguesas. E referências europeias, enquanto no Brasil elas são mais norte-americanas. Mas o choque cultural que senti entre Montevidéu e Porto Alegre foi menor que a mudança de Porto Alegre para o Rio, há sete anos (risos).
Como a carreira artística surgiu na sua vida?
Comecei desenhando, pois falava pouco, sempre fui fechado. Entrei para escolas de desenho e pintura aos 5 anos. Sempre foi minha maneira de expressão. Não sei conversar sem uma lapiseira na mão (risos)! Escrevi meu primeiro livro, aqueles bem infantis, aos 9. Depois, já na faculdade de arquitetura (na capital gaúcha), participei de rodas de poesia e cheguei a editar um livro independente de poemas. Mais tarde, veio a mímica, a dança. E, em 1986, finalmente, comecei a trabalhar como ator.
Você cursou outra faculdade, além da arquitetura?
Sim, também fiz artes cênicas, na mesma Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Fiz alguns projetos de urbanismo e de meio ambiente. Participei das reuniões da ECO-92 e dei uma palestra sobre Mobilidade Urbana na Rio+20. Além disso, por anos, trabalhei com produtos da área médica e de prevenção e segurança no trabalho. Lembro até que, nos anos 90, a primeira vez que entrei no Projac foi para treinar o pessoal da carpintaria e outras equipes de segurança em relação à proteção auditiva… Quem diria, né?
Existe algum personagem do qual mais tem saudade?
Ah, são vários! Fiz um monólogo de Dario Fo, Il Primo Miracolo, durante 21 anos, em mais de 200 cidades de nove países. Acho que esse foi o mais marcante para mim.
Como nasceu o Josué na sua trajetória?
Foi um convite, por e-mail, do Aguinaldo Silva. Quase não acreditei quando chegou. Já tinha trabalhado com o Papinha (Rogério Gomes, diretor de Império) em A Teia.
Mas o Josué é, realmente, um amigo fiel do Comendador?
Muita coisa ainda vai ser revelada até o final de Império. Eles se conheceram em situação de urgência no Monte Roraima, quando o José Alfredo foi baleado… Josué salvou a vida dele. Mas meu personagem já ia ao Monte, e há um passado não revelado aí. Zé Alfredo ofereceu emprego, e estão juntos há 30 anos. A essa altura, Josué é motorista, consultor, guardador de todos os segredos dele. Pode defender e até matar por ele. É um cara observador e até perigoso. Mas acho que a fidelidade já foi provada ao longo desses anos.
Como é a rotina de gravação e a parceria com o Nero?
Superlegal! A gente convive diariamente durante horas, passando por cansaço, risos, frustrações, dificuldades e, de vez em quando, algumas cervejinhas também (risos).
Você fez cenas quentes com a Julia Fajardo (Helena) e com a Luciana Pacheco (Marisa). As pessoas o paqueram?
Claro que isso mexe com o imaginário, mas não sou do tipo galã. As pessoas vêm me cumprimentar mais pelo trabalho de ator, e pela parceria do Josué com o Comendador.
Como faz para manter o corpão?
Sempre que posso vou à academia puxar ferro! A alimentação já tinha mudado, parei com lácteos e agora mais recentemente com glúten. Já sinto a diferença (risos).
Uma dúvida das leitoras: tem a mesma pegada do Josué? O que a esposa acha disso?
(Risos) Poxa, tem que perguntar para a Ju (a esposa)!!! Se bem que ela não quis fazer oficina (treinamento) em casa para ver como seria a pegada do Josué (gargalhadas)! Acho que ele é mais durão. Eu, por exemplo, jamais acabaria um relacionamento pelo telefone!
Você é romântico? Como faz para conquistar a sua mulher?
Sou, sim. Nesse um ano que estamos juntos, a gente se denga muito, às vezes é um café na cama, ou ela se lembra de comprar coisas sem glúten e sem lactose para mim; ou eu vou atrás de algo que imagino que ela precisa. Acho que o principal para um casal é ter um propósito em comum, valores parecidos, e aprender com as diferenças, as lambanças, as discussões.
Tem planos para depois de Império?
Estou lendo dois roteiros de filme, tenho conversado sobre a participação em uma série e estou de olho em outros trabalhos na TV. Vamos ver o que rola, né?