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Jon Hamm se despede de Don Draper: “Ele não me contaminou, mas teve um preço”

Recém-liberado de uma clínica de abuso de álcool, ele se sente um ganhador da loteria pelo personagem em 'Mad Men', que estreia seus últimos episódios

Por Mariane Morisawa (colaboradora)
Atualizado em 22 jan 2020, 00h37 - Publicado em 2 abr 2015, 11h56
Frank Ockenfels 3/AMC (/)
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Jon Hamm, 44 anos, é o contrário de Don Draper. Agradece aos jornalistas pelo apoio a Mad Men, que chega ao fim a partir desta segunda-feira (6), às 21 horas, na HBO, com a exibição da segunda metade da última temporada da série. “Quero dizer obrigado pelo trabalho duro e pela bondade comigo”, disse em um papo em Los Angeles, na quinta-feira (26). Isso é raro em Hollywood, acredite. Oposto ao personagem, o ator é sempre sorridente, engraçado, gentil, até meio trapalhão. Sua voz é mais suave ao vivo. Só dividem mesmo o rosto e o corpo. Despedir-se da série que o colocou no mapa, numa época em que ele pensava em desistir da carreira, está sendo difícil. Jon passou um mês numa clínica de recuperação por abuso de álcool recentemente. Mas, durante a entrevista, ele estava bem-humorado, fazendo piada o tempo inteiro e sendo adorável. Bye, bye, Don…

As filmagens terminaram quase um ano atrás. Você sente falta de interpretar Don? Gosta de algo nele?

Sim! Terminamos o último episódio no dia 3 de julho do ano passado. Foi o fim de uma longa jornada. Se tem algo de que gostava nele? Meu Deus, está brincando? Tanta coisa! A oportunidade de poder interpretar um personagem com tantas camadas, que é tão rico (não no sentido material, claro), adorável, estranho, triste e horrível. De ver que as pessoas responderam bem a esse seriado que ninguém queria fazer. Continuo impressionado por essa coisa ter me escolhido. É como ganhar na loteria (risos)! Vou sentir falta.

Don Draper contaminou você?

Não. Mas é uma dificuldade ficar nesse estado mental por um longo tempo. Atuar não é um trabalho tão físico como ser jogador de futebol, mas demanda muito foco, acuidade mental, e isso tem um preço emocional. O bom do trabalho é que termina no fim do dia e você vai para casa – e a casa é uma coisa boa. Acho que Don não me contaminou, mas teve um preço, por causa das horas trabalhadas longe da família, dos amigos. Consultas médicas ficam para depois, tudo de sua vida fica para depois, porque você está trabalhando das 6h às 22h, todos os dias. Nos fins de semana, você só quer dormir. O cachorro olha para você como se perguntasse: “Não vai andar comigo nunca mais? Saia de casa, faça algo (risos)!”.

Foi difícil se distanciar emocionalmente de um personagem que interpretou por tanto tempo nesse estado mental sombrio?

Não é que seja necessário queimar sálvia ou limpar-se nas águas do Lago Minnetonka… Só de tirar o terno e a brilhantina do cabelo já me sentia fora do personagem. Os figurinos tinham poder. Olhar para o espelho e não reconhecer quem está olhando de volta é desconcertante. Isso ajuda muito a se “reconfigurar”. Claro que algumas vezes você está exausto e gostaria de ficar em casa, mas não pode. Tudo bem. É melhor que ficar olhando para o telefone que não toca e se perguntar se vai trabalhar de novo um dia.

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Quando acha que Don foi mais feliz?

Acho que Don foi mais feliz no trabalho. Ele acreditava nesse mundo que criou sobre o qual tinha controle. Quando as coisas começaram a ficar difíceis em casa, o trabalho tornou-se um refúgio. Quando as coisas passaram a ficar complicadas no trabalho, foi um golpe nessa vida já em desintegração. Foi devastador. Seu trabalho era sua felicidade – o que, em si, é um pouco triste. Espero que, em sua busca por equilíbrio e paz, ele descubra que existem outras maneiras de ser feliz. 

Mad Men
Frank Ockenfels 3/AMC ()
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