Izabella Bicalho sabe dar a volta por cima
A Zuleika de "Negócio da China" já foi a Narizinho do Sítio do Picapau Amarelo, passou um tempo na "geladeira", mas não desistiu
“É muito bom poder recomeçar”,
acredita Izabella Bicalho
Foto: Rafael França
Izabella Bicalho não entendia bem o porquê de não ser escalada para fazer novela até assistir a uma entrevista com John Travolta na qual o astro dizia que a culpa por ele ter ficado anos sem fazer filmes era exclusivamente dele. Foi nesse momento que a ficha de Izabella, de 36 anos, caiu e fez com que ela vislumbrasse outros caminhos. “Durante uma época fiquei frustrada por não estar fazendo televisão. Mas depois de um tempo, quando eu comecei a desenvolver um trabalho maior no teatro, entendi que isso era uma situação que de alguma forma eu tinha que reverter. Aí eu mudei a forma de pensar. Se você ficar se lamentando, se queixando do mercado de trabalho, não vai conseguir nada”, conta. “A entrevista do John Travolta clareou minha cabeça. Ele falava das escolhas erradas que teria feito, do mau investimento na carreira… E, quando ele teve uma nova oportunidade, dada pelo diretor Quentin Tarantino, adotou uma nova postura. Eu pensei: é isso. O meu espaço está lá, eu tenho que cavá-lo, só depende de mim. É claro que isso demora um tempo até você amadurecer. Mas é muito bom poder recomeçar”, acredita a atriz carioca.
Atriz precoce
“Já são 32 anos de carreira. Comecei fazendo figurações. Depois fiz a novela Coração Alado (1980), da Janete Clair. Ela, aliás, escreveu um papelzinho pensando em mim em Sétimo Sentido (1982): uma órfã, filha da personagem de Regina Duarte. Foi depois disso que eu fiz a Narizinho no Sítio do Picapau Amarelo (1977), onde fiquei dois anos. Minha família sempre me apoiou e a minha irmã, Gabriela, veio na carona. Ela era uma criança muito engraçadinha, cheia de cachinhos dourados, e o Fábio Sabag a chamava de Gabriela banguela quando ela fez uma participação no Sítio interpretando o anjinho da asa quebrada.”
Fora da TV
“Depois que eu fiz o Sítio, poucas coisas apareceram. Atuei na minissérie Anos Dourados, Memorial de Maria Moura… Mas aí eu fiquei meio na geladeira. Não tenho idéia do porquê. Quando eu era criança e a gente entrava na fase da adolescência, ficávamos sem trabalho. Programas como Malhação, direcionado para jovens, não existiam. Hoje em dia os conflitos dos adolescentes são tratados na televisão. Por outro lado, comecei a fazer teatro e me dei muito bem. Na verdade, nunca parei de trabalhar como atriz. Como as pessoas vão pouco ao teatro pensam que o ator que não está no vídeo parou de atuar.”
Parceria com Falabella
“Minha relação com o Miguel Falabella se deu no meu movimento de busca. Como eu também canto, fui fazer o teste para o musical South American Way, no Scala, onde tinha uma multidão de pessoas. E uma multidão de pessoas ótimas, mulheres altíssimas, poderosas. Eu pensei: gente, eu sou meio baixinha, esse teste não é para mim. Mas peguei o meu número 239, fui uma das últimas a fazer o teste e quando anunciaram o meu nome, o Miguel lembrou de mim. Cantei uma música do repertório da Linda Batista e passei. Toda a minha trajetória e o fato de eu estar bem preparada pesou muito para que as coisas dessem certo naquele momento.”
Atriz cantora
“Teatro musical foi uma coisa com a qual eu me identifiquei muito. Aos 16 anos comecei a estudar canto e não parei mais. Fiz os musicais Império, Somos Irmãs e South American Way. Depois, comecei a produzir as minhas coisas. Gota D’água foi o meu ápice, um espetáculo em que eu acertei muito na escolha do diretor, o João Fonseca, no texto… E em que sou a protagonista. Gota D’água foi indicado para todos os prêmios no Rio. Agora vamos levar o espetáculo para Portugal. A minha filha caçula, a Maria Ingrid, de 11 anos, entrou na peça de tanto que ela assistiu. Ela fez bem, tem talento. É capaz que ela siga a carreira artística. Já os meus outros filhos, Taoã, de 17 anos,Tainá de 15, e a minha enteada Flora, de 21 anos, que mora comigo, não levam o menor jeito.”