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Grazi Massafera: “Eu, o Cauã e Sofia ainda somos uma família”

Depois de viver Larissa, na novela Verdades Secretas, Grazi Massafera mostra que superou a desconfiança e consagra-se como um talento nacional. Na nova fase, quer se desafiar ainda mais

Por Luciana Ackermann (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 23h18 - Publicado em 2 mar 2016, 14h47
André Passos/Revista CLAUDIA
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“Você entrou para o nosso gueto, mas vê se não vacila”, diz Grazi Massafera, rindo, sobre o que imagina que seus colegas gostariam de falar para ela desde o sucesso de Larissa, a modelo viciada em crack da novela Verdades Secretas. A personagem, mais complexa do que qualquer outro papel que a paranaense já encarara antes, rendeu-lhe cinco troféus – entre eles, o de melhor atriz coadjuvante no Prêmio Extra de Televisão – e um bilhete de entrada para o rol de atores consagrados da televisão brasileira. “Tem uma energia que sempre paira com a minha presença, de algo meio duvidoso. ‘Essa menina?! Será que ela consegue dar conta?’ ”, revela. Alçada à carreira de atriz depois de participar do reality show Big Brother Brasil, em 2005, Grazi enfrentou preconceito, descrença e até a rejeição de atores, autores e diretores. “Todos os dias eu pensava em desistir. A sorte é que sou guerreira”, admite, contando que virou motivo de chacota entre os colegas. “Hoje, entendo que as críticas são normais. É uma profissão que requer disciplina, entrega, preparo, e eu não estava pronta. De toda forma, houve maldade por parte de alguns”, resume.

Quando deixou sua casa, em Jacarezinho, partiu para o Rio de Janeiro e começou na Globo, na novela Páginas da Vida, a jovem encontrou um universo bem diferente do que esperava. “Pensava que seria só glamour, festa, dinheiro, gente bonita. Eu era inocente”, lembra a atriz. Precisou de persistência para se adaptar. A coragem, buscou no exemplo de sua família, mas ganhou estímulo quando percebeu que era querida pelos telespectadores. “Tendo o público como aliado, me sinto mais protegida.”

Identidade forte

Aos 33 anos, dez deles na tevê e no cinema, Grazi garante que se esforça para manter os pés no chão. Evita, por exemplo, se levar muito a sério. “Ser atriz é lidar com a insegurança diariamente. Hoje, vivo um momento de glória; amanhã, pode ser de fracasso… É um ciclo de altos e baixos”, explica. O equilíbrio não vem fácil: já são oito anos de análise com diferentes profissionais e correntes. Tempos atrás, quase acreditou que estava vivendo o conto de fadas da Cinderela. Quando se deu conta, correu para a terapia. “Foi um perigo, dei uma deslumbrada. Aos poucos, percebi que era ilusão.” Também aprendeu a simplificar. “Se estou complicando demais, paro, rebobino e volto para o caminho fácil, básico”, diz. “Isso não quer dizer que não tenho meus momentos de drama. Eles precisam existir, são engraçados, divertidos”, conta.

Ser atriz é lidar com a insegurança diariamente. É um ciclo de altos e baixos.

Além do apoio dos especialistas, Grazi acredita que cada palavra de incentivo, ensinamento, indicação de livros e filmes que recebeu dos colegas ao longo dos últimos anos foram essenciais. Uma das recomendações veio do ator Murilo Grossi, com quem contracenou no longa-metragem Billi Pig (2012). Ele sugeriu O Amor Acaba, obra do escritor mineiro Paulo Mendes Campos. Em especial, o conto Maria da Graça, em que o autor se dirige a uma menina que está completando 15 anos. No texto, Campos explica que existem caixas de humor para nos amparar em diferentes momentos da vida, principalmente aqueles repletos de dor e de vaidade. “Sempre releio esse conto para me lembrar de levar tudo mais leve, com tranquilidade.”

André Passos/Revista CLAUDIA
André Passos/Revista CLAUDIA ()

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Papel decisivo

Foi Grazi quem pediu para a Globo a oportunidade de interpretar um personagem que a colocasse em xeque. Ela queria se arriscar, sair do lugar-comum de mocinha e descobrir a profundidade de sua capacidade profissional. Então, em abril do ano passado, foi convidada a fazer o teste para o papel de Larissa. Bateu medo. “Se eu fosse mal, seria um carimbo negativo na minha carreira, a reputação ficaria ruim na emissora. Por outro lado, se eu não aceitasse, me sentiria uma fracassada”, lembra. Ela respirou fundo e se entregou. Andava especialmente confiante depois de um curso de atuação na Espanha. “Quando o teste acabou, eu sabia que tinha feito algo diferente do meu registro. Saí de lá com a sensação de dever cumprido.”

Grazi credita o sucesso da novela à química entre o autor, Walcyr Carrasco, e o diretor, Mauro Mendonça Filho. Pela primeira vez, foi tocada pelo cunho social da profissão e pôde experimentar um novo caminho de interpretação. Assim que foi aprovada, seguiu para a Cracolândia, região de moradores em situação de rua viciados em crack, em São Paulo. Observou com atenção os gestos e movimentos de quem estava ali, conversou com muita gente, sentiu na pele o sofrimento dos que acabavam na rua e de seus familiares. A dedicação a fez abrir mão de coisas que ama, como tomar sol – no decorrer da trama, Larissa foi ficando cada vez mais pálida. Também deixou de fazer musculação para perder massa e ganhar o aspecto magro, quase raquítico, em decorrência do vício. Estudou, pesquisou, passou noites sem dormir. Larissa fez Grazi se apaixonar de novo pela profissão. “Eu me joguei e confiei na equipe para me segurar. Até então, cada atuação envolvia vaidade. A Larissa foi uma doação total”, afirma. “É uma profissão bonita, cura a gente. Algumas vezes, me perguntei se deveria continuar, afinal, já consegui o dinheiro que queria. Mas sempre que isso acontece, aparece uma oportunidade dessas, imperdível”, completa.

Mãe e filha

Mesmo colhendo os louros do sucesso mais recente, Grazi preferiu tirar um período sabático após a novela. O motivo? Ficar pertinho de Sofia, sua filha de 3 anos e meio com o também ator Cauã Reymond, 35 anos. Durante quase todo o ensaio fotográfico, a menina manteve os olhos na mãe. Tranquila e educada, tirou de letra o agito típico da situação e brincou sozinha. Quando via chance, corria para dar um abraço ou beijo em Grazi. “Eu sempre tive o sonho de ser mãe. Espero ser para a Sofia um exemplo de mulher forte, que sonha, vive momentos de tristeza, de derrota, mas que, acima de tudo, tem coragem”, revela. Ela lembra quão importante para a sua formação foi ver a própria mãe sair de casa para trabalhar. “Era nítido o esforço dela para colocar comida na mesa. Vejo que a Sofia já brinca com a boneca falando que vai trabalhar”, diz, orgulhosa.

Eu sempre tive o sonho de ser mãe

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A atriz conta que a presença constante de Cauã – graças à guarda compartilhada e à rotina bem estabelecida e organizada dos dois – garante equilíbrio à sua vida. Isso sem contar a babá, que é um anjo da guarda, segundo a atriz. A convivência próxima entre pai e filha é saudável e natural aos olhos de Grazi. “A separação envolve o casal. De alguma maneira, nós três ainda somos uma família. Eu e Cauã sempre teremos nosso amor em comum, a Sofia”, afirma. Em nenhum momento, ela se enxerga sozinha diante de decisões importantes na criação da pequena. “Tivemos a Sofia porque queríamos acompanhar o desenvolvimento dela, não delegar a alguém.” Até mesmo nas consultas ao pediatra e ao dentista o pai e a mãe se revezam. “Faz bem para a relação deles esses momentos juntos. Agora, o Cauã é o príncipe da Sofia. Ela descobriu o pai e está apaixonada.”

André Passos/Revista CLAUDIA
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Vida a dois

Desde o fim de seu casamento, em 2013, são muitos e frequentes os boatos de que Grazi estaria em um novo relacionamento. Só no ano passado, especulou-se que tivesse um romance com o ex-judoca e apresentador de TV Flávio Canto e outro com o designer de móveis carioca Zanini de Zanine. Ela negou ambos. No começo deste ano, as fofocas ganharam sotaque inglês quando Grazi foi fotografada com o ator Kit Harington, do seriado Game of Thrones. Ele veio passar o Ano-Novo no Rio de Janeiro com amigos, curtiu a praia, foi a festas. Mais uma vez, ela nega. “É uma pessoa inteligente, bem-humorada. Rolou amizade, e não só comigo; com o Selton Mello (que também aparece na foto estampada em jornais e revistas de celebridades) e com várias outras pessoas”, dispara. “Como sou fã da série, foi uma surpresa conhecê-lo. Só, nada além disso”, afirma, acrescentando que não está namorando ninguém. Ela confidencia que nem fala inglês. Dominar o idioma é, por sinal, uma das metas para este ano. “Eu e o Cauã decidimos que a Sofia começará a estudar inglês em breve e acho uma sacanagem ela aprender antes de mim. Mas vai acabar acontecendo.”

As mulheres se deparam com um cenário bem mais cruel do que os homens, especialmente na carreira artística

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O que Grazi quer é estar em constante aprendizado e evolução. Ela luta para não se deixar reduzir a beleza e juventude. “As mulheres se deparam com um cenário bem mais cruel do que os homens, especialmente na carreira artística”, afirma. “A atriz está trabalhando e tem quem só repare no pé de galinha no olho dela, uma cobrança que é muito diferente para os atores.” A paranaense acredita que esse tipo de preconceito é um reflexo das questões culturais presentes na sociedade. “Ainda não se aceita como natural que uma mulher mais velha namore um cara muito mais novo, enquanto o oposto é bem visto”, diz. Para ela, o importante é os dois estarem na mesma fase, o que faz a vida conjunta ser bem mais interessante. “O casal muda junto, o que é bacana. A convivência traz o amadurecimento, que também é uma forma de crescer”, acrescenta.

Apesar do papo amoroso-filosófico, Grazi garante que seu foco está no trabalho agora. “Queria fazer teatro, mas não tenho certeza se é o momento certo. Também gostaria de voltar ao cinema. Enfim, só espero bons projetos. Creio que, para mim, 2016 será um ano de uma baita energia profissional.”

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