Gloria Pires sobre a maternidade: “Não sou do tipo que impõe”
Mãe de quatro filhos, a atriz acredita que a conversa franca e o suporte incondicional são fundamentais para manter uma boa relação com eles
Gloria Pires está sendo maquiada quando Ana, 16 anos, e Bento, 12, chegam ao estúdio para a sessão de fotos de CLAUDIA. A atriz, 53 anos, pede licença à maquiadora e vai falar com os filhos. Dá um selinho na boca de cada um, diz que estava morrendo de saudades e pergunta como foi a escola.
Ao ver no braço do caçula o desenho de uma teia de aranha feita com canetinha, cai na gargalhada. “Ele é louco para fazer uma tatuagem, mas agora não pode, né? A Ana já tem quatro”, diz ela, calma.
Na vez de a filha se arrumar, a atriz não resiste, pega o celular e começa a filmar. “É muito gata essa menina”, repete sem parar. O caçula também é alvo da admiração da mãe. Gloria se senta ao lado do filho e fica olhando o menino fixamente em silêncio. Está tão concentrada que quase não ouve o chamado para experimentar o figurino. “Desculpa, gente! Estou babando aqui”, responde aos risos.
Mãe ainda de Cleo, de 34 anos, de seu relacionamento com o cantor Fábio Jr., e de Antônia, 25, a mais velha do casamento com o também cantor Orlando Morais, sente orgulho da relação que tem com os quatro.
“Sou muito aberta e franca com eles. Gosto de abraçá-los e beijá-los o tempo todo, mas, o mais importante, é que eles sabem que não existe assunto proibido comigo e que podem contar sempre com o meu apoio e compreensão”, afirma ela.
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A atriz sabe da importância do suporte familiar por experiência própria. Aos 19 anos, engravidou de Cleo e foi com a ajuda dos pais, o ator Antônio Carlos Pires e a empresária Elza Pires, que criou a filha. “Fiquei muito sozinha, mas eles me deram todo o amparo de que precisava.”
Foi em 1981 que a carioca teve certeza de que queria uma família grande. Ela estava passando dois meses em uma tribo indígena no Tocantins para a gravação do filme Índia, a Filha do Sol, quando teria recebido um chamado: “Foi uma experiência extrassensorial. Olhava as crianças e imaginava meus filhos”, recorda.
O plano ficou suspenso até conhecer o atual marido, Orlando, com quem está casada desde 1988. “Foi um encontro de almas. Ele é companheiro, amigo, compreensivo. Sabia que seria um superpai. Porque não é só ter um marido, é ter alguém que esteja com você, que dê apoio”, acredita.
O casal comemorava cinco anos de união quando nasceu Antônia. Oito anos depois, veio Ana. Gloria chegou a sofrer dois abortos espontâneos até engravidar de Bento. “Ele tinha que nascer. É o mais calmo, um doce.”
Cada filho tem uma personalidade própria. Cleo, desde criança, é a mais independente. Já Antônia é geniosa, e Ana, pavio curto, embora também seja a que adora cuidar da família. Hoje em dia, reunir todos é quase uma operação de guerra. Orlando está sempre viajando com o grupo Rivière Noire.
Cleo, no momento, se divide entre São Paulo e as filmagens de um longa no sul do país, e Antônia anda envolvida com as gravações da novela Rock Story (na qual vive a DJ Manu).
“Não abrimos mão de estar juntos em datas festivas e aniversários. No dia a dia, gostamos de ficar em casa, curtindo a piscina, assistindo a um filme ou jogando sinuca. E tudo sempre acaba em música, é claro”, diz Gloria, que manteve um quarto para as filhas mais velhas na casa nova que construiu, na Barra da Tijuca, no Rio.
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“A saída da Cleo foi aos poucos, mas, desde que ela era pequena, sabia que seria do mundo. Já a mudança da Antônia foi um baque. Ela dizia que nunca sairia de perto, que, se casasse, moraria com o marido junto com a gente”, diverte-se.
Com pais artistas, não é de espantar que os filhos tenham herdado alguma vocação. Cleo e Antônia estão seguindo os passos da mãe. Ana, que toca piano e violino muito bem, pensa em ser cantora. Bento já cogitou ser mágico, agora quer ser empresário. “Não sou o tipo de mãe que impõe. Meu conselho é que escolham algo que dê prazer, porque ir atrás disso será mais fácil.”
Com filhos tão independentes e bem resolvidos, é raro que algum deles venha pedir conselhos ou discutir sobre projetos com Gloria. Aliás, não é difícil que justamente ela seja a última a saber do que acontece.
Por exemplo: só descobriu que Cleo tinha se tornado atriz em 2003, quando a filha já estava filmando o primeiro longa, Benjamim, baseado no livro de Chico Buarque. Antônia gravou o álbum Milagros, em 2014, com músicas de hip hop que compôs sozinha. Gloria só viu o disco pronto. “Também sou assim: primeiro analiso e vejo no que vai dar. Já o Orlando é o oposto, conta tudo para todo mundo logo de cara”, diz ela.
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Apesar de se declarar discreta e introspectiva, Gloria tem gostado cada vez mais de dividir suas reflexões pessoais na internet. Ela tem um site, o Bemglô, no qual publica conselhos, dicas sobre estilo, beleza e cultura, registros de viagens, sugestões sobre casa e família e vende produtos variados (como artigos para cachorro e móveis).
A atriz também abastece sua conta no Instagram todos os dias. “Internet é uma faca de vários gumes. É uma ferramenta maravilhosa se essa não for a sua única forma de se relacionar com o mundo. Nada substitui o toque, o olho no olho. Converso muito sobre isso com meus filhos e compartilho pesquisas sobre o assunto. Também digo para tomarem cuidado com o que postam porque não são jovens desconhecidos. E que, se tiverem algum problema, que venham falar com o pai e comigo”, diz.
Mesmo com idade e personalidade diferentes, Cleo, Antônia, Ana e Bento veem na mãe um porto seguro. E ela neles. “Não somos uma família perfeita. Somos reais, temos problemas e defeitos. A diferença é que estamos abertos para dar apoio e amamos uns aos outros. Isso é maravilhoso.”