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Globo de Ouro 2020: discursos de vencedoras são os melhores da noite

Em uma noite morna e com poucas surpresas, Patricia Arquette e Michelle Williams mais uma vez brilham no agradecimento

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 21 set 2020, 09h59 - Publicado em 6 jan 2020, 02h54
Ricky Gervais apresentou mais uma vez o Golden Globe Awards, para pavor das celebridades na festa  (Paul Drinkwater/NBCUniversal Media, LLC/Getty Images)
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A tensão estava no ar desde o início. Com a apresentação de Ricky Gervais, o 77º Golden Globes Awards foi uma festa longa (3 horas de duração), algumas (poucas) surpresas e muito sorriso congelado nos rostos das estrelas.

“Vou fazer o que sempre faço: falar coisas horríveis na cara das pessoas”, avisou o apresentador quando chegou ao tapete vermelho.  Com o famoso copo de cerveja em mãos, Gervais cumpriu  a promessa e foi grosseiro com todo mundo: os indicados, a premiação, os estúdios… não sobrou ninguém, nem os mortos. Esse ano a tradicional homenagem aos falecidos foi suspensa e Gervais não perdeu tempo: “Não tinha diversidade suficiente e mandei cancelar”, alfinetou em uma referência à crítica por nenhuma mulher ser indicada na categoria de Melhor Direção e ter poucos artistas negros nas categorias de atores.  Ele também não poupou os filmes de super-heróis. “Cinema hoje parece parque temático”, criticou com o apoio de Martin Scorcese na primeira fila.

Os discursos, como esperado, quando quiseram entrar na política foram direto para a questão das queimadas na Austrália. Russell Crowe, ausente na festa, deixou um recado lido por uma nervosa Jenniffer Aniston. “Não se enganem, a tragédia desenrolando na Austrália é uma consequência das mudanças climáticas. Nós precisamos agir baseados na ciência, avançar nossas forças de trabalho para energia reciclável e respeitar nosso planeta pelo lugar único e maravilhoso que é. Assim nós todos teremos um futuro”, ele escreveu.

A festa seguiu previsível, com Gervais cutucando a hipocrisia das celebridades até que a comediante Kate McKinnon mudou a tecla e fez um discurso emocionante de apresentação a Ellen DeGeneres, vencedora do Carol Burnett Award. “Em 1997, quando o sitcom de Ellen estava no auge de seu sucesso, eu estava no porão da casa da minha mãe levantando peso em frente ao espelho me perguntando: “Será que sou gay?”. E eu era, ainda sou”, ela declarou com lágrimas nos olhos. “Mas é algo apavorante de de repente descobrir isso sobre você mesma. É como estivesse completando 23 anos e descobrindo que tenho um DNA de alienígena. E a única coisa menos apavorante era ver Ellen na TV.  Se não a visse na TV eu teria pensado ‘eu nunca poderei estar na TV. Eles não aceitam pessoas LGBTS na TV’. Pior ainda, eu seguiria pensando que eu era uma alienígena e que eu talvez não tivesse o direito de estar aqui. Então obrigada Ellen, por ter me dado uma chance de uma vida boa”, encerrou.

Ellen DeGeneres
Ellen DeGeneres aceita o Carol Burnett Award entregue pela comediante Kate McKinnon (Paul Drinkwater/NBCUniversal Media, LLC/Getty Images)

Foi difícil para Ellen, mesmo com texto brilhante, superar essa apresentação. Não conseguiu nem fez esforço. “Tudo o que sempre quis foi fazer as pessoas felizes e rirem. Agradeço à TV por ter conseguido”, disse Ellen.

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Laura Dern, aguardada para subir ao palco por A História de Um Casamento preferiu defender os novos conceitos de casamentos, separações e famílias Segundo ela, o filme conta a “história de uma família descobrindo um caminho para seu filho” e também “tendo uma visão global do que é divisão e como todos devemos nos unir para salvar algo maior. Talvez o Planeta, inclusive”, ela disse.

Phoebe Waller-Bridge preferiu um tom mais leve agradecendo ao ex-presidente Barak Obama por ter mencionado Fleabag como uma de suas séries preferidas. “Quem me conhece sabe que ele sempre esteve na minha lista”, brincou.

As duas outras vencedoras previstas, assim como Waller-Bridge, foram Patricia Arquette e Michelle WIlliams, e assim como nos Emmys as duas optaram por aproveitar o momento no palco para alertar sobre causas importantes.

Patricia Arquette
Patricia Arquette mais uma vez brilha com discurso politizado em uma premiação (Paul Drinkwater/NBCUniversal Media, LLC/Getty Images)
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“Sou grata por estar aqui e celebrar mas sei que hoje, 5 de janeiro de 2020, não vamos olhar para trás nessa data. Nos livros da História veremos um país à beira de uma guerra. Os Estados Unidos da América, um Presidente tuitando sobre a ameaça de 52 bombas incluindo sítios culturais. Jovens arriscando suas vidas e viajando através do mundo. Pessoas sem saber se as bombas vão cair em cima de seus filhos e o continente da Austrália em fogo”, ela disse emocionada.  “Por isso por mais que ame meus filhos, eu imploro a todos a dar a eles um mundo melhor. Por nossos filhos e que os filhos deles, nós temos que votar em 2020 e nós temos que ter, eu imploro e peço a todos que conhecemos que votem em 2020”.

Williams seguiu na mesma linha.

Michelle Williams
Michelle Williams pediu às mulheres para votar e mudar o mundo (Kevin Winter/Getty Images)

“Eu tentei fazer o meu melhor para viver minha vida como quis e não como uma série de eventos que aconteceram para mim. Uma vida onde poderia olhar para trás e ver a minha escrita, algumas vezes rabiscada e outras precisa e cuidadosa. Escrita por mim. E não poderia ter essa vida sem usar o poder de escolha de uma mulher”, ela disse. “Poder escolher ter meus filhos e com quem. Minhas escolhas podem parecer diferentes das suas, mas agradeço a Deus, ou para quem quer que você reze, que nós vivemos em um país fundado no princípio de que sou livre para viver de acordo com a minha fé ou que você é livre para viver a sua. Então, mulheres de 18 ou 118, quando for a hora de votar façam isso pensando em vocês apenas. É o que os homens têm feito há anos e a razão pelo qual o mundo é como eles são, mas não se esqueça que somos maioria nos votos nesse país. Vamos fazer com que o país se pareça mais como a gente”, encerrou.

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Brad Pitt
Brad Pitt fez referência à polícia sobre sua vida amorosa com uma piada sobre a mãe dele (Paul Drinkwater/NBCUniversal Media, LLC/Getty Images)

Brad Pitt, o garoto na categoria de Melhor Ator Coadjuvante aos 56 anos, venceu – como esperado – e fez uma das raras piadas da noite. “Eu queria que minha mãe tivesse me acompanhado hoje, mas toda mulher que aparece do meu lado dizem que estou namorando então achei que ficaria esquisito”, riu saindo do palco. Não ajudou muito a câmera nada sutilmente buscar a reação de Jenniffer Aniston, que estava rindo da gracinha do ex-marido.

Sam Mendes, que venceu como Diretor e Filme Drama (1917), foi tímido em sua menção política sobre os perigos de guerra. Joaquin Phoenix, arrasador em Coringa, tentou falar sobre meio-ambiente mas não foi conclusivo e a orquestra o calou justamente quando criticava as celebridades presentes por voarem em jatos particulares. Renée Zellwegger foi recebida com um frio  e cortante silêncio durante seu agradecimento e também foi interrompida pela música justamente quando tentava homenagear Judy Garland, que a rendeu o prêmio de Melhor Atriz Drama.

A essa altura Gervais assustava menos a platéia e quando voltou para o último prêmio, apresentado por uma estonteante Sandra Bullock, ninguém estava ouvindo.  Quando acabou, mandou todos irem embora e grosseiramente… bem, a gente já sabe. Espero que até o Oscar alguns discursos já tenham sido ajustados.

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