Fabio Assunção: “É um tempo de maturidade. Antigamente, eu não saboreava a vida”
No ano em que completa um quarto de século na televisão, o ator se despede de Tapas & Beijos e se prepara para voltar às novelas. Ele se divide ainda entre os papéis de diretor de teatro, pai (de Ella Felipa e João) e ex-marido (de duas mulheres)
“Acabei de vir do balé”, contou o ator Fabio Assunção à beira do palco do teatro Viga Espaço Cênico, em São Paulo, onde, dali a alguns dias, estrearia a peça Dias de Vinho e Rosas – que fica em cartaz na capital paulista até o fim de junho -, sua segunda incursão como diretor de teatro. “Não, não! Eu não danço. Dançar não é para mim. Fui assistir à aula da Ella Felipa.” A caçula, que completa 4 anos neste mês, sua única filha com a publicitária e fotógrafa Karina Tavares (segunda ex-mulher do ator), põe, sim, o pai para dançar. Miudinho. “Ela adora me dar ordem. Coloca música para tocar e fala: ‘Agora, você é o príncipe’. Outro dia perguntou: ‘Vamos brincar de papai e filhinha?’ Eu respondi: ‘Claro, filhinha’. E ela me interrompeu: ‘Não! Eu sou o pai, você é a filhinha’. Ela me dá cada nó. E aí é um monte de fivela, maquiagem, capa, roupa de princesa…”
Embora o relacionamento de quase dez anos com Karina tenha terminado em 2013, o ator faz o possível para passar um tempo com a filha. E com o mais velho, João, 12 anos, do casamento com a empresária Priscila Borgonovi. “O que eu mais gosto de fazer com eles é sair. Levar para viajar, para passear, ir ao teatro, a exposições, shows. Eu sou mais de externa, de fazer coisas. Já colocar para dormir, por exemplo, não curto. Dá um pouco de ansiedade – não gosto de colocar nem a mim mesmo para dormir, imagina outra pessoa.” Todo ano, ele e João embarcam em alguma aventura. Já foram para a Europa, para a África do Sul, para a República Dominicana (onde fizeram um curso de mergulho). “Quero mostrar outras culturas para ele. Na África, além de safári, fizemos todo o circuito Mandela. Visitamos Soweto, Pretória. Acho importante dar essas oportunidades aos meus filhos.”
Uma das jornadas mais instigantes, na verdade, foi filmarem juntos A Magia do Mundo Quebrado, de José Eduardo Belmonte. No longa, que tem estreia prevista para agosto, Fabio e João vivem pai e filho que, durante uma viagem de carro, acabam pegando carona em um motor home com quatro operadoras de telemarketing (entre elas Ingrid Guimarães e Alice Braga). “Fiquei impressionado com a tranquilidade do João com o texto. Ele decorava tudo sozinho. Quando íamos bater os diálogos, sabia na ponta da língua. E ele era um protagonista; portanto, não tinha só ceninha, não. João foi, fez, curtiu, se dedicou, se divertiu, mas acabou o assunto. Ele é muito maduro. Com a mesma idade, eu era muito mais ansioso. Comecei a fazer piano com 9, guitarra com 12 e teatro com 15. Na televisão, entrei com 19.”
Em 2015, Fabio completa 25 anos na TV. Seu primeiro papel foi o herdeiro Marco Antônio Venturini, em Meu Bem, Meu Mal, de 1990. Depois se seguiram Rei do Gado (no ar em Vale a Pena Ver de Novo), Os Maias, Celebridade, Dalva e Herivelto, além de outros sucessos. O próximo, ele adianta, será na novela das 19 horas, Totalmente Demais (título provisório), sucessora de I Love Paraisópolis, que deve estrear em novembro na Globo. Nela, o paulistano viverá um empresário responsável por transformar a protagonista, interpretada pela atriz Marina Ruy Barbosa, em uma modelo famosa. Esse será o retorno de Assunção às novelas desde que abandonou as gravações de Negócio da China, em 2008, para se tratar do vício em drogas. “Não falo sobre esse assunto”, avisa sem piscar.
Da fama de mal, porém, ele conta sem rodeios sobre os estragos nos corações femininos. “Maltratei tanto as mulheres que fico com pena da minha filha. Se fizerem com ela o que eu fiz… Mas isso não vai acontecer, até porque a Ella Felipa só vai namorar depois dos 30”, brinca e, na sequência, se retrata afirmando que adora a presença feminina. “Mas prefiro trocar ideia com os homens, que são muito mais diretos. Faço reunião de produção com o Edinho Rodrigues em cinco minutos e decidimos a semana toda. Vocês enrolam muito. Já andei pensando que vou ter que abrir uma empresa só de administração de ex-mulheres”, sorri ele, que garante estar solteiro no momento – “e curtindo muito”.
Enquanto a novela não começa, Fabio se dedica à última temporada da série Tapas & Beijos, em que faz Jorge, o dono de uma boate, e contracena com atores de peso, como Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Vladimir Brichta. “A gente se diverte tanto nas gravações que viramos amigos”, conta ele. Aí, é acompanhado por Brichta, seu parceiro e colega de cena: “Fabio, o maior galã de nossa geração, conseguiu um feito que não é pouco. Cedo provou ser muito talentoso, colocando por terra a ideia de que beleza pudesse atrapalhar o reconhecimento do talento. Ele é muito bonito e muito talentoso. E muito divertido. Tanto que pra mim ele é Flábio e pra ele sou Vadelemir, levando o compromisso com a bobagem ao estágio máximo, sempre em busca de mais um sorriso que fortaleça os laços dessa efêmera família”, escreveu Brichta sobre o amigo especialmente para CLAUDIA. Vladimir é casado com Adriana Esteves, amiga de longa data de Assunção e madrinha de João, o mais velho do ator. “Acho que já está na hora de a série acabar, mesmo fazendo sucesso. O tema de Tapas… são os casais, e a gente já fez todas as trocas possíveis. Fora que eu já virei avô! O momento de sair é este. Deixa eu fazer uma novela com uma garota de 30, voltar à boa forma de galã.”
Da forma, aliás, ele conta estar cuidando, sem paranoia. Faz pilates e musculação, mas também toma seu vinho e come seu chocolate. “Nunca fui escravo da aparência. Sempre olhei para o Tony Ramos, que é brilhante, e não é seco. Não gosto dessa preocupação exacerbada com a imagem. Essa é uma profissão que tem muito mais possibilidades do que só o galã. Só que, agora que vou voltar a fazer novela, quero estar bem bonito”, avisa o ator, que vem tomando cuidado com cada passo da carreira.
No teatro, Dias de Vinho e Rosas, com Daniel Alvim e Carolina Mânica, foi uma escolha criteriosa. O texto original é do americano James Pinckney Miller, e a adaptação para o teatro é de Owen McCafferty – em 1962, ela inspirou o filme Vício Maldito, com Jack Lemmon. Quem levou o texto a Assunção foi Carolina. “De cara, pensei no Fabio. E foi uma decisão muito acertada. É muito legal ser dirigido por outro ator. O entendimento na construção é outro. Além disso, um novo diretor, como ele, se dá mais liberdade de ousar, justamente por não ter obrigação de seguir uma linha”, diz a atriz. Na história, que se passa nos anos 1960, um homem e uma mulher que se conhecem no aeroporto de Belfast, na Irlanda do Norte, indo para Londres, acabam tendo uma vida juntos. Ele trabalha com corrida de cavalos e bebe muito. Então, aos poucos eles vão criando uma relação a três com o álcool. “É a história da impossibilidade desse amor. E o grande desafio de dirigi-la é conseguir não julgar os personagens. Acho que cada um de nós passa por coisas parecidas na vida – se não nessa área, em outra -, faz parte da discussão de todo mundo, não precisamos dar a nossa opinião moral em relação a isso. Eu não julgo ninguém.”
Nesses anos todos de estrada, Fabio acredita que ganhou muito em tranquilidade. “É um tempo de maturidade. Antigamente, eu não saboreava a vida. Eu gravava pensando no evento que teria depois. Eu ficava no evento pensando na peça que ia fazer. E, na peça, eu estava com a cabeça sei lá onde. Hoje, me acalmei, curto um passo de cada vez, um filho de cada vez, um trabalho de cada vez.” E, para os próximos 25 anos, o que ele quer se já fez minissérie, cinema, teatro, novela, cinema? “Fazer tudo isso melhor.” Bom para nós.