Denise Stoklos comemora 50 anos de carreira
Dramaturga, cientista social e jornalista, Denise Stoklos dirige, atua e escreve as próprias peças. Tanto talento resulta em gloriosos 50 anos de estrada
Fui recebida já na porta do elevador por uma Denise Stoklos de sorriso largo e abraço carinhoso. Enquanto me conduzia a um dos sofás de sua casa – um loft no bairro paulistano de Vila Madalena, sem paredes entre os cômodos, com o ar entrando pelas enormes janelas de vidro –, compreendi que o lugar reflete a personalidade da dona. Expansivos, ambos têm a capacidade de fazer você se sentir confortável imediatamente.
Aos 67 anos, divorciada, mãe de Thais e Piatã, com 27 espetáculos e dois prêmios, está celebrando 50 anos de carreira como dramaturga e atriz. O espírito do teatro a arrebatou cedo, quando ainda morava em Irati (PR). Ela se lembra dos pais indo às peças da diva e comediante Dercy Gonçalves. “Minha mãe era uma verdadeira performer contando as histórias divertidas da família”, recorda, rindo.
Aos 18 anos, Denise, então estudante de ciências sociais e jornalismo, subiu ao palco em Curitiba, dirigiu e interpretou Círculo na Lua, Lama na Rua. “É um ditado para reforçar que qualquer ação tem consequências”, diz. “Vivíamos sob a ditadura militar, e o AI-5 tinha acabado de ser decretado, endurecendo ainda mais o regime. Eu quis me posicionar.” Na plateia, estava o diretor paranaense Oraci Gemba, que levou Denise para seu grupo. Deslanchou na via cênica e encerrou a carreira de jornalista por não gostar de rotina. “Tinha horário justo para entrar, sair… E minhas ideias eram grandiloquentes demais para aquele trabalho”, explica.
Denise colocou toda a energia no desenvolvimento de um método de dramaturgia, o teatro essencial, que adota o mínimo de efeitos e objetos em cena, deixando espaço para o ator usar seu corpo e sua voz na mais alta potência. “Queremos experimentar tudo, e não só esperar a hora de entrar no palco para dizer poucas coisas”, define.
Ganhou rapidamente a plateia com a intensidade de seus gestos largos e enfáticos e, em 1987, foi citada no The New York Times ao levar Mary Stuart para uma temporada em Nova York. “Com vontade de disseminar o processo, criei o primeiro curso online de teatro essencial”, conta. “O ator pode, ao mesmo tempo, dirigir, atuar e coordenar.”
Na Band, em 1982, interpretou uma governanta revolucionária na novela Ninho da Serpente. “De dia, ela servia os patrões; à noite, pintava quadros. A personagem tinha a ver comigo; era crítica. Mas eu não me encaixava no ritmo da TV. O ator pode tentar de tudo, só não deve esquecer de voltar ao palco”, afirma. Sorte do Brasil que tem Denise cada vez mais vigorosa e expressiva em cena. Ela reinará absoluta até o dia 20 deste mês no tablado do Sesc Consolação, em São Paulo, com “Denise Stoklos em Extinção”.
O texto, baseado no livro de Thomas Bernhard, fala sobre eliminar o que é velho para que o novo possa surgir. “Quero mostrar que precisamos quebrar padrões. A começar pelo machismo”, aponta. “Sofri em alguns momentos. Ouvi de homens de teatro frases desanimadoras, que tentavam diminuir meu esforço. Mulheres têm que se unir e lutar contra isso.”
A artista não pensa em aposentadoria e vai até intensificar a jornada. Estreará este ano o Festival Internacional Denise Stoklos de Solo Performance. A primeira edição será em Irati, com workshops, palestras e espetáculos gratuitos. “Quando saí de lá, nem teatro tinha. Quero dividir com a cidade, que representa minha origem, a essência do ator, essa coisa de levar ao espectador algo que ele já conhece e que pertence à sua natureza.”
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