Christine Fernandes brinca: “Se Deus me desse uma filha mulher, eu estava ferrada”

Em pleno 17º Festival de Cinema Brasileiro de Miami, Estados Unidos, em agosto, Christine Fernandes, 45 anos, circulava pelas ruas da cidade carregando uma encomenda do filho, Pedro, 9: um skate. Não precisou muito tempo para colocá-lo no chão e andar na prancha com rodinhas, “linda, loira e japonesa”, como ela mesma descreve. Ousada, de repente, não consegue parar e vai para o chão. “Levei um estabaco!”, disse às gargalhadas. O skate vai parar dentro de um restaurante e todo mundo olha para ela em estado de choque. “Fiquei bem, não foi nada grave”, disse às gargalhadas minutos antes de montar no skate novamente e rumar para o hotel. No caminho, ela parou em uma farmácia, comprou uma atadura e tudo bem, novinha em folha. Toda essa naturalidade faz sentido: a atriz morou ali por seis anos. Mas Christine morou em uma outra Miami, entre 1988 e 1994, dividindo um apartamento com um namorado canadense.

A gringa Christine

Para quem não se lembra, ela nasceu em Chicago, Illinois, veio para o Brasil com 3 anos de idade e tem uma ligação muito forte com os Estados Unidos. Da casa em Miami, em South Beach, sente falta e fala dela com saudade. “Toda vez que venho aqui, passo em frente, dou uma olhada. Lembro bem dos meus vizinhos, que cuidaram da casa uma vez, quando passou um furacão na cidade”, diz. Foi um vai e vem sem parar entre os Estados Unidos e o Brasil. Quando voltou para lá, adolescente, fez o ensino médio (High School) na Califórnia, em San José. Ganhou bolsa para faculdade em Santa Mônica, graças a seus dotes como jogadora de vôlei, mas preferiu mais uma vez voltar e modelar no Brasil. Depois foi a vez de morar na Flórida, como modelo. “Mas também estudei broadcasting”, diz, mencionando os estudos em telejornalismo.

O que a fez voltar de vez para o Brasil e para a carreira de atriz foi a falta de vida cultural, na época, em Miami. “Quando vi que tinha viajado oito vezes para o Brasil em um ano, percebi que aquilo não era normal e precisava voltar. Não estava mais feliz nos Estados Unidos. Fui embora em 4 julho de 1994. Eu peguei um voo, dei tchau e vendi minhas coisas todas. Tinha aspirações artísticas que a Miami daquela época não atendia. Fico feliz de ver que isso mudou”, comemora em sua nova visita à cidade. “Eu não conhecia nada disso. Estou apaixonada pelo Wynwood Art District”, afirma, citando o bairro ocupado pela arte desde o começo dos anos 2000, com suas mais de 70 galerias, museus e coleções, na 25 Street.

Christiane fez questão de fazer as fotos de CONTIGO! em frente aos imaginativos muros de velhos armazéns grafitados do Wynwood Walls, na NW Second Avenue, que começou com 12 muros e hoje conta com várias pinturas, incluindo de brasileiros, como OsGemeos e Nunca, com visitação gratuita. “A Miami em que morei era um lugar onde as pessoas se aposentavam. Tinha uma comunidade judaica de terceira idade muito forte. Era um clima de cidadezinha do interior, não tinha muito o que fazer. Eu modelava, estudava, trabalhava, ia aos poucos cinemas que tinha, que nem eram do meu gosto, porque detesto blockbuster. Depois andava de patins, ia à praia, fazia atividades físicas, essas coisas”, relembra.

Em frente à casa em que morava em Miami
Foto: Rogério Pallatta

Filho esportista

Hoje, as visitas a Miami são, de certa forma, constantes. “Geralmente é um local de passagem. Quando estou indo para algum lugar por perto, faço conexão aqui. Em janeiro, por exemplo, fui com o Pedro e meu marido (Floriano Peixoto, 53) para as Bahamas e parei aqui. Virou esse lugar de passagem, muito gostoso, muito familiar”, explica. Embora desta vez não tenha levado Pedro para Miami, Christine é o tipo de mãe que acompanha o filho em tudo. Com Floriano ao lado, o casal levou o menino para Estoril, em Portugal, em julho deste ano, onde ele participou de um campeonato de futebol. “Ele foi campeão invicto do Ibercup, na categoria sub-10. São 56 times. Jogaram contra o Sporting, Benfica (times tradicionais de Portugal), Atlético de Madrid… Saiu de lá amarradão. Foi tipo uma Copa do Mundo. Ele é atacante, canhoto. O moleque é craque!”, gaba-se a mamãe.

A veia esportiva vem de família. Christine joga vôlei até hoje duas vezes na semana e, nos fins de semana, a brincadeira preferida com o filho é bater uma bolinha no clube ou na praia. “Sou completamente menino. Se Deus me desse uma filha mulher, eu estava ferrada. Só comprei meu primeiro batom com 18 anos. Não tinha nada. Jogava vôlei e aquilo não fazia parte das minhas posses”, brinca. Por causa das partidas de vôlei, até hoje, quando Christine Fernandes vai à praia no Rio, ela é uma das mais visadas pelos fotógrafos. “Não tem milagre para manter o corpo. Tem de fazer atividade física. As pessoas me veem na praia, mas também me veem correndo na areia, ralando. Eu gosto de comer, não tem o que fazer, tem de gastar”, explica a atriz.

Christine mostrou lugares que marcaram sua vida em Miami
Foto: Rogério Pallatta

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Talento na cozinha

Christine vai ter de intensificar a rotina de exercício. Depois que participou do quadro Super Chef, do programa Mais Você, da TV Globo, a atriz descobriu seu talento no fogão. “Cozinha era um lugar quase refratário para mim. Mas o Boninho (diretor do quadro, 52) me disse que era muito legal e topei. Gente, eu me descobri totalmente na cozinha! Minha mala voltou cheia de utensílios. Adorei. Fico uma pessoa completamente zen, prestando atenção no momento presente, total meditativa”, conta. “Claro que eu já cozinhava alguma coisa, porque quem mora sozinha desde os 16 anos aprende a se alimentar. Mas agora tenho ambições culinárias”, diverte-se. Fora o quadro no programa da Ana Maria Braga e uma participação em Cheias de Charme (2012), o último trabalho da atriz foi na novela Viver a Vida (2011). A atriz não se importa de estar tão longe das câmeras e pensa em projetos paralelos. “Eu adoro fazer novela, mas tem de rolar uma personagem que me desafie, porque você faz durante um ano inteiro. E não me apaixonei por nenhuma ultimamente. Agora vem a novela do Manoel Carlos, Em Família (prevista para ir ao ar em janeiro), que geralmente faço e adoraria participar, por ser a última dele. Mas ainda não tenho certeza, estamos em negociação”, conta.

Mil projetos

Christine não está preocupada com isso por enquanto. Seu foco agora é a viagem que fará este mês para Barcelona, Espanha, onde vai gravar o piloto de um novo programa, que pretende exibir na Globo. “É sobre cultura, comportamento e viagem. A cada temporada, mostraríamos 12 cidades. Vamos compará-las mostrando o que funciona por lá, o que não funciona no Brasil e o olhar brasileiro sobre uma outra cultura. Ainda não sei a grade, mas pode virar mil coisas, um quadro, um programa”, vibra. “Comprei uma câmera Canon 5D, estou cheia de imaginação e agora ninguém me segura!”, emenda. “Também quero fazer um documentário sobre a hierarquia e as mulheres no Nepal e ainda penso em um filme sobre as torcidas de futebol”, adianta a atriz.

ESTA ENTREVISTA FAZ PARTE DA EDIÇÃO 1983 DA REVISTA CONTIGO!, NAS BANCAS A PARTIR DE 19/09/2013.

A atriz viaja este mês para a Espanha
Foto: Rogério Pallatta