A revolução de Angélica: novo programa, saída da Globo e menopausa precoce
No comando de um novo talk show e com planos para voltar a atuar, Angélica procura desafios dignos de sua evolução e maturidade – na tela e na vida pessoal
No comando de um novo talk show e com planos para voltar a atuar, Angélica procura desafios dignos de sua evolução e maturidade – na tela e na vida pessoal. Em casa, encontra conforto e curiosidade na mistura de personalidades entre o marido e os filhos, com quem gosta de trocar aprendizados. O que importa para ela, no fim, é fazer tudo isso com leveza
otivação é uma das palavras que norteiam aqueles nascidos sob o signo de Sagitário, assim como liberdade, indispensável para os regidos por Júpiter. As duas características descrevem perfeitamente a personalidade da apresentadora Angélica, segundo ela mesma. Ela só adicionaria leveza para fechar o time.
“Sou a animação em pessoa, não me preocupo tanto com coisas, sabe? Se estiver um fio solto ou algum detalhe fora do lugar, não ligo. Dizem que existe um lado inconsequente dos sagitarianos, mas acho que, por eu ter começado a trabalhar tão cedo, com 4 anos, desenvolvi muita responsabilidade. Sou bem pé no chão”, reflete ela, que, aos 48 anos recém-completados, passa a comandar o programa Jornada Astral.
O talk show astrológico foi produzido para o serviço de streaming HBO Max, marcando o fim do contrato de exclusividade de Angélica com a Rede Globo, emissora em que trabalhou por 24 anos. “Quando a Conspiração Filmes, que criou o projeto, me apresentou a proposta, querendo saber o que achava do tema, eu adorei, porque sou a louca dos signos”, brinca ela, que faz regularmente seu mapa astral e tem os dos filhos, o pisciano Joaquim, 16; o escorpiano Benício, 14; e a libriana Eva, 9, todos da união de 17 anos com o apresentador Luciano Huck, 50, virginiano.
A possibilidade surgiu num momento oportuno. A maturidade aflorou a vontade de experimentar, de fazer uma coisa nova e bastante característica. “Estou entrando em uma nova fase da minha vida, com um projeto que é a minha cara e que tem uma energia maravilhosa. Depois da menopausa, que, para mim, foi precoce, procurei fazer uma jornada interna, entendendo que havia chegado a hora de buscar novos desafios, sem medo de arriscar”, pontua.
O programa, que também tem os astrólogos e influenciadores Vitor diCastro e Paula Pires, promete levar convidados por uma trilha do autoconhecimento no passado, presente e futuro. Por acaso, nos bastidores dessa sessão de fotos, Angélica pegou uma edição de CLAUDIA de 2013 e admite que bateu uma gostosa nostalgia. “A história que construí é linda, repleta de momentos incríveis, episódios maravilhosos que tenho orgulho de contar. Olhar fotos antigas me faz relembrar o que estava acontecendo na minha vida naquele momento. E, com isso, procuro valorizar o agora.”
São mais de 40 anos de carreira e uma trajetória com tantas realizações e fases. Qual o balanço que você faz até aqui?
Durante a sessão de fotos, estava conversando com a equipe, que é jovem, e vários deles falaram que me assistiram interpretando a Fada Bela, no Caça Talentos. Eles disseram que eu faço parte da história deles e isso é muito gratificante para mim. Quando você é uma figura pública há tanto tempo, acaba criando uma certa intimidade com as pessoas. As pessoas não sabem o quanto eu valorizo esse carinho. É muito especial saber que você faz parte da memória afetiva de alguém. Aliás, fazer parte da memória afetiva de milhões de pessoas, energeticamente, é incrível. Eu me sinto muito protegida pelas pessoas, pelo amor delas.
Para além desse lado gratificante, tem um peso em ser uma pessoa pública?
Como eu comecei muito nova, aos 4 anos, esse peso nunca existiu. Na verdade, ele foi se dissolvendo, aprendi enquanto trabalhava – coisas valiosas –, às vezes com sofrimento, outras com alegrias. O sucesso e a exposição podem trazer pressão, cobrança do público, da imprensa, de pessoas que não conhecem você; há uma invasão, eu diria. Hoje, vejo que fui me adaptando à questão da figura pública e tento, ao máximo, levar a minha vida profissional e pessoal da forma mais leve possível.
Isso é bem sagitariano! Aliás, como o novo programa impactou a sua relação com astrologia?
Essa questão da leveza e da liberdade é muito presente na minha vida. Porém, acho que vai além. Não ligar para determinadas questões do meu trabalho ou do lado pessoal foi um aprendizado que veio com a maturidade. Uma hora você está fazendo sucesso e, em outra, não está mais. Uma hora estão elogiando, outra hora, não. O que importa é você estar feliz naquele momento, com a família ao seu lado. É claro que todo artista tem sua vaidade aflorada. É um desafio diário para não cair nas armadilhas do ego e ainda se manter fiel a sua essência.
“O estigma da menopausa é absurdo, porque é justamente nesse período que você está mais produtiva, empolgada com a vida, os filhos estão crescidos e você se entende mais”
Você tocou em um assunto delicado e que está em alta agora, que é maturidade feminina. Sendo uma figura pública, você acha que se cobrou mais, em algum momento, em relação ao envelhecer, à manutenção do corpo, dos padrões estéticos?
Para mim, com a maturidade, a gente vai ficando mais leve, dando valor às coisas que são importantes e fica mais fácil amenizar o ego do artista. Na minha juventude, o lance da beleza, da parte física… Eu fui muito cobrada. E adolescente já se cobra muito. Quando olho o que passou, acho que vivi da melhor maneira possível. Todavia, fiz muitas besteiras, como regimes malucos, dietas enlouquecedoras, era a doida da academia.
Não fiz plástica porque, na minha época, não tinha isso, não era normal uma adolescente se submeter a um procedimento. Mas se a tecnologia de hoje existisse, não sei se eu teria feito. Atualmente, tudo é muito pior. Por isso, eu agradeço à maturidade, pois, com ela, entendo meu corpo e minha pele de outra forma, algo bem difícil quando você é jovem.
Por que acha que nós, mulheres, ainda temos medo da idade, da velhice?
Acho que enxergar o envelhecimento como algo ruim é uma visão que está ficando cada vez mais para trás. Nós tivemos muitos avanços. Em primeiro lugar, é um orgulho estar vivendo e trabalhando tanto com saúde. A pandemia me trouxe grandes reflexões sobre o tempo. Não importa um cabelo branco aqui ou uma ruga ali. São coisas naturais da vida de uma mulher. Eu não troco os meus 48 anos pelos meus 28 anos, por exemplo. Foi ótimo? Foi.
Mas hoje me sinto segura, tenho uma família incrível, histórias para contar. Esses 20 anos me trouxeram aprendizados, conquistas, sofrimentos e alegrias. Precisamos valorizar mais o aprendizado da pessoa mais velha. Eu aprendo muito com os jovens, meus filhos me ensinam, mas a sabedoria do mais velho é especial. A gente não pode deixar isso de lado. Eu adoro quando uma pessoa de idade avançada comenta do meu trabalho. Paro e ouço com atenção. Nosso país não valoriza os idosos e toda a bagagem que eles carregam. Muitas empresas descartam os mais velhos e sua maturidade.
O “descarte” é ainda maior quando se é mulher…
Há um embate entre a maturidade feminina e a ditadura da beleza, de que temos que ser assim ou assado, que precisamos estar jovens para sermos amadas, valorizadas. Isso vem do machismo, da ideia de que o homem quer uma mulher nova. Porém, uma mulher não pode namorar um homem mais novo, se não fica mal falada. Parece que somos um produto, que é usado e, depois, jogado fora. Isso acontece, em especial, quando a mulher entra na menopausa. Esse estigma é um absurdo, porque é justamente nesse período que você está mais produtiva, empolgada com a vida, querendo trabalhar, os filhos já estão crescidos e você se entende muito mais.
“Não fiz plástica na adolescência porque na época não tinha isso, mas não sei como seria se tivesse a tecnologia de hoje”
O padrão de beleza reforça essa ideia, exigindo uma juventude eterna…
Não podemos colocar a mulher apenas como uma figura reprodutiva, que precisa estar linda, impecável, não pode mais falar idade e deve se comportar de certa maneira. Após a menopausa, a vida continua e evolui. Com o passar do tempo e o aumento do diálogo pelas redes sociais, percebo avanços significativos nesse “sistema”. Estamos tocando intensamente nesse assunto e acho que as mulheres estão se sentindo mais livres para ser quem são, na idade em que estão. Quando você se sente bem, se expressa como quer e todo o seu entorno também fica bem.
Como foi pra você a menopausa?
Chegou precocemente. Aos 43 anos, comecei a ter sinais, assim como a minha mãe e como a minha irmã. Alguns sintomas apareceram, mas fui levando, por falta de informação e por não querer tomar remédios. Demorei a entender a menopausa precoce e me cuidar, iniciar o tratamento de reposição hormonal – essa lentidão eu considero um erro. A notícia da menopausa em si não foi ruim, aos 45 anos, mas os sintomas, como o calor, insônia e alteração de humor, foram. Estava mal informada. Só com informação vamos combater o estigma sobre essa fase natural do corpo da mulher. Depois de um tempo sofrendo com os sintomas, fui ao médico.
Quando eu entendi que a reposição não era adicionar nada ao corpo, mas controlar o que estava desregulado, comecei a cuidar efetivamente e tudo voltou ao normal. Acho que relutei muito porque eu ouvia das pessoas: “Nossa, mas já? Você é muito nova para estar passando por isso”. Ou: “Não precisa tomar remédio, usa essa cápsula que melhora, um cházinho de não sei o quê.” Precisamos nos informar, procurar ajuda e nos conhecer.
De que maneira você dialoga com seus filhos sobre o futuro e a formação deles?
Os três têm consciência do que eu e o Luciano fazemos como profissão. Sabemos como isso pode ser sedutor para uma criança ou adolescente. Conversamos bastante com eles para não se enganarem. Cada um tem sua missão e nós, como pais, vamos aconselhar e apoiar no que acharem melhor. Tenho a impressão de que escolhemos muito cedo o que queremos ser.
No meu caso, a TV aconteceu e eu segui meu caminho, mas decidir por algum curso em uma faculdade aos 17, 18 anos, é cedo. O que me preocupa, com a pandemia, é que meus filhos estão perdendo a adolescência deles. As festinhas de 15 anos só acontecem uma vez. Os dois anos que eles perderam, nesse período de isolamento, não voltam mais. Farei tudo que puder para tirar eles das telas e colocá-los para trocar energia com os amigos.
Como funciona a rotina astral da família? Todos têm as características do seu respectivo signo?
O Joaquim, pisciano, é sensível, o Benício, escorpiano, é intenso, lembra de tudo, e a libriana Eva é alegria pura, como eu, mas é mega indecisa. Eu sempre faço meu mapa astral e tenho o mapa dos meus filhos de quando eles nasceram. No casamento, completando 17 anos juntos em 2021, acho que o Luciano deixou de ser tão meticuloso e eu aprendi a ser detalhista. Meu marido gosta da minha leveza e eu gosto da segurança que ele me passa. Um equilibra o outro, em todos os sentidos.
No ano passado, você declarou que seu marido tinha mesmo intenção de concorrer à presidência e que você não se opunha à ideia. Agora, com o Luciano aos domingos, como essa mudança afetou a família?
Em qualquer aspecto da nossa vida, um apoia o outro. Nós dois caminhamos juntos. Quando um toma uma decisão, refletimos sobre como isso afeta a família. Foi uma escolha dele, que imagino não ter sido fácil, mas foi a melhor que ele poderia fazer. O Luciano está muito feliz e empolgado com os projetos para o próximo ano e, se ele está feliz, eu também estou. Quero ver ele brilhando, assim como ele me dá toda a força para criar cada vez mais. O nosso relacionamento é feito com muito respeito e parceria.
Quanto à mudança de sábado para domingo, o que impactou na rotina foi a de não termos mais os fins de semana com os programas ao vivo. Antes, nós tínhamos os meses de janeiro e julho para tirar férias com as crianças e, neste momento, ainda estamos nos adaptando e entendendo conforme as coisas vão acontecendo.
“Enxergar o envelhecimento como algo ruim é uma visão que está ficando para trás. Não troco meus 48 anos pelos meus 28”
Adaptação também pode ser a palavra para sua chegada ao serviço de streaming?
O caminho do entretenimento está mudando e indo em direção oposta à ideia de ficar fixa em algum lugar, seja na TV aberta, seja na fechada, no streaming… Ou seja, os profissionais têm diversas possibilidades para criar projetos distintos. A HBO Max tem prioridade na minha agenda, mas nada me impede de criar fora, basta avisar com antecedência. Isso é fantástico para mim, que amo a liberdade de poder desbravar novos caminhos. Em 2018, quando iniciei o processo de desfazer meu vínculo com a Rede Globo, estava com vontade de me reinventar.
Sair da zona de conforto é prazeroso e não tive medo, pois fiz tudo com calma. É tão bom poder dar asas à criatividade e buscar desafios. Depois do Jornada Astral, estamos criando outro programa e também penso em colocar a Angélica “versão atriz” novamente em ação em uma série, tudo na HBO Max. Vamos ver onde tudo isso vai dar.