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Aconteceu uma brincadeira sobre estupro em ‘A Fazenda’ e isso é revoltante

Rafael Ilha fez um comentário que diz muito a respeito da banalização do estupro na nossa sociedade.

Por Júlia Warken
Atualizado em 16 jan 2020, 04h59 - Publicado em 26 nov 2018, 13h11
 (Reprodução/Record)
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Não é de hoje que o reality “A Fazenda”, da Record, é palco de toda sorte de situações absurdas, mas sobre algumas delas é importante falar. No último domingo (25), Rafael Ilha fez uma “brincadeira” revoltante sobre estupro – e ela diz muito a respeito de como esse crime ainda é banalizado na sociedade em que a gente vive.

“O João tem cara de que era estuprado no colégio”, disse Rafael, referindo-se a João Zoli, que também participa dessa temporada do programa. Só essa frase já seria bizarra e problemática o suficiente, mas ele não parou por aí. “Aí os manos da oitava série ficavam assim: ‘olha lá o graveto entrou no banheiro, vamos lá, é agora’. Já catava o gravetão e pau”.

O comentário veio como resposta a uma indagação de Evandro Santo sobre experiências sexuais. “Não é possível que nenhum boy aqui fez troca troca na adolescência”, disse Evandro, usando “troca troca” para se referir a sexo entre homens. Ou seja: Rafael Ilha não apenas banalizou o estupro de uma maneira completamente ofensiva, como também se referiu a esse crime como se fosse uma mera “experiência sexual”.

A reação de João Zoli foi dar uma risada constrangida. Os peões Felipe Sertanejo e Caíque Aguiar agiram de maneira semelhante, enquanto Evandro Santo caiu na risada, achando tudo muito engraçado.

Essa não é a primeira vez que Rafael faz um comentário problemático sobre violência sexual. Poucos dias antes, num papo sobre assédio com Evandro e Sertanejo, ele disse que “a postura da mulher muda tudo”, referindo-se a roupas curtas e fotos sensuais no Instagram. Para a surpresa de ninguém, os outros dois homens concordaram com a declaração.

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O episódio de domingo é ainda mais absurdo, pois Rafael não demonstrou o menor constrangimento em usar a palavra “estupro” para fazer uma piada. Dessa vez ele se referiu a um homem (como vítima), mas a atitude evidencia uma questão que é sempre pontuada no movimento feminista e que é tida como “mimimi” por muitos: a violência sexual simplesmente não é tratada com seriedade por um enorme número de pessoas. Isso é um elemento chave dentro do que a gente chama de cultura do estupro.

Por motivos óbvios, a atitude de Rafael Ilha foi criticada nas redes sociais, mas tanto a naturalidade com que a “piada” foi feita quanto a reação de quem a ouviu dizem muito a respeito de como esse tipo de postura ainda é tolerado. Todo mundo sabe que comentários assim não estão presentes apenas em “A Fazenda”, eles também estão nas mesas de bar, na churrascada do fim de semana, no grupo de WhatsApp dos parças, nos comentários do Facebook, no vestiário da academia, nas salas de aula – e a lista segue.

E isso definitivamente reflete na forma como inúmeras vítimas de estupro são tratadas na nossa sociedade. Com descaso.

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