A simplicidade de Leonardo Brício
O ator, que faz o Agenor de Luz do Sol, abre o jogo e mostra que é uma pessoa comum e batalhadora
Antes de ser ator, Leonardo quis trabalhar com desenho
industrial. Hoje, ele atua em Luz do Sol e ainda dá aulas
Foto: MUNIR CHATACK
Leonardo Brício tem 44 anos, mas é dono de uma vitalidade impressionante. Batalhador, o carioca consegue atuar, dirigir e ensinar na escola de artes cênicas Tablado, no Rio de Janeiro, sem demonstrar o menor cansaço ou reclamar pelos cantos. “Sigo essa rotina de segunda a segunda, mas nada me cansa porque faço tudo com muito prazer”, afirma o gato, que está no ar em Luz do Sol, na Record, e na reprise de Da Cor do Pecado (2004), na Globo. Ainda garoto, Leonardo trocou o diploma de desenhista industrial para perseguir o sonho de ser ator. Vitorioso, conquistou em sua carreira sucessos como o mocinho Tiago, da minissérie A Muralha (2000), e o vilão Celso, da novela Cidadão Brasileiro (2006). Atualmente, ele empresta seu talento ao rude pescador Agenor, de Luz do Sol, e promove a peça O Auto da Compadecida, da qual assina a direção. Ele também foi o professor dos atores do elenco.
O que o levou a largar a faculdade de desenho industrial, no último ano, para se jogar na carreira de ator?
Eu percebi que teatro era a minha paixão e que não sentia o mesmo pelo desenho industrial. No começo, meu pai perguntava se era isso mesmo que eu queria, se eu teria estabilidade… mas, aos poucos, fui convencendo-o de que o importante é fazer aquilo de que você gosta.
Alguma vez você se arrependeu?
Talvez eu lamente não ter completado a faculdade, não ter pego meu diploma… Gosto muito de desenho. Mas me arrepender mesmo, não, porque me foquei melhor no teatro. É apenas uma pequena frustração.
Como você virou professor de artes cênicas?
Eu estava dirigindo uma peça com cerca de 40 atores jovens e recebi um convite da direção do Tablado para ensinar teatro. Achei um barato. Estou adorando.
Como você é pessoalmente?
Ah, eu sou comum, um pouco caladão, caseiro… Não gosto de tumulto, nem em estréias gosto de ir. Na verdade, nunca consegui vestir a camisa de celebridade, porque acho minha profissão igual a qualquer outra.
Você tem algo em comum com o Agenor?
Sou calado como ele. Quando sinto raiva, também tenho meu lado nervoso, mas não como o Agenor. Também sou firme, principalmente, com meus alunos, mas tenho mais senso de humor do que o personagem.
E o que você fez para compor seu personagem?
Pensei na forma de ele falar, olhar e num jeito mais rude de ser. Ele sorri pouco, é muito duro e maltratado pela vida. Como não gosto de me repetir, fiz uma comparação com meus outros trabalhos e mudei vários detalhes. É um quebra-cabeça que você precisa montar
Você tem medo desses altos e baixos da vida de artista?
Isso é inevitável de acontecer neste país. Mas o teatro é o meu chão, o meu lugar. A indústria o usa e depois o descarta. Ninguém é especial por ser usado e ninguém deixa de ser especial por ser descartado.
Esta “era do descartável” que vivemos na televisão é conseqüência do propagado culto à beleza?
Totalmente. No teatro, tudo depende do talento e não de produção. No palco, você fica muito dependente da platéia, claro, mas não de números de audiência. Além disso, hoje em dia, parece que, se você tem olhos verdes ou azuis, tudo fica mais fácil. Quem é dono de olhos castanhos precisa ralar mais (risos).
Qual é seu maior medo?
De envelhecer sem saúde mental. É muito triste. Depender dos outros é horrível! Não quero isso para mim.
Como você analisa essas “explosões” de sucesso que um personagem costuma trazer ao artista?
Eu já vi alguns atores que tiveram esses momentos e é bastante complicado administrar isso. Como a própria palavra diz, é uma explosão realmente. Detona para o bem e para o mal. Depois disso, o ator sempre busca a superação, porque o público exige mais.
Por que Milton Nascimento escreveu a música Dança dos Meninos em sua homenagem?
Ele viu a peça O Ateneu e teve uma identificação muito forte com meu personagem. Milton se emocionou bastante e, daí, surgiu a letra da música. Essa foi, com certeza, uma das maiores homenagens que recebi, até porque eu estava bem no começo da minha carreira.