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Pandemia acentua os casos de violência contra crianças e adolescentes

Pais e filhos vivem momentos de estresse no isolamento, fazendo a violência aumentar dentro dos lares. Especialistas se preocupam e apontam caminhos

Por Esmeralda Santos
Atualizado em 16 set 2020, 10h24 - Publicado em 15 set 2020, 19h00

A crise sanitária causada pelo coronavírus tem agravado as desigualdades e violências nos últimos seis meses. As crianças, além de terem seus estudos prejudicados, também enfrentam questões graves de violência em meio à pandemia.

De acordo com os dados da Sistema Nacional de Proteção à Infância, houve um aumento nos casos de violência infantil desde março, mês em que a pandemia começou a se agravar aqui no Brasil. Em meio a isso, o ministro da Educação – e também pastor – Milton Ribeiro causou um alvoroço no mês de julho com algumas declarações questionáveis a respeito da educação das crianças.

Em um vídeo publicado em meados de 2016, intitulado “A Vara da Disciplina”, Milton defendia que as crianças deveriam sentir dor para que fossem de fato educadas. Segundo o ministro, a correção não seria obtida por “métodos suaves”. “Deve haver rigor, desculpe. Severidade. E vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim. [As crianças] devem sentir dor”, diz ele no vídeo. Mas vale lembrar que o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a utilização de castigo físico ou de “tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação, ou qualquer outro pretexto” – através da chamada Lei da Palmada.

Para Márcia Oliveira, coordenadora da Rede Não Bata, Eduque, declarações como as do ministro são muito preocupantes. “O posicionamento de qualquer representante do Estado a favor de práticas violentas contra crianças e adolescentes é extremamente preocupante e acaba contribuindo para a banalização e aceitação da violência”, diz ela.

A subnotificação e a escassez de dados sobre a violência contra crianças e adolescentes é outro ponto que preocupa Márcia. “Na abordagem do tema da violência doméstica, muitas vezes a violência contra a criança e adolescente fica invisibilizada, já que o maior número de matérias e estatísticas apresenta a violência contra a mulher como tema central”.

O relatório “Violência doméstica durante a pandemia COVID-19”, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, por exemplo, indicou um aumento de 22,2% no número de feminicídios no país durante a pandemia, entretanto, não se debruçou especificamente sobre os casos de violência contra crianças e adolescentes.

Mesmo assim, outras fontes trazem dados alarmantes. No mês de abril, o Governo Federal recebeu 19.663 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, sendo um aumento de 47% em relação ao mesmo período do ano passado.

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(IvanJekic/Getty Images)

Eduque, não bata

O isolamento social tem mexido com as sensações da população mundial e as crianças são especialmente vulneráveis. A perda dos espaços de apoio e convivência, como as escolas, creches ou clubes nesse período são um dos motivos para o aumento do estresse, e, consequentemente, da violência contra as crianças e adolescentes.

A lei nº 14. 022, sancionada em 7 de julho de 2020, que apresenta medidas de enfrentamento à violência doméstica e familiar durante o pandemia, foi uma das iniciativas que visam minimizar os efeitos negativos da pandemia na vida das crianças. “A Rede Não Bata, Eduque vem utilizando suas redes sociais para apresentar informações e estratégias de educação positiva para a população em geral. Estamos trabalhando também para disponibilizar material que possa ser encaminhado com famílias, por parceiros que atuam nos CRAS, na educação e em organizações da sociedade civil”, explica Márcia.

Os castigos físicos e agressões podem desencadear uma série de problemas na criança e no adolescente. “Além das marcas físicas como hematomas, fraturas, e lesões, as crianças podem apresentar quadros de depressão, episódios de medo e pânico, baixo nível do desempenho escolar e agressividade, afetando também a memória e concentração”, argumenta Márcia.

Nesse momento de isolamento, a psicóloga Lívia Marques explica que é importante que os pais ou responsáveis percebam suas emoções, sem tentar evita-las ou esconde-las. “Deve-se pensar no planejamento sabendo que ele pode mudar a qualquer momento. No home office, por exemplo, é preciso pensar em ajeitar a rotina para ter um momento com os filhos”, explica.

Além disso, é fundamental separar um momento para o acolhimento e a escuta da criança e do adolescente. “É muito importante essa rede de suporte com a criança e o adolescente, acolher essa emoção que eles estão sentido e conversar”, argumenta Lívia.

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Lívia revela que, através de seus atendimentos, tem percebido que as crianças se mostram mais irritas por estarem tanto tempo longe de seus colegas e familiares. Algumas delas até verbalizam que “sentem raiva da Covid-19“. O que gera conflitos nesse momento é o fato de que tanto os pais quanto as crianças estão estressados. Compreender que esse é um momento difícil para todos, independentemente da idade, é o primeiro passo para melhorar o clima no ambiente familiar. “Precisamos entender como está sendo a nossa validação em relação a essas crianças”, diz a psicóloga.

Conversando sobre notícias ruins com as crianças

 

 

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