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Luana Génot e a importância de um ambiente de trabalho acolhedor para mães

Em entrevista exclusiva à CLAUDIA, a fundadora do ID_BR fala sobre maternidade e mercado de trabalho

Por Raíssa Basílio
11 Maio 2023, 10h19
Luana Génot está à espera de seu segundo filho.
Luana Génot pretende se afastar do ID_BR para focar no bebê e em sua filha Alice.  (Fernando Torquatto/Divulgação)
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A criadora e diretora-executiva do Instituto Identidades do Brasil, o ID_BR, Luana Génot, é uma importante voz na luta pelos direitos das mulheres e contra o racismo. Sem fins lucrativos e com o selo Sim à Igualdade Racial, sua fundação visa a aceleração da promoção da igualdade racial e atua em diversas frentes,  como educação, empregabilidade e engajamento.

Mãe de Alice, que tem 5 anos, e do Hugo, que está previsto para nascer no próximo mês, Luana é uma inspiração no ativismo e no empreendedorismo.

Luana Génot está à espera de seu segundo filho.
Luana Génot fala sobre a importância de um ambiente de trabalho acolhedor para mães (Fernando Torquatto/Divulgação)

CLAUDIA: Qual tem sido o maior desafio nessa jornada de mãe e empresária?

Luana Génot: Por amar tanto aquilo que eu faço, entender que tem um propósito envolvido e poder ao mesmo tempo incluir Alice e, agora, o Hugo, que eu estou gestando, neste espaço, entendendo que a mamãe aqui não tem só um trabalho, mas um propósito de vida, de carreira que ela ama muito. Essa divisão de tempo acaba ficando um pouco borrada. Não existe um trabalho das 9 até as 18 horas, existe um trabalho que é constante e contínuo, que me motiva. Não é fácil, a frase mais repetitiva da Alice é ‘mamãe, já acabou a reunião?’. A mamãe faz muitas reuniões. Às vezes eu também preciso de alguns freios, e a maternidade tem me ensinado isso, a conciliar esse trabalho tão apaixonante e desafiador. Para mim, o maior desafio é o equilíbrio do tempo e da energia, né? Trabalhar cansa e ser mãe cansa, tudo isso demanda energia e eu preciso equilibrar melhor a minha energia para essas versões de mim.

Graças a Deus e às forças do universo tive uma gravidez planejada, e a possibilidade de fazer isso entendendo o que eu sou uma exceção, vendo outras mulheres negras que são mães solo ou que não puderam necessariamente planejar, e ao mesmo tempo conciliar um negócio, que cresce como se fosse praticamente outro filho. Eu considero que ter a possibilidade dessa escolha de fato é algo ainda muito raro no Brasil, mas não deveria ser.

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Luana Génot está à espera de seu segundo filho.
Luana Génot está à espera de seu segundo filho. (Fernando Torquatto/Divulgação)

Além de mãe, você é uma mulher, mulher negra, mulher empresária. Como essas coisas se relacionam e se completam para você?

Essas coisas se completam no sentido se você se sentir motivada. É porque chega um momento, pelo menos do que eu converso com muitas mulheres – e eu sou mentora de algumas -, que o trabalho deixa de ter perspectiva se você está em um mais formal – desses que ainda não conseguem absorver a maternidade como algo que te torna mais produtivo em muitos sentidos, apesar de te limitar em questões de tempo. Porque você também tem que ter espaço de tempo para cuidar dos seus filhos, se assim escolher. Essas mulheres com as quais eu converso muitas vezes acreditam que o trabalho perde um pouco da perspectiva depois da maternidade. Seja porque quem que está na gestão acima não consegue ver o mesmo potencial da pessoa como antes ou porque demoniza a maternidade. O mercado de trabalho ainda funciona muito assim. Eu não passei por isso. Por ser a cabeça da instituição, a diretora-executiva, entendi que eu precisava equilibrar os meus pratinhos, que isso ia ser parte do que eu sou. Para liderar uma instituição é fundamental poder justamente criar novas possibilidades, diretrizes e narrativas nesse sentido, onde a maternidade não é vista como algo demonizável ou que impeça que você avance.

Quando teve Alice, você parou apenas por 7 dias. Por que essa escolha?

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A maternidade nunca atrapalhou a possibilidade de eu ser uma executiva. Não sei se eu teria a mesma narrativa se estivesse dentro de uma grande empresa e é essa grande questão. Como ainda temos uma narrativa muito hostil em relação às mães, não enxergamos nelas o pleno potencial. Tem também o propósito, eu não estou aqui só pelo que o instituto pode gerar, em termos de dinheiro, mas também pelo impacto que pode causar no mundo, a curto, médio e longo prazo. Isso interfere diretamente em um mundo melhor, não só para os meus filhos, mas para mim também. Eu acho que tem uma visão dupla dessa complementariedade de trabalho e maternidade para mim.

Quando o Hugo nascer você pretende se afastar mais de 7 dias, certo?

Eu pretendo parar, já comecei gradualmente. O instituto é muito recente e temos muitas funcionárias, mais de 70% são mulheres, mas a grande maioria ainda não teve filhos. Então acho que eu também preciso dar o exemplo, até para que elas se sintam confortáveis caso queiram passar pela maternidade. Existe uma licença de 120 dias para as mães no regime adotado pelo instituto, então eu quero poder desfrutar disso. Eu entendo que eventualmente posso ser acionada, porque meu papel é de extrema decisão para algumas questões. No entanto, a ideia é de um afastamento mais completo, como eu nunca fiz antes. Desde o início do ano eu venho delegando mais coisas para as pessoas. Eu acho que o grande salto da Alice para cá é a possibilidade de ter um time engajado o suficiente no qual eu possa delegar questões e atividades para que eles se sintam donos dessas tarefas.

Minha mãe trabalhava fora e ainda tinha que fazer  muita coisa em casa, não existia home office, e até hoje ela me inspira. Como é para você ser uma inspiração para outras mulheres?

Esse papel de ser um exemplo eu exerço com muito prazer, de poder ser inspiração, até porque eu me inspiro em tantas outras pessoas. Mas, ao mesmo tempo, eu sempre vou incentivar as pessoas a nunca copiarem e colarem a trajetória de ninguém.Não copie palco de ninguém porque você não sabe o bastidor da pessoa. Eu acho que é muito importante reforçar isso. A gente pode se inspirar no outro, mas eu não posso querer copiar a risca tudo o que você é e tudo o que construiu porque eu não sei exatamente quais são as suas bases. Eu acho que isso é muito danoso, especialmente no mundo do empreendedorismo, que tem muitas narrativas do tipo “largue tudo e faça o que você ama, se eu comecei do zero e cheguei onde estou, você também pode”. Não é assim, eu tive rede de apoio e eu consegui planejar um ano do ID_BR. Eu economizei dinheiro, tive processos de cuidado de saúde mental e financeira, têm muitas variáveis que obviamente não ficam visíveis para todo mundo. Você precisa olhar para sua própria trajetória e entender aquilo que faz sentido. A inspiração é algo que você pega, filtra e entende quais elementos se aplicam. Sou inspiração com muito prazer, mas também falo sobre as ressalvas do “olhe para sua própria trajetória”. Aprenda a valorizar os seus pontos positivos e as forças que só você sabe que têm.

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Ainda mais em uma sociedade que espera que mulheres consigam fazer tudo e equilibrar tudo…

Exatamente, o que é completamente machista e patriarcal. Quem também me apoia a ser quem eu consigo ser é o meu marido. A pessoa que eu escolhi para estar comigo nessa caminhada, ele faz bem a sua parte dele, não faz nada excepcional, mas ele faz a parte dele. Durante muito tempo, ele teve que trabalhar com a nossa filha no colo, ali digitando, escrevendo uma matéria, porque ele também é jornalista. Ele, assim como eu, teve que desenvolver uma capacidade de fazer várias coisas simultaneamente. Não é uma coisa que só as mulheres precisam fazer. Os homens, em suas mais diversas orientações sexuais e identidades de gênero, podem também aprender a serem multitarefas. Estamos em uma sociedade patriarcal onde o cuidado é delegado muito para a mulher, então é como se tivéssemos automaticamente que tomar conta de tudo ao mesmo tempo. Isso cansa, né?! Eu pude fazer tantas coisas porque existem outras pessoas também exercendo bem suas funções aqui dentro da minha rede de apoio. Isso é fundamental.

Luana Génot está à espera de seu segundo filho.
Em entrevista exclusiva à CLAUDIA, a fundadora do ID_BR fala sobre maternidade e mercado de trabalho (Fernando Torquatto/Divulgação)

Essa desconstrução é importante e é uma evolução. Por falar nisso, como que era a sua relação com a sua mãe?

Minha mãe é um grande exemplo para mim. Uma pessoa que teve dois empregos de carteira assinada, era funcionária pública. Hoje ela é aposentada. [Quando trabalhava] ela sempre reservava um período do tempo dela, no finzinho do dia, para mim. Isso me dava uma sensação de recompensa. Depois de um dia de escola, se eu conseguisse ficar acordada até tarde, eu ia conseguir ver minha mãe e passar um tempo com ela. Como mãe solo, sempre me ensinou a nunca depender de ninguém e a valorizar quem me valorizasse. São lições muito importantes que minha mãe me deu. Ela sempre me fez entender que eu nunca deveria ter algum tipo de relacionamento para ser dependente desta pessoa, e a procurar relações que não me criassem uma dependência emocional. Então acho que minha mãe me ensinou tudo aquilo que eu poderia aprender no sentido de valores morais. Premissas importantes para passar para Alice, de ser independente, se amar antes de amar demais o outro e de, obviamente, reservar tempo para as coisas que são realmente necessárias.

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