Tiroteios em escolas: algo que não deveríamos copiar dos Estados Unidos
Massacre na Escola Raul Brasil, em Suzano, deixou 8 mortos. Tiroteios em escolas não são comuns no Brasil, mas matam centenas nos EUA todos os anos.
Na manhã desta quarta-feira (13), dois adolescentes invadiram a Escola Estadual Raul Brasil, na cidade de Suzano (Grande São Paulo), e dispararam contra crianças e adolescentes durante o horário do recreio. Até o momento sabe-se que os atiradores mataram oito pessoas, entre adolescentes e adultos, e na sequência se suicidaram.
Crimes deste tipo não são muito comuns no Brasil. Antes de Suzano, há seis casos registrados similares a esse. Em 2017, um menino matou dois alunos do Colégio Goyases, em Goiânia (GO); em 2011, um aluno de 10 anos atirou contra uma professora e depois se matou, em São Caetano do Sul (SP); em 2011, um jovem de 14 anos matou um colega a facadas em Correntes (PI); no mesmo ano, um ex-aluno da escola Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, matou doze adolescentes a tiros; em 2003, um rapaz matou uma pessoa e feriu 8 em uma escola em Taiúva (SP). E em 2002, em Salvador (BA), um adolescente matou duas meninas no colégio Sigma.
O mesmo não pode ser dito dos Estados Unidos, infelizmente. Naquele país, apenas em 2018, 113 pessoas foram feridas ou mortas em tiroteios nas escolas. Foi o ano com mais registros de crimes como esses desde que eles começaram a ser contabilizados, ainda nos anos 1970. Em 2019, até o dia 27 de fevereiro, foram registrados seis tiroteios em escolas, com um estudante morto e seis pessoas feridas.
Alguns casos nos Estados Unidos são sempre lembrados, especialmente pelo alto número de vítimas. Em 1999 dois adolescentes mataram 15 e feriram 21 alunos da escola Columbine, na cidade de Littleton, Colorado, no que ficou conhecido como o “massacre de Columbine”. Em 2018, na cidade de Parkland, na Florida, um ex-aluno da escola Marjory Stoneman Douglas matou 17 jovens.
Os tiroteios nas escolas motivaram a criação de grupos organizados que defendem um maior controle no comércio de armas nos Estados Unidos. O que os grupos afirmam é que o fácil acesso a armas de fogo no país facilita esse tipo de crime, e por isso o objetivo é criar barreiras para o comércio de revólveres, pistolas e outras armas.
O movimento March for Our Lives organiza passeatas e eventos e também estimula os eleitores a votarem em políticos que defendam essa agenda de controle de armas de fogo no congresso norte-americano. A luta é difícil, pois existem muitos políticos que são financiados pela National Rifle Association (NRA), ou, em português, “Associação Nacional do Rifle”, uma organização que defende o direito de posse de arma.
No Brasil, até 2019, a posse de arma era permitida para maiores de 25 anos, que tivessem ocupação lícita e residência certa, que comprovassem capacidade psicológica e capacidade técnica, que não tivessem antecedentes criminais e não estivessem respondendo a inquérito policial ou processo criminal, e que declarassem a efetiva necessidade de ter uma arma.
Mas em 15 de janeiro deste ano, o recém-eleito presidente Jair Bolsonaro cumpriu uma promessa de campanha, e por meio de um decreto presidencial, modificou uma das exigências para posse de arma. O conceito de “efetiva necessidade” de ter uma arma mudou. Se antes o cidadão precisava comprovar que precisava da arma, agora, em alguns casos, essa necessidade está automaticamente comprovada. Entre os casos quem vive em lugares com taxas acima de 10 homicídios por 100 mil habitantes. Atualmente todos os Estados do Brasil tem taxas acima dessas.
O Brasil também tem políticos que têm muito interesse em ampliar o comércio de armas no país. Trata-se da chamada “bancada da bala”, que defende inclusive a ampliação do porte de armas. Posse significa que você pode ter a arma em casa, ou no comércio. Porte, autoriza a pessoa a levar a arma consigo no dia a dia.
Ao discutir a ampliação da posse e do porte de arma, o Brasil vai na contramão das discussões mundiais para a redução da violência e das mortes causadas por arma de fogo. Embora o governo atualmente indique querer copiar muito do que é feito nos Estados Unidos, os números de mortes causadas por tiroteios em escolas é algo que não deveríamos querer copiar.
Não devemos esperar que as tragédias se acumulem, como nos Estados Unidos, para falarmos sobre o risco que uma população mais armada oferece para todos nós – inclusive adolescentes e crianças. Em vez de nos inspirarmos no que causa morte, que tal nos inspirarmos nos movimentos que buscam diminuir o número de casos de tiroteios nas escolas?