Sobrado histórico é reformado sem perder as características originais
O casarão abandonado de 1937 conquistou Maria Luiza Paiva, que providenciou o cuidadoso restauro. A reforma deu nova vida ao imóvel, preservando sua arquitetura, bem como um passado que estava quase se apagando
Ele estava na pior: danificado, sujo e fechado havia anos. Ainda assim, foi amor à primeira vista. “Fazia tempo que eu procurava uma casa para comprar. Já tinha visitado várias, sem sucesso. Quando entrei aqui, me deu um clique”, conta a assessora de comunicação paulistana, referindo-se ao sobrado de 280 m² em que hoje mora com a filha, Rebeca, na capital paulista. Por ser tombado pelo patrimônio histórico, foram necessários dois anos até que a prefeitura autorizasse a reforma, comandada pela arquiteta Laura Alouche, com experiência em projetos de restauro. A espera valeu a pena. “A sensação é a de ter realizado algo muito especial”, diz a moradora. O romance teve, portanto, um final feliz.
Toques de antiguidade para aquecer
º O imóvel pertencia a uma senhora que não tinha filhos nem parentes. Assim, ela o deixou para uma amiga que, apesar do carinho pela herança, teve de vendê-la depois de algum tempo.
º “A casa veio com muitos móveis e objetos pessoais, dos quais eu quis manter alguns”, diz Maria Luiza, referindo-se, por exemplo, aos que podem ser vistos na sala de jantar: o lustre acima da mesa, a poltrona – que ganhou novo revestimento -, a cadeira com assento verde e as cúpulas bico de jaca, convertidas em vasinhos sobre o aparador. As demais peças chegaram com a mudança.
º Em prol da iluminação natural, duas aberturas foram feitas no ambiente: uma fechada com vidro temperado (à dir. do bufê) e outra com porta sob medida.
º A luz que agora banha o jantar valoriza os tacos originais do piso – que, assim como o assoalho de madeira do andar superior, foram restaurados por um profissional especializado (Leoci Silva Sousa).
Um belo corredor verde
º A área externa lateral estava degradada, com mato se espalhando pelo piso quebrado. Os novos revestimentos e a ampliação dos beirais deixaram-na com jeitão de quintal.
º Para torná-la ainda mais convidativa, ela também ganhou um jardim. “A pedido da moradora, plantamos algumas frutíferas, como pés de jabuticaba e romã, e vegetação arbustiva. Utilizamos, ainda, vasos com espécies que ela já tinha, como ervas aromáticas”, conta o paisagista Sérgio Menon, da Grama e Flor, responsável pelo projeto.
Ambos os cômodos receberam piso de cimento queimado (branco na cozinha, cinza no lavabo), ornado por ladrilhos hidráulicos. “Infelizmente, o piso original estava muito danificado, e tivemos de trocá-lo”, lamenta a arquiteta Laura Arouche. O único trecho em que foi possível mantê-lo ficou no corredor.
A pia da cozinha se mudou para a parede oposta. Com bancada de granito são gabriel, possui armários planejados. Repare nos puxadores: vieram de um antigo guarda-roupa da moradora. Depois de desmontado, o móvel cedeu ainda duas gavetas, que foram pintadas de branco, fixadas na parede, e transformadas em porta-temperos. O armário do corredor tem portas de madeira e vidro bisotado. Também de segunda mão, as peças são fruto de garimpagem da moradora.
Tesouros escondidos
º A beleza da madeira nobre da escada estava enterrada sob várias camadas de tinta. Para trazê-la à tona, foi preciso passar removedor, lixar e aplicar selador fosco.
º Da mesma forma, os tijolos maciços só puderam ser expostos após um longo processo. “Em algumas construções antigas, o reboco, bem mais espesso, ajudava a sustentar as paredes. Por isso, antes de retirá-lo, aos poucos e cuidadosamente, tivemos de reforçar a estrutura”, explica Laura.
Beleza e conforto moram nas suítes
º Mais uma vez, o mobiliário evidencia o apreço da moradora por antiguidades. A cadeira, o lustre e o criado-mudo, que já estavam na casa, convivem com itens que ela trouxe na bagagem, como o rack – cuja base veio de uma velha máquina de costura – e o armário, herdado da bisavó.
º Os tijolos também comparecem no piso superior – no quarto de Maria Luiza (fotos acima), marcam presença na moldura da porta em arco que leva ao closet e na meia-parede junto à cabeceira da cama. A exemplo do que acontece no restante do interior da residência, as paredes rebocadas foram tingidas de um tom neutro, na cor Algodão Egípcio (Suvinil, ref. 571377. C&C).
Promovido a suíte, o dormitório de Rebeca (ao lado) é privilegiado com um imenso guarda-roupa embutido que vai do chão ao teto, com 3,26 m de largura. Foi aberta uma segunda janela para permitir a entrada de luz natural e garantir privacidade, uma vez que a original dá de cara com um estabelecimento comercial vizinho.
Novo arranjo de funções
º Ao abrir espaço para o lavabo (1), a cozinha teve de ceder área. Parte do corredor resultante foi aproveitada para fazer o armário embutido (2).
º Como a moradora participa de programas de intercâmbio e recebe estudantes estrangeiros, o quarto de hóspedes transformou-se em suíte independente (3).
º Com a construção de um banheiro (4) no quarto da filha, o então único do andar (5) pôde ter a porta reposicionada e, assim, passou a atender apenas à nova suíte de Maria Luiza.