“Também Eu Danço” reúne as poesias de Hannah Arendt
Livro mostra a sensibilidade característica da autora em poemas que falam sobre memória, prazer e dor
Hannah Arendt é conhecida por suas belas palavras para falar da dureza de uma sociedade totalitária — vide Origens do Totalitarismo e Homens em Tempos Sombrios. Inteligência tamanha que é capaz de nos sensibilizar e informar (fazer refletir, sonhar, chorar) — coisa difícil de conseguir.
“Pés flutuando em brilho patético
Eu mesma,
também eu danço
livre do peso
no escuro, no imenso. […]”
O que pouca gente sabe é que Hannah também escrevia poemas, em dois períodos da vida: na juventude e, depois, um pouco mais velha. Intervalo traduzido, reunido e publicado de forma inédita para o português no volume bilíngue português-alemão Também Eu Danço (R$ 69,90), da Relicário.
Para uma mulher que prezava pela vida íntima, preservada quase a sete chaves, Hannah tem a poesia como plataforma de acesso ao mais íntimo de seu ser — como o é para qualquer poeta. Uma vertente literária que permite elaborações de linguagem (e não só a da escrita, mas, principalmente, a interna, que nos forma sujeito). Para falar de um grande amigo, Walter Benjamin, ou para falar das pequenas brechas de prazer em meio ao caos político-social de um contexto de guerra, não lhe falta sensibilidade.
“E o coração bate
percorre terras batidas
e ao lado eu tomo
o que me cabe da vida.”
Estrangeira no seu país natal, na França, em Portugal e Nova York, a escritora tece o seu não pertencimento externo ao usar o papel para riscar e apagar fronteiras de um corpo em constante transição — geográfica, temporal, particular. Um desenho de corpo-escrita que marca a sua vivência e registra na memória também do mundo as possibilidades de dor e alegria diante do inesperado. Ela evoca e convoca ação em estrofes bem organizadas, ritmadas pelo olhar, vezes puro, diante do susto que é viver. relicarioedicoes.com