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Exclusivo: Stacey Abrams fala sobre luta pela democracia e literatura

Em entrevista exclusiva, a escritora Stacey Abrams mostra como o afeto serviu de combustível para o seu ativismo pelos direitos de não brancos e mulheres

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 dez 2021, 00h42 - Publicado em 10 dez 2021, 12h46
Stacey Abrams
 (Foto/Divulgação)
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a contramão das fórmulas mirabolantes e meritocracias associadas ao sucesso, uma das principais lideranças da política contemporânea, Stacey Abrams, defende a essência, a ação e a coletividade como agentes transformadores em seu décimo livro Você Pode Fazer a Diferença, publicado no Brasil em novembro pela Editora Nacional. A obra ainda tem o prefácio assinado pela jornalista Maju Coutinho. Considerada peça-chave na virada do presidente Joe Biden na Geórgia, a advogada estruturou o manual de campanha do companheiro democrata, levando em conta lições que aprendeu dentro de casa e lapidou na vida.

Abrams nasceu no estado de Wisconsin, nos EUA, mas na infância mudou-se com a família para Geórgia por conta dos estudos de seus pais, Carolyn e Robert Abrams. Militantes dos movimentos dos direitos civis e pastores, o casal “preparou os filhos para o ativismo”, como conta a parlamentar, Em 2006, conquistou seu primeiro cargo público como deputada estadual, posição que ocupou por mais de uma década. A saída se deu para fazer história. Stacey tornou-se a primeira candidata negra indicada pelo partido democrata à disputa pelo governo do estado.

Por uma diferença apertada, a ativista perdeu a eleição no número de votos, mas não a batalha. O trabalho para além da política partidária ficou mais robusto. Fundado pela líder em 2017, o Luta Justa, por exemplo, projeto que estimula o voto entre as minorias, fez com que o estado tradicionalmente republicano virasse o jogo para Biden. “Nossa primeira responsabilidade é acreditar que temos o direito à nossa posição. Eu luto por isso”, explica.

Stacey Abrams
(Foto/Divulgação)

Nos livros, seja escrevendo, seja lendo, Stacey reabastece sua energia dispensada no ativismo, enquanto transita por variados gêneros – segundo ela, sem qualquer tipo de preconceito intelectual, mas com preferência aos romances na escrita. Para CLAUDIA, a escritora fala da importância da relação familiar na sua formação, que impactou diretamente em suas estratégias para estancar as desigualdades sociais.

Na versão brasileira do seu livro, a jornalista Maju Coutinho fala no prefácio de como é agregador ter companheiras como você e não andar só. Quem são as suas parceiras nessa caminhada?

Acho que ter pontos de referência é o que realmente importa. Encontrei minhas referências em vários campos. Trabalhei com políticos, empresários, mulheres de negócios, líderes cívicos. O que tento fazer é entender os desafios que eles enfrentam e as oportunidades que têm e isso modelou meu comportamento, mas direi que meu ponto de referência mais próximo são minhas irmãs. Eu tenho três irmãs. Uma é juíza, outra professora e a terceira é cientista e líder pública. Então, eu sempre tive elas por perto, como guias incríveis.

A jornalista também comenta da constante relação das mulheres com o medo e a insegurança. Como você lidou com esses sentimentos ao longo da vida e que conselho daria para não sermos tomadas por eles?

Bem, no livro Our Time is Now, dedico um capítulo inteiro ao medo, porque é uma companhia constante. Não acredito que você consiga se livrar dos seus medos ou da sua insegurança. Em vez disso, o que você precisa fazer é entendê-los. Você tem que examiná-los e incorporar seus efeitos em sua vida para que você não navegue neles. Quando fingimos que podemos derrotar o medo ou eliminar a insegurança, geralmente você está apenas adiando o retorno deles. Por isso procuro reconhecê-los, mas sem deixar que dominem minhas decisões.

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“Não tenho nem tempo para a solidão, porque estou trabalhando para fazer a mudança”

No livro, você relaciona bastante seu sucesso ao suporte dado pelos seus pais. Como era a relação de vocês na infância?

Eu adoro meus pais. Ambos ainda estão vivos e cada um, à sua maneira, é parte vital de quem eu sou. Minha mãe é um dos exemplos mais fortes de perseverança e bondade. Ela é incrivelmente inteligente. Meu pai foi a primeira pessoa feminista que conheci. Ele sempre acreditou na nossa capacidade e já superou desafios difíceis, inclusive problemas de saúde. Então, com ele aprendi que você não pode deixar que as percepções das outras pessoas ditem quem você é.

Tem alguma lembrança que marcou essa relação familiar de vocês?

Eu devo aos meus irmãos as melhores memórias do Halloween, do Natal, porque minha família leva o Natal muito a sério. Desde quando éramos pequenos, há uma preocupação ainda maior de ser gentil e surpreender, para garantir que a outra pessoa tenha alegria. Nessa época do ano, realmente vivemos os valores que nosso pais nos ensinaram.

A sua relação com o ativismo é muito íntima. Como ela foi construída na sua vida?

Foi por meio dos meus pais. Eles estiveram envolvidos no movimento americano pelos direitos civis quando eram adolescentes. Meu pai foi preso quando tinha 14 anos, porque estava ajudando a cadastrar negros para votar. Eles nos levavam como voluntários para protestar. Conversamos sobre questões políticas e questões sociais. Mas o mais importante era ver meus pais não apenas reclamarem de como o mundo era difícil, nós os vimos fazendo algo a respeito e, para mim, isso foi o certo. Você não pode simplesmente dizer que há um problema, seu trabalho é tentar consertá-lo.

Como é ser uma mulher e negra em lugares com poucas pessoas parecidas com você? Já se sentiu sozinha?

É sempre ruim quando percebo que sou a única em um espaço ou quando sou a primeira a fazer algo. Eu vejo isso como um desafio, mas me certifico de trazer outras pessoas comigo. Dessa forma, sei que sou a primeira, mas que não serei a última. Por isso não tenho nem tempo para a solidão, porque estou trabalhando para fazer a mudança.

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Você adotou alguma tática com o tempo para preservar sua saúde mental?

Eu leio e assisto tudo o que quero. Não acredito na existência de livros ruins. Existem escritores pobres, mas eu amo todos os gêneros. Gosto de ler romance, mistério e literatura. Isso me ajuda a descomprimir, a fugir e a ser feliz.

Quais são as formas que você se estrutura para levar mais representatividade a esses espaços?

Eu contrato intencionalmente uma comunidade muito diversa, incluindo mulheres, negros e pessoas não brancas, porque quero viver meus valores e acredito que a diversidade é importante. Como políticos, às vezes, só falamos com pessoas que se parecem conosco e minha responsabilidade é chegar em todos. Não tenho muito dinheiro, mas quando tenho oportunidades tento ter certeza de que esses recursos vão para grupos e pessoas que também estão tentando expandir a sua participação na sociedade. Frequentemente vemos pessoas que arrecadam dinheiro para si mesmas.

Em seu livro Our Time is Now, que será lançado no Brasil nos próximos meses pela editora Nacional, você defende a democracia, a identidade e a diversidade na política. Na sua opinião, o que é essencial nessa luta de direitos?

Primeiro, devemos acreditar que temos direito à participação. Que temos direito a oportunidades. Parte dos ataques que estamos presenciando à democracia, à identidade e à diversidade que eles têm por base, essa ideia de que você não merece alguma participação. Que você não tem o direito de ser quem você é. E, portanto, nossa primeira responsabilidade é acreditar que temos o direito à nossa posição. Se lutarmos apenas por pessoas que se parecem conosco ou soam como nós, ou que enfrentam nossos desafios, e deixamos todo mundo entregue à sua própria sorte, estamos garantindo que alguém seja oprimido. E minha convicção é que somos mais fortes quando lutamos não apenas por nós mesmos, mas quando lutamos pelos outros. Não porque nos beneficiamos diretamente, mas porque tornamos a sociedade melhor se estivermos protegendo mais pessoas.

O que você ainda almeja e sonha para a sua vida pessoal e profissional?

Profissionalmente, continuo a lutar por mais. Provavelmente no pessoal, como escrevo romances, adoraria ter uma ótima história de amor. Esse é o meu grande sonho pessoal. Se conhecer alguém legal, coloque no meu caminho (risos).

Podemos esperar mais livros seus?

Sim, na verdade, eu tenho um livro infantil saindo em dezembro e uma publicação de negócios que será lançado em fevereiro, ambos nos Estados Unidos. Além disso, trabalho em outra obra de ficção. Estou sempre escrevendo!

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