Renata Carvalho lança ao mundo seu Manifesto Transpofágico
A atriz, dramaturga e diretora humaniza o corpo travesti através da arte
De prostituta a Jesus Cristo, Renata Carvalho já foi muita coisa. Hoje, a atriz, dramaturga e diretora teatral de 41 anos também se apresenta como transpóloga (antropóloga da travestilidade) e lança ao mundo seu Manifesto Transpofágico (Editora Monstra), livro com o texto do monólogo homônimo que ela estreou nos palcos brasileiros em 2019 e que, este ano, também leva aos teatros europeus. Resultado de uma pesquisa iniciada em 2007, a peça mostra como se constrói o distanciamento social dos corpos trans, sempre pelo viés da sexualização, marginalidade e violência. E aí vem a subversão. Renata se despe, de todas as formas, e convida o público a tocá-la, a abraçá-la, a se permitir trocar proximidade e humanidade com esse corpo historicamente privado de afeto.
“A arte contribui na construção do imagético comum sobre o que é uma travesti. Nós temos história, mas não temos memória. O lançamento do meu livro é produção de memória. É uma travesti existindo, pensando artística e intelectualmente esse corpo e esse ofício”, diz ela para CLAUDIA.
Renata celebra avanços como a eleição de Erika Hilton, vereadora trans de São Paulo que foi a mulher mais votada nas últimas eleições, ou a presença de Linn da Quebrada no Big Brother Brasil 22. Mas ela quer mais. “Lembro sempre de Angela Davis, que diz que a luta é para toda vida. Já podemos mudar o nome no cartório, a Lei Maria da Penha nos protege, tem travesti lançando livro… Somos água se infiltrando nessas estruturas de pedra, mas, para realmente desestabilizá-las, precisamos nos infiltrar muito mais.”