Quem era Luzia, a brasileira de 11 mil anos queimada no Museu Nacional
O crânio de Luzia era o fóssil humano mais antigo do Brasil - e ele foi destruído pelo incêndio que tomou o Museu Nacional no último domingo (2).
O incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, trouxe prejuízos incalculáveis. O fogo que dizimou o prédio nesse domingo (2) levou consigo um imenso acervo histórico e científico, reunido ao longo dos 200 anos em que a instituição esteve aberta, além de ter destruído um prédio histórico. Mantido pela UFRJ, era a mais antiga instituição científica do Brasil e o maior museu de História Natural e Antropologia da América Latina.
É difícil apontar qual foi a maior perda, mas talvez a mais emblemática tenha sido a de Luzia, uma brasileira de 11 mil anos. Seu crânio era o fóssil humano mais antigo já encontrado no Brasil e, na ocasião da descoberta, tratava-se do mais antigo das Américas.
Luzia foi encontrada em 1975, em Lagoa Santa, Minas Gerais – uma região onde também jaziam outros 50 sepultamentos milenares. Nessa época, os pesquisadores não lhe deram grande importância. “Já se sabia que ela era muito antiga, mas os pesquisadores de então não suspeitaram que ela podia ter uma relevância maior para o contexto de povoamento da América”, disse André Prous, bioantropólogo e professor da UFMG, em entrevista ao O Globo.
Foi somente em 1998 que Luzia teve sua importância reconhecida, a partir de um intenso estudo sobre o fóssil e a descoberta de que ela tinha mais de 10 mil anos. Nessa época, o fóssil ganhou reconhecimento internacional e, um ano depois, foi feita a reconstituição do rosto da mulher.
Os pesquisadores apontam que Luzia tinha olhos grandes e rosto largo e que vivia isolada em uma gruta em Minas Gerais. Estima-se que ela tenha morrido aos 20 anos de idade. Suas feições têm traços que remetem à negritude e isso ainda gera muita discussão a respeito da origem dos povos antigos em solo americano.
Apesar de “morar” no Museu Nacional, o crânio de Luzia não podia ser visto pelos visitantes. Ele estava engavetado há anos por questões de preservação. O osso já estava fragilizado e a coordenação do museu não encontrava uma maneira de deixá-lo exposto com segurança, pois até mesmo os passos dos visitantes gerariam um tremor danoso ao fóssil. Ela podia ser analisada apenas por pesquisadores autorizados e o grande público só conseguia ver a reconstituição de seu rosto.
“Isso é como se você fosse a Berlim e destruísse o busto de Nefertiti, como se fosse no Louvre e destruísse a Mona Lisa, é o equivalente para a ciência brasileira. É um dia difícil para a ciência brasileira”, declarou a coordenadora Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP, Mercedes Okumura, em entrevista ao R7.