A Procura de Martina: filme revela a história das avós da praça de maio
A trama parte de uma avó em busca de seu neto para discutir política, a senescência e a força feminina

Imagine só passar a vida inteira procurando sua família desaparecida pela Ditadura Militar. Pois essa é a missão das Avós da Praça de Maio, uma organização argentina de direitos humanos fundada por mulheres em 1977 a fim de encontrar seus filhos e netos. Isso porque, durante esse período, estima-se que cerca de 500 crianças foram sequestradas ou nascidas em cativeiro, após suas mães, opositoras do regime, serem detidas ilegalmente.
A história que inspirou “A Procura de Martina”
Acredita-se que a maioria dos bebês foram entregues a famílias dos próprios torturadores ou registradas com identidades falsas, em um esquema sistemático de apropriação de menores. É a partir dessa história que nasce o drama A Procura de Martina, primeira ficção dirigida por Márcia Faria e estrelada pela atriz Mercedes Morán.
O filme, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas, narra a história de Martina, uma viúva diagnosticada com Alzheimer que busca por seu neto, nascido em cativeiro durante a ditadura militar argentina.

Ao receber um telefonema inesperado indicando que ele pode estar no Brasil, ela embarca em uma jornada ao Rio de Janeiro, enfrentando os desafios da memória, o medo de viajar sozinha e o pouco tempo que tem para contar a verdade ao garoto.
“É importante falar sobre o Alzheimer porque essa é uma doença que atinge milhões de pessoas. E é uma doença que é muito solitária – tanto para a família, quanto para quem está vivendo ela. Minha mãe vive há mais de 10 anos com Alzheimer e o filme é dedicado a ela”, conta Márcia. “Claro que a parte política está no roteiro, mas ele também tem um foco muito pessoal. A história de Martina se presta bem a falar de maneira muito íntima e também de maneira muito coletiva.”
Amizade feminina é retratada no longa
Além do resgate histórico, um dos pilares mais importantes da trama é a amizade feminina que se fortalece a cada cena. Percebemos, de forma sensível, como as mulheres formam uma forte rede de apoio para amparar aquela que está em sofrimento.
Jéssica, uma funcionária do hotel onde Martina se hospeda, inicialmente oferece ajuda com o idioma e a orientação na cidade, mas, à medida que conhece sua história, desenvolve um laço de solidariedade e empatia.
Essa conexão entre as duas mulheres, de diferentes gerações e origens, destaca a força dos vínculos afetivos. Além dessa relação, a protagonista conta ainda com outras duas amigas, também avós que investigam o sumiço de seus netos, que a acompanham durante o processo.
“Ainda há poucos filmes com protagonismo feminino, e ainda mais com protagonismo feminino acima dos 60 anos. Essa rede de apoio que elas criaram, buscando memória e justiça, está refletida no filme. É importante que se trate de etarismo nas telas”, comenta a diretora.

Lembrar para não repetir
A produção atua como uma poderosa ferramenta de preservação da memória coletiva ao trazer à tona os impactos das ditaduras militares que assolaram diversos países da América Latina durante o século 20. Mesmo partindo de uma história única, o público se lembra dos traumas deixados por regimes autoritários.
Ao conectar passado e presente, A Procura de Martina convida à reflexão sobre a fragilidade da democracia e o perigo do esquecimento – principalmente em um momento em que discursos autoritários voltam a ganhar espaço em diferentes lugares do mundo.
“O processo de memória e justiça que foi feito na Argentina foi diferente: os torturadores foram julgados e presos. Aqui temos a Comissão da Verdade, um processo muito importante, mas não existiu justiça”, aponta Márcia. “Falar sobre isso nos ajuda um pouco a pensar sobre como nós lidamos, ou não lidamos, com esse passado perverso. É importante que as pessoas entendam o que foi a ditadura militar.”
O longa foi reconhecido internacionalmente, recebendo prêmios como o de Melhor Filme no 43º Festival Internacional de Cinema do Uruguai e na competição latino-americana do 39º Festival de Mar del Plata. O elenco conta ainda com as atrizes Carla Ribas, Luciana Paes e Cristina Banegas.
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