Papo Manas: por que eu decidi atravessar São Paulo para ouvir mulheres
Nossa colunista e apresentadora do Lambisgoia Cast divide seus encontros na periferia com sessões de cinema e conversas sobre as condições das mulheres
O Papo Manas nasceu de uma inquietação antiga minha. Há mais de dez anos, converso com mulheres nas minhas redes; há dois anos aprofundo esses diálogos em CLAUDIA; e, desde 2021, no Lambisgoia Cast, meu podcast, sigo ouvindo histórias, dilemas e dores que atravessam a experiência feminina de formas muito diferentes — e, ao mesmo tempo, assustadoramente parecidas.
Mas, em algum momento, comecei a sentir falta do encontro real.
Da troca olho no olho.
Da conversa que não é filtrada por algoritmo, edição ou feed.
Da mulher que chega depois do trabalho, da aula, da correria com o filho, e se permite falar do que ninguém pergunta para ela.
Foi nesse desejo que o projeto começou a nascer.
O estopim foi quando assisti ao filme Manas, da diretora Mariana Brennand — uma obra delicada e brutal na mesma medida, que chegou a disputar a indicação brasileira ao Oscar. Saí da sessão atravessada. A história, o olhar da diretora, a forma como o filme abraça e expõe feridas… tudo ali me chamou de volta para a pergunta: como criar espaços de conversa para mulheres reais, não só para as redes?
Com essa inquietação ainda quente, procurei Emiliano Zapata, diretor de inovação da SPCine, para pensar juntos: e se levássemos o filme e um debate aberto para territórios onde o cinema simplesmente não chega? Onde, se não chega cinema, também não chega arte, afeto ou espaço seguro de fala?
Assim nasceu o Papo Manas: começamos com duas sessões em Centros Educacionais Unificados, os CEUs. A recepção foi tão forte — do público, das gestoras, dos educadores — que virou pedido. Elas queriam mais. Precisavam de mais.
E aí o projeto cresceu: de 2 para 12 sessões, numa segunda etapa que tomou uma proporção que nem nós imaginamos no início. E já estamos desenhando o que virá no ano que vem, com novas temáticas, novas rodas e um alcance ainda maior.
O que eu ouvi dentro das salas
A maior parte do público — cerca de 90% — é formada por mulheres. Alunas, mães, educadoras, avós, profissionais da saúde, jovens, senhoras. Todas com algo para dizer.
Entre as educadoras, principalmente, ouvi relatos que me acompanharam por dias: a dificuldade de abordar temas de gênero e violência dentro de sala de aula; a sensação de impotência diante de casos de abuso ou agressão que envolvem as próprias crianças; professoras que precisaram mudar de escola após denunciar situações graves.
Um sistema que pede coragem, mas não oferece suporte.
E enquanto assistimos juntas ao filme, essas dores ecoam. A ficção bate na realidade de um jeito que ninguém consegue ignorar. O debate que segue depois vira um lugar de descompressão, análise, respiro e estratégia: como se apoia essa mulher? Como se educa esse menino? Como se cria uma comunidade de acolhimento num país que adoecer mulheres virou regra?
Isso tudo mexe comigo de uma maneira muito profunda. Saio dessas sessões engrandecida, desafiada e mais consciente da urgência de criar esses espaços. É uma troca verdadeira, vulnerável, essencial — e, muitas vezes, difícil. Mas é justamente nas conversas difíceis que a mudança começa.
As próximas sessões
O Papo Manas continua circulando pela cidade e levando o filme + debate para quem quase nunca tem acesso a esses espaços.
Acompanhe o calendário das próximas sessões:
- 3/12 — CEU Taipas
- 3/12 — CEU Perus
- 4/12 — CEU Vila Alpina
- 4/12 — CEU Meninos
- 7/12 — CEU São Pedro
- 7/12 — CEU São Miguel
- 10/12 — CFC Cidade Tiradentes
- 10/12 — CEU Barro Branco
Levar esse projeto aos territórios é, para mim, a prova de que cultura só tem sentido quando encontra gente. Quando sai da bolha. Quando escuta. Quando devolve à comunidade o direito ao debate, à arte e à própria voz.
E é isso que sigo buscando com o Papo Manas: uma conversa que transforma quem chega — e também quem conduz.
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