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O que aprendi em uma aula de culinária com uma refugiada síria

Foi muito mais do que preparar o verdadeiro charutinho de folha de uva.

Por Gabriela Kimura
Atualizado em 11 abr 2024, 18h25 - Publicado em 13 out 2015, 14h16
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Em uma tarde de sábado bem quente, troquei o descanso por uma aula de culinária. A proposta era aprender a fazer o verdadeiro charutinho de folha de uva e também o de repolho, e só isso já me empolgava bastante. Mas o que fazia desta aula especial era a professora: uma refugiada síria que mora em São Paulo há quase quatro anos.

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Muna Darweesh se desdobra em muitas, como todas nós: é mãe, esposa, professora formada em literatura inglesa, trabalhadora e guerreira. Tem uma simplicidade doce no olhar, nas palavras – mesmo nas pouquinhas que fala em português, língua que ainda está aprendendo – e cozinha com o coração. A culinária para as mulheres sírias é uma obrigação: quem não sabe, não casa. Dentro das tradições do islamismo, o casamento é essencial para a família. Ainda assim, ela faz tudo com delicadeza e carinho, como quem está cozinhando para os quatro filhos pequenos. 

Marina Darmaros
Marina Darmaros ()

A aula, que poderia ser só mais uma experiência gastronômica, foi cheia de lições: cultura, imigração, guerra e como recomeçar. Muna fugiu da Síria em 2011, ano em que começou a guerra civil por lá. Ela estava grávida, e partiu para o Egito com o marido e três filhos. Algumas das coisas que tinha, ela conseguiu vender. Outras, como sua casa em Lataquia, litoral da Síria, manteve trancada, com a esperança de um dia retornar para o seu lar.

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Seus irmãos e seu pai foram para a Suécia em um dos barcos que fazem os perigosos trajetos por mar, de modo ilegal. Ela e a família não escolheram vir para o Brasil: vieram porque foi o lugar para o qual conseguiram um visto para embarcar. Desde novembro de 2011 eles estão em São Paulo, perto do bairro do Glicério, morando em um quarto-e-sala e tentando reconstruir a vida por aqui.

Para ganhar dinheiro, ela e o marido, engenheiro naval, decidiram vender comidas típicas de seu país de origem, abrindo o próprio buffet. E devo dizer que, pelo charutinho que preparamos e a doce surpresa que foi a sobremesa Othmaliah, é tudo muito, muito saboroso. Aos poucos eles vão reconstruindo a vida que deixaram para trás em Lataquia, sem perder a esperança.

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Enquanto enrolava as folhas de uva, fervia a água e preparava o recheio, Muna respondia todas as perguntas dos alunos, ávidos para descobrir mais sobre sua história, cultura e suas experiências. E descobrimos algumas coisas bem interessantes:

  1. O charuto de folha de uva é um prato essencial nas ocasiões especiais, como aniversários, casamentos e festas. Só não está no dia a dia, pois demora um bom tempo para ficar pronto.
  2. Dificilmente eles repetem pratos nas refeições. Isso quer dizer que todos os dias, desde o café da manhã até o jantar, cada refeição terá um cardápio completamente diferente. Muna até brincou que seus filhos demoraram para entender o arroz e feijão de todo dia na creche O que aprendi em uma aula de culinária com uma refugiada síria
  3. Eles comem falafel no café da manhã – essa é a única exceção que pode ser repetida no cotidiano. É que o almoço acontece bem mais tarde, por volta das 15h, então é preciso algo que “sustente” até lá!
  4. Muna aprendeu a cozinhar observando sua mãe, desde pequena. Quando ela tinha 20 anos, sua mãe adoeceu e foi Muna que precisou tomar conta de tudo (incluindo seus três irmãos!)
  5. No casamento muçulmano, o pai da noiva e o noivo fazem o “acerto”, ou seja, os homens decidem se haverá o casório de fato. Ela conta que só conheceu o marido um mês antes da cerimônia, mas que ficou feliz com a escolha de seu pai. E diz que sim, as moças podem recusar seus pretendentes!
  6. No dia da festa, o noivo e sua família é que vão buscar a noiva e a família dela em casa. Nada de limusines, carros antigos, carruagem ou coisas do tipo.
  7. Existem muitas similaridades entre a cozinha síria e a libanesa, apenas os nomes das comidas são diferentes. Por isso é comum que os mesmos pratos sejam servidos nos dois países.

A tarde foi uma delícia, e eu sai de lá com muito mais do que uma nova receita para testar em casa. Por meio da história de Muna, pude entender um pouco melhor sobre a situação dos imigrantes no Brasil, ver de perto como a guerra na Síria afeta e modifica profundamente a vida das pessoas, e também perceber como temos conceitos pré-estabelecidos, muitas vezes errados, sobre os imigrantes. 

A aula foi promovida pelo projeto Migraflix, que produz workshops com imigrantes que moram no Brasil. A ideia do argentino Jonathan Berezovsky, fundador do projeto, é aproximar os imigrantes dos brasileiros, integrando, capacitando e quebrando barreiras e esterótipos. Existem cursos de caligrafia árabe, sabores de Casablanca, tecidos bolivianos e muitos outros. Cada participante traz um pouquinho da sua história e cultura para alunos que gostam de conhecer a vida por outros olhos. Vale a pena participar!

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