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Mesclando comédia e drama com muita inteligência, Jojo Rabbit é imperdível

Mesmo ambientado na Segunda Guerra, "Jojo Rabbit" é muito contemporâneo. Através da visão de uma criança nazista, fala sobre ingenuidade e discurso de ódio.

Por Júlia Warken, Guta Nascimento, thiagoabril
Atualizado em 7 fev 2020, 13h00 - Publicado em 7 fev 2020, 12h00
 (Jojo Rabbit/Divulgação)
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Indicado a seis Oscars, incluindo Melhor Filme, “Jojo Rabbit” divide opiniões desde que foi exibido pela primeira vez, em setembro de 2019. Na ocasião, o longa estava competindo no prestigiado Festival de Toronto e levou o Prêmio do Júri Popular – para o aborrecimento de muitos. No Brasil, longa entrou oficialmente em cartaz no dia 6 de fevereiro, depois de ser exibido em algumas cidades através de sessões de pré-estreia.

Para saber a razão da controvérsia, basta assistir ao trailer do longa. Trata-se de uma comédia ambientada na Segunda Guerra, que gira em torno de um garotinho nazista cujo amigo imaginário é ninguém menos do que Adolf Hitler.

Faz sentido fazer piada com um tema tão sério e cruel? Depende de como a abordagem é conduzida. Afinal, vale lembrar que o mix entre nazismo e comédia está bem longe de ser novidade e rendeu a Charles Chaplin seu mais célebre trabalho. “O Grande Ditador” foi lançado 80 anos atrás.

Dito isso, Taika Waikiki tem as razões certas para fazer um filme como “Jojo Rabbit”. Ele deixa muito claro que não está enaltecendo o nazismo através de suas piadas e, nem mesmo, está querendo vender Hitler como uma figura carismática. Sim, ele soa carismático sob a perspectiva de um menino de dez anos, mas essa é a grande sacada do filme: mostrar as aspirações de um garoto que se considera nazista, mas que, na verdade, é apenas uma criança ingênua comprando um discurso sobre o qual ele pouco entende de fato.

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Como o trailer deixa claro, o pequeno Jojo acaba tendo contato com uma garota judia e descobre que ela “não é uma má pessoa”. A empatia pela jovem faz com que o protagonista questione suas convicções. Em paralelo, o roteiro ridiculariza sem qualquer sutileza os seguidores do nazismo – o que rende cenas hilárias. E esse é o tom da comédia de “Jojo Rabbit”: Hitler e seus seguidores são ridicularizados, assim como em “O Grande Ditador”.

O Grande Ditador – Charles Chaplin
Em cena clássica, o Hitler de Chaplin se diverte com um globo inflável: comédia para gerar reflexão (O Grande Ditador/Reprodução)

“Jojo Rabbit” é inspirado no livro “O céu que nos oprime”, da escritora Christine Leunens. O material original é muito mais dramático e não tem o tom cômico de “Jojo Rabbit”, mas também é focado na trajetória de Johannes Betzler, um menino da Juventude Hitlerista que acaba se envolvendo emocionalmente com uma garota judia escondida em sua casa. O Hitler imaginário, no entanto, não faz parte da história.

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“O livro é muito bom, é uma ótima leitura, mas eu não costumo trabalhar com histórias tão carregadas de drama. Eu li o livro e pensei ‘essa premissa é brilhante, é uma situação brilhante, mas se eu fizesse o filme eu colocaria elementos que me deixariam mais interessado em trabalhar nele’. Eu coloquei mais de mim mesmo nele. Literalmente”, disse Taika em uma entrevista ao IMDb.

Christine Leunens, por sua vez, afirma que aprovou “Jojo Rabbit” e que admira o comprometimento do cineasta com o longa. “Eu vi outros filmes do Taika e eu amei o que ele fez. Eu pensei comigo mesma ‘ele deu um toque de Taika’. É difícil definir o que ele faz, é um gênero por si só”, disse ela a AwardsDaily

o céu que nos oprime
“O céu que nos oprime”, de Christine Leunens, foi lançado por aqui pela Bertrand Brasil (Divulgação/Divulgação)
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De fato, Taika vem chamando a atenção dos cinéfilos há algum tempo e ele tem um jeito próprio de fazer cinema – com humor ácido e criativo. Alguns fãs, no entanto, apontam “Jojo Rabbit” como seu filme mais contido. A escolha é justificável, tendo em vista que o tema é bastante delicado.

Mesmo assim, o cineasta imprime muita acidez e bom humor à obra, ao mesmo tempo em que consegue conduzir cenas cheias de ternura – e uma dose de drama. Transitar por essas diferentes facetas de um mesmo filme não é tarefa fácil – e nem sempre elas se costuram de maneira totalmente harmoniosa. Mas isso não tira o brilho de “Jojo Rabbit”.  

Quem também tem um enorme peso nesse resultado é o ator Roman Griffin Davis. Em seu primeiro trabalho profissional como ator, ele já tornou-se uma promessa em Hollywood. E não é exagero dizer que todo o elenco está ótimo, com destaque para Scarlett Johansson, Sam Rockwell e Archie Yates – que também é um ator mirim para ficar de olho.

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Jojo Rabbit – Crianças
Roman Griffin Davis e Archie Yates: tempo cômico impecável e momentos de ternura (Jojo Rabbit/Divulgação)

Ao final, “Jojo Rabbit” não é apenas um filme que satiriza o nazismo e mostra o quanto ele é indefensável. Afiado, o longa vai além e traz uma mensagem que se opõe a todo tipo de intolerância. Tendo a Segunda Guerra como pano de fundo e colocando uma criança no centro dos acontecimentos, ele nos traz uma reflexão muito inteligente e contemporânea sobre o fanatismo ingênuo e os perigos do discurso de ódio.

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