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A carreira de Kesha está por um fio – e precisamos falar disso

Kesha acaba de perder o processo contra o seu produtor e isso nos obriga a abrir ainda mais os olhos para o mundo abusivo do poder.

Por Gabriela Kimura
Atualizado em 21 jan 2020, 18h36 - Publicado em 23 set 2015, 12h40

Em outubro de 2014, a cantora pop Kesha entrou com um processo contra o empresário Dr. Luke, responsável pela produção e divulgação de sua música. Ela alega ter sofrido abusos físicos e sexuais por parte dele, além de pedir que seja rompido o monópolio que a Sony e a gravadora Kemosabe Records têm sobre suas produções – que, vale lembrar, estão paradas desde 2012, quando ela lançou o álbum Warrior. Seu primeiro lançamento solo em 2010, Animals, ficou em primeiro lugar na Billboard, vendeu 152 mil cópias e teve singles que dominaram outras listas mundo afora.

As condições contratuais impedem que a cantora trabalhe com outros produtores e lance músicas novas fora da gravadora. O advogado de Kesha, Mark Geragos afirmou que é absolutamente necessário que a cantora possa seguir com seu trabalho em outro lugar – ou isso destruiria para sempre sua carreira. “Até que esta corte decida sobre a sentença declaratória, Kesha está em um impasse: sem músicas novas para apresentar, não pode fazer turnês. Fora das rádios, dos palcos e dos holofotes, ela também não consegue atrair a atenção da mídia. O valor de mercado dela decaiu e, a menos que o tribunal acarrete esta ação, Kesha sofrerá danos irreparáveis, levando sua carreira à um ponto sem volta”. O pedido de urgência tem um motivo além dos danos que ela já vem sofrendo: o processo tinha começado, originalmente, em Los Angeles, mas, no dia 18 de setembro, foi suspenso e endereçado ao tribunal de Nova Iorque, onde Kesha precisou recomeçar o duelo.

Kevin Winter/Getty Images Kevin Winter/Getty Images

Dr. Luke é um dos “deuses” da mundo da música, tendo produzido grandes nomes como Britney Spears, Miley Cyrus, Nicki Minaj, Jessie J e Kelly Clarkson. Kesha e ele firmaram contrato quando ela tinha apenas 18 anos, em 2005. De acordo com o site TMZ, o produtor também entrou com um processo contra a cantora afirmando que ela estaria mentindo e já teria tentado extorquí-lo, “inventado toda a história com a ajuda da mãe para fugir das obrigações contratuais” (e uma possível quebra de contrato e multa).

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Para o advogado de Kesha, o “processo é um esforço incondicional para reaver o controle de sua música e de sua liberdade, após ser vítima de manipulação, abuso emocional e sexual por 10 anos de Dr. Luke”. O Buzzfeed apresentou cartas escritas por ela própria para os seus fãs, nas quais conta pequenos detalhes do seu sofrimento. Em um dos eventos alegados, o empresário a teria drogado e obrigado a fazer sexo com ele, além de criticá-la constantemente por causa de seu corpo, levando à um transtorno alimentar que terminou em uma clínica de reabilitação no final do ano passado. Especula-se que a música Dancing With The Devil (“Dançando com o diabo”, em português) seja sobre a relação da cantora com o produtor: “Eu e você, nós fizemos um trato/Eu era nova e a coisa ficou muito real(…)/O seu amor é feito de ouro sujo/Mas fui eu quem vendeu a alma”.

Reprodução/Kelly Mullins Reprodução/Kelly Mullins

Carta de Kelly Mullins, 16 anos, Virgina, EUA

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Primeiramente queria dizer que você é muito gentil e adorável. Eu chorei muito quando li sua carta e agora tenho fotos na minha parede heart. Eu amo muito você e realmente preciso do seu apoio nesse momento. Uma pessoa que trabalha comigo me conduziu (literalmente) à doença, me torturou e f*deu comigo e com a minha família. Então, aqui estou levando meu tempo e recuperando minha magia.”

Reprodução/Annie Gallo Reprodução/Annie Gallo

Annie Gallo, 18 anos, Virginia, EUA

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“Annie, sim, o Dr. Luke torturou à mim e à minha família… Ele fez sim as coisas que as pessoas sabem e MUITAS outras coisas piores. Mas eu tenho tentado viver minha própria vida, ser uma guerreira [a warrior, como referência ao seu último álbum] e ter orgulho do meu corpo perfeitamente imperfeito. Obrigada pelo carinho e pela carta. Eu não conseguiria passar por isso sem você e meus animals*.”

Reprodução/Twitter/@keshatoday Reprodução/Twitter/@keshatoday

“Connor, meu amor, muito obrigada pela sua carta – e eu me lembro sim de você! Estou trabalhando meus traumas e abusos emocionais aqui [na clínica]: tem uma pessoa que trabalha comigo que é realmente muito abusiva. Mas eu tenho que ser uma guerreira e me amar, por isso, obrigada pelo amor e apoio. É realmente necessário e sou muito grata por isso! Continue ridiculamente mágico.”

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Atualização do caso

Kesha foi derrotada na primeira audiência do processo, que foi realizada no dia 19 de fevereiro de 2016em Nova Iorque. De acordo com o veículo The Hollywood Reporter, a defesa de Luke teria argumentado que foram investidos mais de US$ 60 milhões na carreira da artista. Por isso, apesar de já ter concordado em deixá-la gravar novos trabalhos sem a sua participação, Luke ainda lucraria por ser empresário e dono do selo fonográfico.

Shirley Werner Kornreich, a juíza da Suprema Corte do estado de Nova Iorque responsável pelo caso, teria considerado que a quebra de contrato com a empresa de Luke era “infundada e sem embasamento”. Ainda de acordo com a publicação, ela teria justificado o seu veredito ao advogado de  Kesha: “Você está pedindo que a corte invalide um contrato que foi amplamente negociado e é típico da indústria. Meu instinto é fazer o comercialmente razoável”.

No dia 6 de abril de 2016, a juíza Kornreich decidiu inocentar o produtor das acusações de abusos sexuais e psicológicos. Segundo ela, “O estupro não é um crime de ódio motivado pelo sexo” e Kesha só teria especificado duas datas dos crimes, apesar de acusar Luke de abusá-la por anos. Sobre o quadro depressivo e emocional da cantora, a juíza definiu que “Insultos sobre seu valor como artista, aparência e peso são insuficientes, ultrajante e intolerável para constituir extrema conduta na sociedade civilizada”.

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Em outras palavras, Shirley não acredita que existam provas consistentes o bastante para as reivindicações da artista. Dessa forma, foi descartada qualquer possibilidade de reabertura do processo e Kesha continua presa ao restritivo contrato firmado com a empresa de Luke. Poucos dias antes, a cantora usou sua conta no Instagram para comentar a proposta indecente que teria recebido da gravadora.

O fato é que o caso precisa chamar nossa atenção para o universo abusivo e controlador da fama. Jovens artistas precisam assinar contratos absurdos e abrir mão de sua criatividade, liberdade e, às vezes, até da própria voz para conseguir um espaço no mundo. E também estão sujeitas a se calarem quando precisam enfrentar um nome poderoso, bem como aconteceu no caso Bill Cosby. Quem sabe o que uma jovem de 18 anos que queria cantar suas músicas pode ter passado nesses 10 anos? E quem somos nós para julgar?

#FreeKesha <3

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