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Livro conta histórias africanas para crianças brasileiras

"A África recontada para crianças" nasceu a partir de mais de 20 anos de pesquisa sobre literatura e cultura oral dos países africanos de língua portuguesa

Por Júlia Warken
Atualizado em 21 set 2020, 10h10 - Publicado em 16 set 2020, 17h35

A contação de histórias, através da cultura oral, é uma tradição que transcende gerações no mundo inteiro. Conhecer um pouco dessas histórias é uma ótima maneira de saber mais sobre um povo distante ou sobre as nossas próprias raízes. Com isso em mente, a pesquisadora, mestra e doutora em Língua Portuguesa Avani Souza Silva lançou o livro “A África recontada para crianças”, fruto de um estudo sobre literatura e cultura oral dos países africanos de língua portuguesa, que ela realiza há mais de 20 anos na Universidade de São Paulo. Nele, estão reunidos contos, fábulas e lendas dos cinco países africanos de língua portuguesa.

O projeto do livro existe desde 2014, quando Avani venceu o Prêmio Literário Infantil do PROAC (Programa de Ação Cultural) da Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo, em 2014. Com isso, a autora conseguiu viabilizar o esqueleto do livro, mas o prêmio não dava direito à publicação do mesmo. Em 2019, ela fechou parceria com a editora Martin Claret para viabilizar o lançamento. 

São 15 histórias contadas ao longo de 120 páginas. Foto: (Martin Claret/Getty Images)

Ao todo, são três contos vindos de cada um dos seguintes países: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Na estética, o livro se propõe a não ser demasiadamente infantil, apesar de estar recheado de ilustrações. Salta aos olhos o visual arrojado. A capa alaranjada e enfeitada por folhas pretas contrasta com o miolo, em que o texto é impresso em azul e os desenhos são compostos apenas por três cores: azul, rosa e branco. Quem assina as imagens é a ilustradora baiana Lila Cruz.

Avani se mostra apaixonada pela tradição oral de contar histórias e relembra, com nostalgia, daquelas que foram passadas a ela por seus pais na infância. Também destaca a riqueza das histórias vindas dos países africanos – em especial as de Cabo Verde, que tem uma tradição oral muito forte. “Aparentemente, os contos parecem ser só algo para divertir, mas eles veiculam a cultura e a história de cada lugar. São ensinamentos. A riqueza é impressionante”. Por isso, ela defende a preservação dessas histórias e da oralidade ligada a elas – que perdeu força ao longo do tempo, com a chegada de mídias como a televisão. “A recontação de histórias é uma forma muito lúdica de resgatar a cultura, para que não se perca. Se ninguém recolher as histórias e conta-las, elas vão sumir”.

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A pesquisa que Avani realiza na USP não é focada apenas em literatura infantil, mas ela explica que sua motivação para o lançamento do livro foi a Lei 10.639/03 – que prevê que as escolas brasileiras abordem questões históricas e culturais dos povos africanos e da comunidade afro-brasileira em sala de aula.

Arrojado no visual, com ilustrações de Lila Cruz. Foto: (Martin Claret/Getty Images)

“A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi alterada em 2003 para incluir – em escolas privadas e públicas, no ensino fundamental e médio – a história e a cultura da África e dos afro-brasileiros. Isso contempla a história da África, do povo negro no Brasil, as lutas do povo negro, a importância do povo negro na constituição da nossa sociedade. Em 2008, ela foi novamente alterada, para incluir a obrigatoriedade do ensino da cultura indígena brasileira. Isso é muito importante, pois a nossa formação étnica é baseada em três povos: europeu, indígena e africano. Então, é preciso resgatar e incluir essas histórias e essas culturas na escola, porque isso faz parte da nossa identidade”, explica Avani. 

Infelizmente, essa lei não é cumprida. Avani é da opinião de que já existe material didático suficiente no mercado para que as escolas cumpram com seu dever e aponta razões para que isso não aconteça na prática. “Eu tenho algumas hipóteses. Uma é que essa lei ela não levada em consideração pelos gestores, que não promovem nenhum curso, nenhuma capacitação para os professores abordarem os conteúdos em sala de aula. Uma outra questão é o racismo, é sobre acreditar que esse assunto diz respeito a negros e indígenas – e, na verdade, diz respeito a toda sociedade. E uma terceira questão, eu acho que é o mito da democracia racial, o pensamento de que no Brasil não há tencionamentos étnicos e raciais e a sociedade vive em paz e harmonia. Isso não é verdade. Com esse mito, decorre a ideia de que não é preciso abordar essas questões, como se estivesse tudo bem”.

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A pesquisadora Avani Souza Silva. Foto: (Martin Claret/Getty Images)

Ela também aponta que é preciso implementar políticas públicas capazes de fazer com que gestores de escolas e professores compreendam a importância desse debate em sala de aula. Só a existência da lei não basta. Além disso, defende que “a família, sabendo dessa lei, deve exigir que ela seja cumprida nas escolas”.

E o papel da família não para por aí. Para Avani, o interesse por uma literatura mais diversa e inclusiva deve começar em casa. Ela aconselha que parta dos pais o interesse pelo diálogo sobre a cultura e a história dos africanos, afro-brasileiros e indígenas. “Para que elas [as crianças] se identifiquem e percebam que isso tudo faz parte da nossa cultura, faz parte da nossa formação étnica – e precisa ser valorizado e respeitado. Isso é muito importante para que nós tenhamos uma sociedade melhor e mais inclusiva”, finaliza.

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