Lady Gaga assina o prefácio de ‘Trauma: a epidemia invisível’. Leia aqui
Cantora dá detalhes de um surto psicótico e conta como o autor Paul Conti a ajudou a lidar com traumas
No dia 14/06, a editora Sextante traz para as livrarias o livro Trauma: a Epidemia Invisível, de Paul Conti. A obra, que ajuda o leitor a lidar com suas feridas emocionais e avançar em direção à cura, traz um prefácio muito especial no qual Lady Gaga conta como, durante uma emergência, conheceu o autor que viria a mudar a sua vida. Leia abaixo:
Por Lady Gaga, Stefani Germanotta
Certo dia, fui jogada no pronto-socorro de um hospital particular de Nova York durante uma turnê mundial. Eu me lembro da imagem de um médico e de uma enfermeira. Eles me pediram que contasse de 100 a 1 enquanto eu gritava. Lembro-me de perguntar: “Por que ninguém está em pânico?” Eles me mandaram continuar contando de trás para a frente. Quando cheguei lá pelo 69, parei e declarei: “Oi, eu sou a Stefani.” Também falei que não conseguia sentir meu corpo, que estava completamente dormente.
Observei enquanto eles fitavam o monitor cardíaco, ao qual só então percebi que estava conectada. Ambos fizeram o possível para esconder sua preocupação com minha frequência cardíaca altíssima. Entendi a apreensão deles, mas na hora eu não tinha recursos para me desesperar com mais nada. Eu estava num estado de dissociação profunda da realidade. Mais tarde me disseram que tive um surto psicótico.
– O médico já está chegando – disseram, por fim.
Eu estava implorando por remédios e fiquei irritadíssima porque não me deram nada até esse “médico” chegar.
Pouco depois, alguém entrou no quarto. Notei de cara que o homem não usava jaleco branco nem trazia um estetoscópio no pescoço.
– Olá, sou o Dr. Paul Conti – disse ele. – Sou psiquiatra.
Olhei furiosa para a enfermeira que ficara esperando comigo.
– Por que não me trouxe um médico de verdade? – perguntei a ela.
Paul me disse que era “italiano de Nova Jersey”, e foi aí que decidi falar com ele, pois meu pai também é italiano de Nova Jersey e senti certa familiaridade. Naquele momento, iniciei uma jornada de cura que continua desde então, uma jornada com um homem que eu não conhecia, mas que, de certo modo, dedicou parte de sua vida a me entender e me ajudar. Só depois de dois anos trabalhando juntos foi que ele revelou que levou seis meses para me avaliar e descobrir se o evidente estado de paralisia traumática em que eu me encontrava era “movível”.
Não vou entrar em detalhes sobre o que aconteceu ao longo do meu tratamento. Mas vou dizer o seguinte: Paul só usou seu jaleco branco quando foi necessário. Para me lembrar que é médico. Na maior parte do tempo, por consentimento mútuo, ele se relacionou comigo como ser humano e homem confiável. Aprendemos um sobre o outro quando começamos um processo de cura que eu julgava impossível. Hoje posso dizer com certeza que esse homem salvou a minha vida. Ele fez a vida valer a pena. Mas o mais importante foi que ele me deu forças para me encontrar e me reivindicar de volta. Se Paul me ensinou isso ou se chegamos a esse resultado juntos, não sei. Porém o que sei é que nós, mulheres, não precisamos de pessoas para nos dar ajuda; precisamos de pessoas que acreditem em nós para que nossos traumas possam ser curados. O Dr. Paul Conti é uma dessas pessoas. Ele acredita nas histórias das mulheres e nos traumas que levamos conosco. Ele sabe que o trauma não se limita a uma faixa demográfica, que é um problema humano. E acredita na cura. Paul é bondoso, e todos podemos aprender com sua bondade. Assim que comecei a ver isso nele, eu soube que a cura era possível. Estou nessa jornada, e agora você também.