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Herança da Antiguidade: conheça a história do Carnaval do Brasil

Das festas da colheita aos desfiles de escolas de samba e de trios elétricos, o caminho do Carnaval até aqui foi longo

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 17 jan 2020, 09h23 - Publicado em 4 fev 2018, 09h30
Carnival Concept Banner with carnaval Gold and Black Icons on white background. Vector Flat Illustration. Place for your text. Photo Booth Party Elements in Border. (kotoffei/ThinkStock)
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A história se repete Carnaval após Carnaval: a gente se diverte nos preparativos e na hora de curtir, depois corre atrás de se livrar do glitter e dos pequenos estragos resultantes de tanta festa. E sempre parece algo tão atual, tão destes tempos, né? Só que o Carnaval é antigo. Muito antigo. Tão antigo que é uma herança da própria Antiguidade. Vem saber mais sobre as origens do Carnaval e como ele se tornou a festa que é hoje no Brasil.

Festa da colheita

Lá atrás, na Antiguidade, os romanos, gregos, egípcios e hebreus comemoravam as colheitas louvando os deuses, em festas pagãs. Não tinha aulas nas escolas, a escravidão era suspensa por esses dias e todo mundo dançava, bebia e celebrava nas ruas. Em Roma, havia até carros alegóricos bem mais liberais que os nossos, em que homens e mulheres desfilavam peladões e peladonas pela cidade. E alguns historiadores acham que é aí que está a origem da palavra Carnaval, inclusive.

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Pintura que representa uma parte da festa da colheita na Roma Antiga (Reprodução/Reprodução)

Carnaval = “carro naval” ou “ficar livre da carne”?

Os carros alegóricos romanos tinham o formato de navios e se chamavam carrum navalis, ou “carro naval”, em português. Pela sonoridade, muitos historiadores consideram a palavra Carnaval, que usamos hoje, uma derivada da expressão.

Outros pesquisadores, porém, acreditam que Carnaval vem de uma expressão latina diferente: carnem levare, ou, em português, “ficar livre da carne”. Este nome vem de uma versão menos antiga do Carnaval, quando a festa foi incorporada pela Igreja Católica. A festa marcava os últimos dias de liberdade antes da quaresma (os 40 dias antes da Páscoa, em que, para os que seguem a religião fielmente, não se pode consumir carne).

Aliás, aqui vale uma explicação sobre a data variável do Carnaval, que está sempre atrelada ao dia da Páscoa. A Páscoa é definida de uma forma bem “móvel”, por assim dizer: ela cai no primeiro domingo após a primeira lua cheia do outono. Daí, para saber a data do Carnaval, é só voltar 47 dias no calendário (40 dias da quaresma + 7 dias da Semana Santa) e aí estará a Quarta-Feira de Cinzas.

O resto você sabe: os desfiles e bailes de Carnaval ocorrem entre a sexta-feira e a terça-feira antes da Quarta-Feira de Cinzas. Os blocos começam antes, porque festa nunca é demais.

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E como o Carnaval chegou ao Brasil?

Foram os portugueses que trouxeram o Carnaval para o Brasil, na época da colonização, por meio de uma festa chamada Entrudo. Nela, havia guerras d’água, não tinha nenhuma musiquinha de fundo e os escravos ganhavam liberdade para comemorar pelas ruas.

Tudo ia muito bem, até que ali pela metade do século 19 a elite do Rio de Janeiro – que na época era a capital do Brasil – pediu o fim das brincadeiras, por considerá-las “de mau gosto”. O Entrudo virou crime e essa mesma elite passou a comemorar o Carnaval em bailes fechados, realizados em clubes e teatros. A música escolhida para animar as festas foi a… polca!

É claro que as pessoas de classes média e baixa não gostaram nem um pouco disso, então teve protesto da parte delas também. Depois de muita briga, o acordo a que chegaram, já no final do século, foi fazer a festa na rua com o controle da polícia, dentro de cordões. E assim nasceram os cordões carnavalescos.

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Alguns dos primeiros integrantes do Cordão da Bola Preta, no Rio de Janeiro (Cordão da Bola Preta/Reprodução)

O povo queria música também, só que não polca (nada contra a polca, mas não combina com Carnaval, né?). Conversando aqui e ali, criaram-se as marchinhas de Carnaval. A primeira da história foi “Ô Abre Alas”, escrita e musicada por Chiquinha Gonzaga em 1899 para o bloco carioca Rosa de Ouro, do Andaraí.

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Isso tudo estava rolando no Rio, mas reverberou no resto do Brasil. Na mesma época apareceram os afroxés na Bahia, o frevo em Recife e o maracatu em Olinda.

O nascimento dos blocos de Carnaval

Os blocos surgiram naquele hiato entre o Entrudo e os cordões. Em um belo dia de 1846, o sapateiro português Zé Pereira, radicado no Rio de Janeiro, saiu pelas ruas tocando bumbo. Outras pessoas que estavam na vibe de festejar foram se juntando e ele, e ali estava o primeiro bloco carnavalesco do Brasil.

Hoje, os blocos de Carnaval são tradição no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Belo Horizonte e em muitas outras cidades brasileiras. Valeu, Zé!

As primeiras escolas de samba ainda não têm 100 anos

Blocos aqui, cordões ali e alguns carnavalescos cariocas com mais necessidade de organização tiveram a ideia de criar as escolas de samba. A primeira foi a Vai Como Pode, de 1923, que hoje é a Portela.

Em poucos anos surgiram mais e mais escolas de samba em diversas localidades do Rio, até que em 1929 resolveram criar uma competição para que o público e jurados escolhessem a melhor do ano. Nasciam ali os desfiles das escolas de samba como os conhecemos hoje.

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Em São Paulo, a primeira escola de samba foi oficializada em 1935, e ela tinha um nome bem óbvio: Primeira de São Paulo. Ela disputou o Carnaval da cidade com cordões e blocos. Nos anos seguintes surgiram outras escolas de samba paulistanas – Desprezados da Penha, Grupo Regional Vim do Sertão e Mocidade do Lavapés – e a disputa passou a ser segmentada.

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Integrantes dos primórdios da escola de samba Mocidade do Lavapés, de São Paulo (Liga SP/Reprodução)

Esses desfiles, tanto no Rio quanto em São Paulo, eram feitos nas ruas, em trajetos desenhados pelas prefeituras locais. Apenas em 1984 foi inaugurado o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio. O Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, é mais jovem ainda: sua inauguração foi em 1991.

Os três responsáveis pela criação dos trios elétricos

O rumo do Carnaval de Salvador foi diferente e, claro, cheio de estilo.

Em 1950, os músicos baianos Dodô e Osmar, conhecidos como “dupla elétrica”, colocaram dois alto-falantes em um Ford 29 e saíram tocando músicas pelas ruas de Salvador. Todo mundo amou e foi atrás deles – afinal, Caetano Veloso já avisou que atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu.

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No ano seguinte, Dodô e Osmar convidaram Themístocles Aragão para se juntar a eles, e estava formado o primeiro trio elétrico da história. Eles também trocaram o Ford 29 por uma picape.

A coisa foi crescendo até chegar ao formato que conhecemos e seguimos hoje, com caminhões sendo chamados de trios elétricos e arrastando multidões pelos circuitos do Carnaval de Salvador. E nada mais junto do que os dois principais levarem os nomes dos criadores de tudo isso: Circuito Dodô (Barra-Ondina) e Circuito Osmar (Campo Grande).

Quem quiser prestigiar essa saga pode e deve aproveitar tudo que o Carnaval oferece, seja nos blocos de rua, nos bailes de clubes ou nos desfiles dos sambódromos. Mas se não fizer seu estilo, tudo bem também; sempre é possível recorrer a planos B para o Carnaval. O importante é terminar o feriado feliz!

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