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Em livro, Fabiane Secches analisa a ausência na obra de Elena Ferrante

Há 30 anos, a escritora fascina o mundo com suas histórias de alma feminina e o mistério por trás de sua identidade

Por Colaborou: Gabriela Teixeira
Atualizado em 28 Maio 2020, 14h58 - Publicado em 14 abr 2020, 22h00
Fabiane Secches
 (Fabio Audi/CLAUDIA)
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Mais de 10 milhões de livros foram vendidos no mundo durante a “febre Ferrante”, como ficou conhecido o período de lançamento da tetralogia A Amiga Genial (Biblioteca Azul), de 2011 a 2014. Depois a história virou série da HBO, cuja segunda temporada estreou em março. E, agora, fãs brasileiros ávidos aguardam a tradução do mais recente livro da misteriosa autora Elena Ferrante – foi publicado na Europa no final do ano passado.

O sucesso absoluto se deve aos profundos mergulhos que a escritora faz nos dilemas femininos, nas relações e expectativas de meninas e mulheres. Esse também foi um dos pontos de fascínio da psicanalista e crítica literária Fabiane Secches, que, de tão encantada pelo movimento provocado pela italiana, decidiu estudá-la em seu mestrado, que virou o livro Elena Ferrante: Uma Longa Experiência de Ausência (Claraboia), disponível na Amazon e no Submarino.

Fabiane-Secches
Para Fabiane, ao se comunicar com leitores apenas por textos, Elena se torna uma autora-personagem, criando uma obra fora de seus romances (Fabio Audi/CLAUDIA)

No ensaio, a autora esmiúça as seis décadas da vida de Lila e Elena Greco, protagonistas da tetralogia. Investiga não apenas a complexa amizade mas também Nápoles, cidade que serve de pano de fundo para a história – cenário tão recorrente e importante que é quase um personagem dos livros de Ferrante, como aponta Fabiane. Os alicerces de sua análise são os escritos da Antiguidade Clássica, trechos de Clarice Lispector e também de Freud. O pai da psicanálise, por exemplo, surge durante a explicação do complexo conceito da “desmarginação”.

Recorrente na série, o neologismo assombra Lila, que vive com o temor de que, de repente, o mundo e ela mesma se transformem em outra coisa diferente do que são. “Acho que Ferrante se refere ao que Freud chamou de ‘inquietante’, o sentimento que nos atravessa quando reconhecemos algo de desconhecido no que julgamos familiar”, explica.

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Se sua personagem receia perder a própria forma, Elena Ferrante, por sua vez, não teme ser uma figura etérea. Sua fluidez atrapalha até a tentativa externa de encaixar sua literatura em um único gênero. Ela transita com maestria entre a sofisticação e o folhetinesco. Tentar classificá-la unicamente como alta literatura ou como escritora popular acaba por ser insuficiente. “Ela está em algum lugar no meio do caminho. Flerta com essa e aquela, mas escapa de ambas se considerarmos essas categorias como excludentes”, diz Fabiane.

O mistério

Livro 'Elena Ferrante: Uma longa experiência de ausência'
Com base em textos da Antiguidade Clássica, escritos de Clarice Lispector e Freud, Fabiane analisa a obra de Ferrante (Editora Claraboia/Divulgação)

Não é a primeira vez que uma autora esconde seu nome. Jane Austen assinava seus livros com “por uma dama”. Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista brasileira, se autointitulava “uma maranhense”. Ferrante se mantém oculta por mais de 30 anos – nesta era digital, em que é difícil guardar segredos. “Somos famintos por informação e vivemos um momento em que a obra é excessivamente ligada à biografia do autor. Ela conseguiu, em certa medida, se recusar a participar desse jogo com regras preestabelecidas. Ou, ao menos, as subverteu e criticou à sua maneira”, afirma Fabiane.

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As especulações sobre a identidade de Ferrante são muitas. Há quem acredite que se trata de Anita Raja, tradutora da editora italiana que publica as obras. Outros supõem que um homem esteja por trás do fenômeno. Seria Domenico Startone, companheiro de Raja. Uma corrente crítica ainda acusa o esquema de ser jogada de marketing para impulsionar vendas. “Acho pouco provável”, defende Fabiane. “Ela publicou seu primeiro romance em 1992 e não causou esse alvoroço até 2011, com a quadrilogia. Seria difícil prever tamanha repercussão tantos anos depois”, argumenta.

Além disso, a postura que adota, de se manter nas sombras mesmo tendo sido alçada ao posto de celebridade, torna a italiana uma autora-personagem, segundo Fabiane. Ela só concede entrevistas por escrito e se comunica com leitores apenas por textos. “É como se outra obra se formasse fora de seus romances: a epopeia protagonizada por Elena Ferrante, uma escritora bem-sucedida que conta algo de sua trajetória, de sua visão de mundo, de seus afetos. E isso não significa que essa história seja uma mentira. Pelo contrário, carrega uma verdade profunda sobre quem a escreveu e continua escrevendo”, conclui.

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