“Creme”: Playlist na vida real destaca ascensão feminina no trap funk
Durante a exposição, batemos um papo com MC Dricka, Tasha e Tracie e Andressinha e Nath, do Hyperanhas
Você já imaginou como seria se uma playlist pudesse ganhar vida? Foi exatamente isso que a plataforma do Spotify idealizou! Com uma curadoria e seleção que contempla mais de 60 artistas dos principais radares de música urbana brasileira, como o trap funk, a experiência Creme chega em São Paulo para agitar e enaltecer as principais tendências de música, moda e muitas referências geracionais de artistas que contam suas histórias e vivências através dos mais autênticos versos e beats.
E com o crescimento do ritmo para além das comunidades, um movimento potente de mulheres na cena do trap/funk vai em direção ao topo. Seja na moda, ou na música, suas influências são claras: elas querem contar ao mundo sobre suas próprias histórias.
Em um conversa exclusiva com a redação de CLAUDIA durante a abertura inédita da Experiência Creme, localizada na Praças das Artes, em São Paulo, as rappers MC Dricka, Hyperanhas e Tasha e Tracie contaram como iniciativas que buscam pela equidade de gênero musical geram impactos positivos e inesquecíveis. Elas também discutiram sobre moda, sexualidade, influência e claro, muita rima. Confira a seguir as entrevistas exclusivas:
MC Dricka
Indicada a uma das principais premiações afro-americanas da cena de música urbana em 2021, o BET Awards (Black Entertainment Television), MC Dricka sempre pediu para acompanharem “sua visão” em todas as suas rimas.
Com quase 1 milhão e meio de ouvintes mensais na plataforma, ela, que já era conhecida como a Rainha dos Fluxos, não imaginava que um dia seria possível levá-lo até Nova York.
Aos 24 anos, ela conta como se sentiu ao ver o seu trabalho sendo estampado em uma das principais avenidas do mundo, a Times Square: “Tantos anos a gente levando não e, de repente, aquilo que você viveu sonhando por vários anos vem dando certo, ainda mais para milhares de pessoas acompanharem. Isso ultrapassou não só a cidade, o bairro, mas o país. Então, foi um momento muito incrível! O meu sentimento foi de muita gratidão.”
Ela também revela que suas letras são símbolos de resistência e sinônimo de diminuição no desconforto feminino dentro dos fluxos, e que a ideia é empoderar mulheres que, assim como ela, podem ocupar seus próprios espaços. “Eu acredito que quanto mais nós escolhemos, assim como eu escolhi, essa ideologia sobre pensar mais em nós, mais a gente vai diminuindo o desconforto. O desconforto é a menina ficar no rolê dependendo da galera para poder ir embora ou para pagar uma bebida, essas coisas, sabe? Então eu acredito que estou diminuindo o desconforto. Acredito que, hoje, muitas mulheres não se sentem mais desconfortáveis nos rolês pois têm dinheiro. Dentro de cada realidade, pode pagar seu carro de aplicativo, sua própria bebida e assim vai. Empoderar-se”, conclui Dricka.
A MC iniciou o segundo semestre com um pontapé certeiro no projeto Mega da Rainha, lançado no início de julho, e é uma das homenageadas da experiência Creme, onde podemos interagir com um trono digno de rainha dos fluxos, posto que será sempre de Dricka.
Hyperanhas
Os caminhos de Andressinha e Nath estavam predestinados a se cruzarem, pois a sintonia entre elas é inexplicável. Ambas se conheceram em abril de 2019, durante uma festa de amigos em comum, e mesmo após 4 anos e mais de meio milhão de ouvintes mensais, elas ainda não conseguem explicar o encontro inesperado e a conexão intensa que existe entre as duas.
“Acho que era pra ser, era pra ser com toda certeza, e isso a gente consegue representar não só em clipe, mas nas músicas também. Eu acho que a música é identificação, né?”, declara Andressinha.
Sexualidade para elas nunca foi um tabu. A faixa “Desfecho”, último trabalho lançado pelas rappers, mostra como ser um símbolo de liberdade sexual no rap também é sinônimo de sucesso – e de empoderamento. “Nós mulheres somos julgadas todos os dias. Dependendo do que a gente fala, da maneira que a gente se veste, em todo lugar que a gente passa. A gente nunca quis afrontar ninguém ou falar ‘nós somos melhores do que os homens’, a gente só quis mostrar que nós também temos o nosso direito de nos divertirmos”, conta Nath.
“Eu acho que a sensualidade, os drinques e a fumaça, tudo que a gente faz é um comportamento típico dos jovens, e nessa dinâmica em que a gente vive, só a gente sabe a carga emocional que é. E eu posso dizer que a gente carrega isso, tentando de passinho por passinho, introduzir esse discurso na cena em que a gente vive, que é extremamente machista, mas ela é uma carga que dá até um orgulho de poder representar, sabe? Principalmente pras mulheres e meninas que acompanham nosso trampo, tá ligado? Ver que elas têm alguém ali, que entende elas e que vive o que elas vivem. É gratificante demais”, esclarece Andressinha.
Tasha e Tracie
Os últimos anos foram intensos para as gêmeas Tasha e Tracie, que depois de serem aclamadas com o álbum Diretoria, de 2021, colhem os frutos de uma jornada intensa, que envolve muita moda, representatividade e talento.
Antes de serem reconhecidas pelas rimas, as duas compartilhavam tutoriais que envolviam a paixão pela moda e pelo styling criativo e sustentável no blog Expensive $hit, além de reflexões sobre a vida de uma jovem preta na periferia. Com a música, elas alcançaram mais de 1,6 milhão de ouvintes mensais.
“È superespecial pra gente saber que somos referências nessas duas áreas. Isso era uma coisa que a gente não tinha. A gente tem uma irmã mais nova, e a gente vê que já é muito diferente a autoestima dela. Ela está crescendo com referências, como nós e várias outras meninas pretas na música no geral. A música com toda certeza é influência número um de qualquer pessoa periférica, né? Música é força, então viver isso na prática é muito especial pra gente”, conta Tracie.
“As pessoas às vezes não querem, porém nós mostramos o nosso lado vulnerável. E isso faz com que a gente se aproxime do nosso público, sabe? A gente acha essencial isso, porque quando a gente se sentia fraca ou se sentia diminuída, sabíamos que a música e a moda tinham sempre algo a nos fortalecer”, lembra Tasha.
Em uma das ativações da Experiência “Creme” Spotify, pudemos acompanhar de pertinho alguns dos processos criativos e itens de moda que se tornaram icônicos durante a trajetória das gêmeas, na música e na moda.
E, apesar de a imersão já ter acabado, você pode ouvir essas e muitas outras artistas do funk e trap lá no Spotify!