Cholas: as latinas que não pedem desculpa por serem como são
Muito mais que um jeito de se vestir, conheça o estilo que representa a força e a resistência de mulheres hispânicas nos Estados Unidos.
Os hábitos de contornar os lábios com um lápis escuríssimo e de reforçar a cor das próprias sobrancelhas estão atualmente em alta no mundo da beleza. Junto de outros elementos (como gel na franja, bandanas nos cabelos, camisas xadrez e tons igualmente escuros de batom), eles também compõem a aparência de mulheres latinas que, como resistência diante da hostilidade que vivenciam nos Estados Unidos, se autointitulam “cholas” ou “chongas“.
Para elas, porém, nada disso representa uma tendência ou algo passageiro. Trata-se, na verdade,de elementos essenciais a quem elas são – e ao porquê, no fim das contas, de elas conseguirem ser assim.
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Seus grossos e dourados brincos de argola podem ter custado menos de cinco dólares em uma loja de esquina – mas eles lhes dão ainda hoje, assim como fizeram por muitos anos, o poder necessário para se fazer enxergar. Porque se há uma coisa que a mulher chola não aceita, é ser invisível.
Elas são fortes, elas são enfeitadas da cabeça aos pés, elas são escandalosas – e em nenhum momento se preocupam em pedir desculpas pelo “incômodo” que podem vir (e, na opinião de muitos, de fato vêm) a causar.
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Chongas
Foi na Flórida, estado americano repleto de imigrantes hispânicos, que o estilo “chonga” surgiu. Inspiradas na cultura caribenha, no reggaeton e no hip-hop, as primeiras adeptas desse estilo de vida eram imigrantes ou filhas de imigrantes – principalmente cubanos.
Segundo o site americano “Timeline”, o termo que dá nome a essa cultura é inspirado na palavra espanhola “chusma”, geralmente usada para falar pejorativamente de uma mulher latina que se vista de forma sexy “demais” e aja de forma agressiva “demais”. Ao adotar o estilo em questão de uma forma orgulhosa, porém, as chongas acabaram encontrando um meio de transformar os comentários ofensivos em força.
Em 2007, duas estudantes de Miami ficaram famosas no país inteiro pela releitura que fizeram de “Fergalicious”, hit da da Fergie. Com “Chongalicious”, elas chegaram até mesmo às principais rádios de Miami.
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Cholas
Semelhantes às chongas até no nome, as cholas surgiram na ponta oposta dos Estados Unidos, no sul da Califórnia. E elas tiveram uma baita inspiração em suas antepassadas, afinal, já nos anos 1930 e 40 as latinas que habitavam a região esbanjavam atitude e provocação ao status quo. Elas se chamavam “pachucas“.
As pachucas usavam franjas volumosas, bandanas e maquiagens pesadíssimas. “Elas eram uma subcultura rebelde”, explica a repórter Barbara Calderón-Douglass na “Vice” norte-americana. Elas questionavam a fortíssima noção de que as mulheres deveriam estereotipicamente usar longas e comportadas saias, ficar em casa cuidando dos filhos e cozinhar tortas.
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Suas herdeiras, as cholas, continuam até hoje questionando os ideais de como uma mulher “deve” ser. Em uma época em que as comunidades hispânicas nos Estados Unidos estavam sem referências na sociedade, as gangues eram importantes para a valorização de suas famílias, de seu orgulho e do seu senso de pertencimento e de identidade.
Nesse contextos, as cholas levavam o termo “girl gang” ao pé da letra e se juntavam às gangues – questionando completamente essas noções “certinhas” do que uma mulher pode ou não fazer na vida.