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Atrizes veteranas falam sobre atual polêmica em relação às artes

Fernanda Montenegro, Marieta Severo e Nathalia Timberg soltam o verbo e falam sobre os recentes ataques a obras e performances artísticas.

Por Júlia Warken
Atualizado em 15 abr 2024, 13h16 - Publicado em 6 out 2017, 18h35
 (Divulgação/)
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Fernanda Montenegro, Marieta Severo e Nathalia Timberg são três das atrizes mais importantes do Brasil. Isso porque, além de brilharem na TV, elas também fazem história no cinema e no teatro. São artistas por excelência e têm muito a dizer a respeito do fechamento da exposição Queermuseu, em Porto Alegre, e do recente ataque ao Museu de Arte Moderna (MAM), de São Paulo.

Atualmente, esse trio de peso está no elenco de “O Outro Lado do Paraíso”, novela das 21 horas que estreia no dia 23 de outubro. Na última quinta-feira (5), a gente aproveitou a coletiva de imprensa do folhetim para conversar um pouco com elas sobre esse polêmico panorama atual. Também falamos com o autor da novela, Walcyr Carrasco. Confira a opinião deles:

Marieta Severo

Marieta Severo
(Daniel Pinheiro/AgNews)

“Sinto uma tristeza inenarrável. Eu não tenho mais idade para passar por isso de novo, eu tenho 70 anos. A gente viveu isso na ditadura e é horrível viver com censura. Não vamos brincar com isso, pelo amor de Deus.

É muito grave, é muito sério. É horrível o espaço que essas pessoas retrógradas, caretas, de mente fechada… o espaço que eles estão tendo para fechar uma exposição. O que é isso? É revoltante e não pode existir. [Se não gosta] não vá, não leve o seu filho. Não está passando na televisão. A televisão entra dentro da sua casa e mesmo assim você pode mudar de canal, vai ver outra coisa… desliga.

Então, é assustador. Para mim é um motivo de tristeza, de medo e de pânico pensar que a gente está andando para trás e que tem um pessoal jovem, de 20 anos [pensando de maneira conservadora]. Na minha geração, com 20 anos você queria estar quebrando as barreiras, você queria estar abrindo os limites, você queria mais, queria novas coisas, queria experimentar.

Eu não sei o que vai ser desse povo com 50 anos, o que essa gente jovem vai estar fazendo com 50 anos . Eu acho que vão estar doidões, hein. Eu acho que, com o tempo que eles estão perdendo, vão estar doidões. Tudo pelado no meio da rua.”

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Fernanda Montenegro e Walcyr Carrasco

Walcir e Fernanda
(Daniel Pinheiro/AgNews)

Fernanda: “Isso está caminhando para ser uma coisa pior do que no tempo dos militares. Eu acho pior, porque no tempo dos militares tinha um conceito militaresco vindo dos quartéis, dentro de uma disciplina férrea e confinada num nacionalismo que naquela época era também um problema político e internacional. Agora não. Tá certo, é o resultado de uma época em que a gente vive, mas, especificamente no Brasil, a área reacionária está vindo de uma maneira mortal.

E não é uma função militaresca ou de segurança nacional. É puramente para ganhar espaço, para virar poder e, do poder, continuar a propina como ato fundamental de atendimento neste país – a essa república que mora em Brasília. É um país que está colonizando seu próprio país. O Brasil está sendo colonizado por esse ‘país’ chamado Brasília.”

Walcyr: “Eu faço minhas essas palavras da Fernanda, acentuando o fato de que essa exposição da qual todo mundo fala ninguém quase viu. O número de pessoas que viu a exposição é mínimo em relação ou número das pessoas que gritam. Eles estão gritando contra algo que nem sequer viram.”

Fernanda: “Sim. E o rapaz que fez a apresentação nu, aquela apresentação era para um grupo que foi a convite dele. A mãe dessa criança é uma mulher ligada às artes – e certamente essa criança também está num processo de atividade artística. Só é criminoso aquele que pegou essa foto e botou na internet.

É como disse a Cora Rónai [colunista do jornal O Globo] no último artigo dela: isso condena a criança a ser tratada como um objeto de pedofilia. E não é isso. Ela estava com a mãe dela. E dentro da arte… o que é o nu dentro da arte? É o ser humano em sua essência.”

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Walcyr: “Desde a renascença há quadros de mulheres nuas. Em geral eram santas e só tinham um pano cobrindo…”

Fernanda: “No Japão, no ofurô, vão os avós, os pais, os netos, bisnetos… todos nus. Uma família inteira vai pelada para dentro do ofurô para ficar ali se esquentando. Então o Japão é nefando por causa disso?”

Nathalia Timberg

Nathalia Timberg
(Daniel Pinheiro/AgNews)

“Eu vejo nesse cenário a maneira como infelizmente tem sido tratada a formação do brasileiro. No momento em que você tem a sua cabeça restrita, as ideias que você tem ficam restritas também. Se quisermos mudar tudo isso, temos que mudar principalmente a formação do brasileiro, que está muito sucateada.”

Confira aqui todos os resumos da novela “O Outro Lado do Paraíso”

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