Assine CLAUDIA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Em “Assassinos da Lua das Flores”, Scorsese cutuca dívida americana

Sem suavizar quaisquer aspectos, o cineasta revira, sem remorsos, a negligência do governo estadunidense perante os povos originários

Por Kalel Adolfo
19 out 2023, 09h36

Logo nos primeiros minutos de Assassinos da Lua das Flores, que estreou hoje (19) nos cinemas brasileiros, presenciamos o assassinato de dezenas de indígenas. Apesar de indigesto, o choque inicial dita o tom do restante do filme, que, sem rodeios, escancara a ferida de um dos episódios mais vergonhosos da história dos Estados Unidos: o massacre do povo Osage.

A trama — dirigida de forma sublime por Martin Scorsese, que continua sendo uma das maiores forças criativas da sétima arte aos 80 anos de idade — é uma adaptação do livro Killers of the Flower Moon: The Osage Murders and the Birth of the FBI, lançado em 2017 pelo jornalista americano David Grann.

Trata-se de um caso verídico, quando, em 1920, os povos originários de Oklahoma sofreram com a ganância do ‘homem branco’ por conta da descoberta de petróleo em suas terras.

Naquela época, os nativos até conseguiram na justiça o direito de obter os lucros do combustível fóssil, mas acabaram sendo vítimas de um esquema homicida que os assassinou um a um, para que suas posses fossem transferidas para os americanos.

Continua após a publicidade

Aliás, este é o ponto de partida da história: o encontro entre Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio) e Mollie Burkhart (Lily Gladstone). Ao notar que a jovem indígena possui uma herança volumosa advinda dos lucros do petróleo, não demora para que Ernest se case com a moça visando o seu patrimônio — plano sugerido por seu tio, o inescrupuloso William Hale (Robert De Niro).

Leonardo DiCaprio e Lily Gladstone no novo filme de Scorsese.
DiCaprio e Gladstone em “Killers of The Flower Moon”. (Paramount/Divulgação)

A partir daí, o que se segue é uma verdadeira pilha de corpos, com os parentes de Mollie sendo exterminados até que o próximo contemplado pela herança seja Ernest.

Continua após a publicidade

Com todos esses elementos narrativos estabelecidos em tela, Scorsese orquestra uma verdadeira aula de suspense, onde novos desdobramentos e reviravoltas inesperadas surgem a cada esquina, prendendo o espectador por mais de três horas.

Inclusive, não se assuste com a duração do longa: mesmo sendo extenso, o diretor cria uma experiência genuinamente imersiva, daquelas capazes de nos fazer esquecer que existe vida fora das salas de exibição.

Parte disso é mérito do diretor de fotografia Rodrigo Prieto (que também assina a cinematografia de O Irlandês): com um olhar visualmente cirúrgico, o artista captura o contraste entre a exuberante natureza de Oklahoma, terra dos Osage, e o desenvolvimento urbano desenfreado provocado pela chegada dos americanos à região.

Continua após a publicidade

O score do filme, composto por Robbie Robertson (falecido em agosto deste ano) potencializa tanto a dramaticidade dos fatos quanto a tensão que se escala conforme o roteiro avança. Cada detalhe tem o seu papel, trazendo uma aura artesanal à obra que, infelizmente, vem se tornando cada vez menos frequente no cinema mainstream.

Elenco de Assassinos da Lua das Flores é um espetáculo à parte

Elenco de novo filme de Martin Scorsese é um espetáculo à parte.
Robert De Niro e Leonardo Di Caprio constroem uma dinâmica implacável em novo filme de Scorsese. (Paramount/Reprodução)

E falando em circuito comercial, não posso deixar de destacar o excelente desempenho do elenco — que certamente irá varrer os troféus na próxima temporada de premiações. DiCaprio, que vem experimentando um tardio (porém bem-vindo) respeito entre a crítica especializada, é o coração do projeto.

Continua após a publicidade

Com maneirismos peculiares, conflitos morais extremamente tangíveis e um senso de culpa que o persegue constantemente, o ator cria um universo em si mesmo, se adaptando (sem grandes esforços) a todos os intérpretes que o orbitam.

De Niro, que compartilha uma sintonia quase sobrenatural com Di Caprio, surpreende vivendo William Hale — aliás, o personagem é a síntese da hipocrisia americana, trazendo à tona o clássico indivíduo que, apesar de cometer atrocidades, acredita em sua integridade.

Vale também uma menção honrosa à Gladstone, que entrega uma performance tão confiante quanto vulnerável em sua mais que bem-vinda interpretação de Molly.

Continua após a publicidade

Assassinos da Lua das Flores tem presença garantida nas grandes premiações

De certo, ainda iremos presenciar Assassinos da Lua das Flores atingir o ápice de sua popularidade com a chegada da próxima temporada de premiações — em janeiro.

É quase certo que o longa irá abocanhar indicações em cerimônias como o SAG Awards, BAFTA e Oscar. Até lá, nos resta apenas dissecar cada detalhe de mais um grande acerto do atemporal Martin Scorsese.

 

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

a partir de R$ 12,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.