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A nova geração de fãs femininas da Fórmula 1

A temporada de corridas pode ter chegado ao fim, mas não podemos deixar de lado o espaço adquirido pelas mulheres no esporte

Por Adriana Marruffo
7 dez 2023, 09h29
A temporada de corridas pode ter chegado ao fim, mas não podemos deixar de lado o espaço adquirido pelas mulheres no esporte (Reprodução/Reprodução)
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Nos últimos três anos, parece impossível passar um fim de semana sem ouvir sobre a corrida da semana em temporada de Fórmula 1, seja para comemorar a vitória de um dos corredores ou para discutir quais foram as alterações feitas aos carros que resultaram em penalizações. Mas algo que vem sendo observado com o passar do tempo na F1, assim como em outras modalidades esportivas, é o crescimento da atenção feminina. 

Uma pesquisa realizada pela More Than Equal (em tradução literal, Mais do que Igual) demonstra que a F1 calcula que o público feminino já corresponde a, aproximadamente, 40% dos fãs do esporte.

Além disso, 40% dessas mulheres começaram a demonstrar interesse nas corridas ao longo dos últimos cinco anos, sendo 70% mais propensas a engajarem nas mídias sociais para discutirem a respeito da sua nova paixão.

E isso é demonstrado pelo grande aumento de páginas, clubes de fãs e almejantes a jornalistas esportivas, que vêm tomando diariamente nossas redes para discutir – com ampla propriedade – os maiores detalhes das corridas. 

Para entender mais sobre o fenômeno, conversamos com Mariana Becker, jornalista esportiva e correspondente da Fórmula 1 na Band, Amanda Oestreich, jornalista e influenciadora digital de Fórmula 1 (@amanda_oestreich), e integrantes do portal Batom na Pista (@batomnapistaf1). Confira:

A nova geração de fãs da Fórmula 1

“Carros são só para meninos”, foi uma frase que muitas ouvimos desde o começo da infância, e que nos afasta de uma imensidade de possibilidades. Isso, no entanto. já é passado e a prova viva é a nova geração de fãs femininas da Fórmula 1, que deixam estereótipos ultrapassados onde eles pertencem.

“Um dos fatores que permitiu esse aumento foi a liberação das mídias sociais para os pilotos e suas equipes, porque assim eles podem contar suas histórias, de uma forma mais normal e humana. Antes você mal sabia da vida privada deles, agora você sabe se eles são vegetarianos ou se não gostam de cenoura”, brinca Mariana ao explicar ao que ela atribui o aumento do interesse feminino.

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A correspondente de Fórmula 1 ainda aponta o lançamento de Drive to Survive, série documental da Netflix sobre os bastidores da temporada de corrida, como um dos principais pontapés para o crescimento da base feminina de fãs: “A série mostra claramente os conflitos dentro e fora das equipes, e ainda demonstra que aquele mundo não é tão diferente do de muita gente, claro, guardadas as devidas proporções, você se identifica.”

O impacto também é percebido pelos próprios pilotos, como foi o caso de Daniel Ricciardo, atual piloto da AlphaTauri, que contou ao New York Times sobre os benefícios que a série documental trouxe para o esporte: “(…) por muito tempo, a Fórmula 1 foi um esporte muito fechado. Deixar algumas pessoas entrarem e mostrar a elas o quão incrível o esporte é, acho que é onde a série realmente fez bem para nós.”

“Acredito que o aumento de fãs, não só femininas, deve-se muito ao seriado criado pela Netflix, Drive to Survive, mas principalmente pelas redes sociais. Lá é possível encontrar tudo sobre a categoria, desde memes a roupas personalizadas, conhecer páginas e criadores de conteúdo. Além de acompanhar os próprios pilotos e as equipes nas suas vidas fora das pistas”, acredita Isabelle de Paula, estudante de Jornalismo, setorista e administradora do Tiktok do Batom na Pista.

Além disso, ele reconhece que a imprensa brasileira tem dado bastante espaço para os comentadores ao decorrer da corrida, mas também no antes e no pós, que permite contar as histórias mais interessantes e profundas.

“Quando você põe um evento como uma corrida só na largada e na chegada, você limita o esporte só a quem entende a respeito. Quem não entende e quem não está acompanhando, dificilmente vai querer ficar na frente da televisão olhando, então, quando eles nos dão esse tempo para explicar para a pessoa porque vale a pena ficar ali, você amplia as possibilidades”, comenta Mariana. 

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Mas esse tripé não é o único que carrega o peso para o aumento do interesse por parte das mulheres e, claro, de pessoas mais jovens como a geração Z.

Atualmente, contamos com uma gama de portais e fontes de informação na internet que nos levam direto à informação que precisamos a respeito da Fórmula 1 e, não somente isso, um aumento da quantidade de influenciadoras femininas que se dispõem a discutir o universo das corridas com mestria.

Este é o caso de portais como o Batom na Pista (@batomnapistaf1), criado por “mulheres que amam o automobilismo”, e Amanda Oestreich, criadora de conteúdo sobre o esporte que acumula mais de 30 mil seguidores no TikTok.

Levando a corrida para a vida: Mariana Becker

E para algumas, a corrida vai para além das pistas e da paixão pelo esporte, caso da jornalista esportiva Mariana Becker, que é atual correspondente na cobertura da Fórmula 1 da Band.

A profissional conta para a Claudia que sua entrada no jornalismo esportivo começou antes mesmo dela entrar na faculdade de Jornalismo, através da sua paixão pelo surf.

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“Eu comecei escrevendo sobre campeonatos de surf para alguns jornais menores, como o Vertical, em Porto Alegre, além de fazer algumas coisas para a rádio Ipanema. Por exemplo, eu entrevistei a primeira gaúcha a voar de asa delta, tudo isso mesmo antes da faculdade, porque eu realmente achava interessante esse meio”, relembra.

No final da faculdade, recebeu a oportunidade de iniciar um programa de estágio na Globo, onde ficou por 25 anos.

O amor pelo automobilismo veio nestes anos, mas não como muitos pensam: “Não era algo que eu era totalmente louca, sabe? Eu gostava e via com o meu pai, mas quando a Globo disse que queria investir em uma mulher trabalhando na cobertura da Fórmula 1, eu disse claro, né!”

“Você conseguir fazer com que as pessoas e, inclusive seus colegas, levassem a sério o que você tinha descoberto ou dessem um real valor para o que você tinha a dizer, demorou bastante. Quando chegava alguma informação, muitos duvidavam ou questionavam de onde eu tinha tirado, não se dava o real peso para o que eu tinha para dizer”, comenta. 

Homens nas corridas mostravam comportamentos íntimos e inapropriados, outro obstáculo que ninguém deveria passar. “Toda entrada dentro de um meio preestabelecido, quem é novo tem que provar sua capacidade e seriedade. Tinha essa pressão, você não conseguia dar um passo fora do traçado, ser mulher influencia muito no prejulgamento dos outros, além de existir um machismo estrutural que as pessoas nem se dão conta”, reflete.

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Novas gerações, novas coberturas

Como Mariana disse, as novas gerações estão tomando a cena da Fórmula 1 e se tornando cada vez mais populares no cenário do automobilismo. “Lembro que, quando eu era menor, os domingos em casa sempre tinham espaço para F1, mas meus pais já não tinham tanta ligação com o esporte desde a morte do Senna, e mais ainda depois que não tivemos mais brasileiros para torcer, então eu também não ligava muito. Isso mudou na pandemia. Eu não tinha nada pra fazer, e a F1 veio pra me trazer um pouco de felicidade naquele período, para fugir um pouco de tudo que estava acontecendo”, conta Valentine Boutsiavaras, estudante de Jornalismo e social media do Batom na Pista. 

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A jovem ainda conta que o documentário da Netflix também fez a diferença, capturando de vez o seu coração. “Assisti todas as temporadas muito rápido e ainda convenci minha mãe a assistir de novo comigo (e ela adorou). Comecei a acompanhar todos os fins de semana e minha paixão foi aumentando cada vez mais! A F1 era o que eu precisava para entender que eu queria o jornalismo como profissão”, revela.

Valentine já teve a oportunidade de assistir dois Grandes Prêmios pessoalmente, em 2022 e em 2023.

Valentine Boutsiavaras, setorista e social media do BNP, no GP de 2023 em Interlagos
Valentine Boutsiavaras, setorista e social media do BNP, no GP de 2023 em Interlagos (@vboutsiaa/Reprodução)
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“Toda a experiência é impagável e sentir tudo ali de pertinho, o cheiro de borracha queimada, escutar o barulho dos motores, é muito mágico! Eu sinto que a F1 ainda é um esporte majoritariamente masculino – dentro e fora das pistas – mas com certeza a presença feminina cresce cada vez mais. Acompanho vários perfis de mulheres que trabalham com automobilismo, e uma das maiores influenciadoras disso é a Mariana Becker, que tive o prazer de conhecer e conversar”, disse emocionada.

Maria Eduarda Lima, setorista e repórter do BNP, conta que o automobilismo está em sua vida desde que se entende por gente, mas, infelizmente, já recebeu comentários de que acompanha apenas para chamar atenção.

“Recebi comentários como: ‘Nossa, certeza que só acompanha porque quer se aproximar de algum homem’, ‘Só gosta da beleza dos pilotos’. Isso quando não fazem perguntas sobre todos os conceitos da categoria, entre várias outras que são ridículas. Já tive muito receio. Hoje eu não tenho mais receio e nem vergonha de falar e mostrar que mesmo eu sendo mulher sei sobre o assunto”, explica. 

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Maria Eduarda realizando a cobertura do Campeonato Brasileiro de Kart – Grupo 2 (@duda_lsouza/Reprodução)

Essa também foi a história de Stella Maris, setorista do Batom na Pista, que já lutou bastante contra os preconceitos: “São situações extremamente desconfortáveis, uma vez já até me perguntaram sobre as partes mecânicas dos carros.”

“Assisto corridas desde 2008, quando tinha 4 anos. Mas acompanhar pra valer, entendendo tudo e até comentando no Twitter começou em 2016. Tive o prazer e a felicidade de estar em Interlagos 2 vezes, em 2019 e em 2022. Em ambas encontrei bastante mulheres, mas o número em 2022 estava bem maior do que em 2019”, conta Júlia Arruda, estudante de Jornalismo, setorista e repórter do BNP.

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Júlia Arruda fazedo cobertura com o BNP do GP de 2022 no Autódromo de Interlagos (@julinharruda/Reprodução)

A influenciadora e jornalista Amanda Oestreich, também dividiu parte de suas experiências: “Acho que o meu primeiro contato foi, como qualquer outra pessoa nascida nos anos 2000, aquela coisa da família ter muita conexão com os filhotes brasileiros da Fórmula 1. Aquela memória de domingo. É uma memória que eu tenho muito vívida na minha cabeça, quando a transmissão ainda era pela Globo.”

@f1amanda

quanto mais mulheres mais mulheres 🤍 || #f1tiktok #formula1 #f1 #f1amanda #jessicahawkins #astonmartin #tatianacalderon #womeninmotorsport #wseries #f1girl

♬ LoFi(860862) – skollbeats

“O centro das pistas ainda segue sendo um ambiente muito hostil, infelizmente, mas a gente já consegue ver mulheres trabalhando, seja em cobertura jornalística, como a Mari Becker, seja nas equipes. Sinto que não só o público feminino, mas a presença feminina nas pistas vem aumentando cada vez mais e eu fico feliz demais com isso”, reflete a jornalista. 

Apesar de nem tudo serem flores para as fãs de Fórmula 1, elas não permitem que suas paixões sejam negadas. “Em 2019 tive o desprazer em ver uma fileira de homens assediando a Mariana Becker no GP de São Paulo. Ela, como uma pedra, se manteve forte e nem olhou para esses caras. Aquilo me marcou muito. Quando acontece comigo, respondo sem dó. Hoje, lido bem melhor do que quando era mais nova, porque perdi o medo de me impor sobre esses caras”, relembra Arruda.

Recentemente, em suas redes sociais, ela recebeu diversos comentários que a mandavam ir “lavar a louça” ao invés de desperdiçar o seu tempo com o automobilismo.

Amanda no Grand Prix de São Paulo em 2023
Amanda no Grand Prix de São Paulo em 2023 (@amanda_oestreich/Reprodução)

“Algo que me incentiva é saber que tem muitas mulheres conquistando seu lugar nesse esporte, que estão abrindo espaço para nós, e que um dia eu também posso fazer do automobilismo um lugar melhor. Ansiosa pra ver cada vez mais mulheres preencherem as arquibancadas!”, coloca Valentine emocionada. 

Vamos correr?

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