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5 autores essenciais para entender a literatura LGBT brasileira

Na semana da 21ª Parada Gay de São Paulo, um pequeno retrato da produção literária homossexual do país.

Por Lucas Castilho
Atualizado em 15 abr 2024, 15h23 - Publicado em 14 jun 2017, 07h36
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Não existe verdade absoluta sobre quem começou a “literatura gay” no Brasil. Para alguns estudiosos, o pontapé inicial foi “O Bom-Crioulo”, de 1985, obra na qual cearense Adolfo Caminha narra de forma direta o romance interracial de dois marinheiros. Para outros, seria o conto erótico “O Menino do Gouveia”, do pseudônimo Capadócio Maluco, escrito no início do século XX. “Um Homem Gasto”, datada de 1885, de Ferreira Leal, também poderia ser a publicação pioneira dessa temática no país, como afima o Doutor em Letras Antonio de Pádua Dias da Silva no artigo “A história da literatura brasileira e a literatura gay: aspectos estéticos e políticos”.

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Com consenso ou sem, de lá para cá, muita coisa mudou: a união estável entre pessoas do mesmo sexo já é uma realidade, por exemplo, e, apesar, do preconceito e, principalmente, da LGBTfobia ainda fazerem muitas vítimas no país, o diálogo sobre orientação sexual é mais livre e aberto. Isso possibilita até mesmo o surgimento, ainda que de forma tímida, de muitos autores “fora do armário”. Abaixo, uma pequena lista de importantes representantes LGBT brasileiros na literatura.

1. Caio Fernando Abreu.

Atualmente muito popular (você já deve ter visto ele no seu feed!), por causa de páginas e mais páginas do Facebook dedicadas às frases dele, Caio Fernando Abreu foi muito mais do que isso. Gaúcho, gay assumido, um dos melhores amigos de Clarice Lispector, ele lutou contra a ditadura, foi perseguido e chegou a se exilar na Europa. Temas como sexo, morte e solidão eram caros ao escritor.

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Transgressor e versátil, sabia como ninguém traduzir em palavras os sentimentos humanos mais profundos, escrevia as coisas que via, sentia… Transitou por diversas áreas: escreveu contos, romances, peças de teatro e até roteiros de cinema e dedicou vários anos ao jornalismo, com passagens por Veja, Pop, Pais e Filhos e Jornal Zero Hora. “Morangos Mofados”, livro de contos lançado em 1982, pode ser considerada a obra-prima do autor, mas é em “Onde Andará Dulce Veiga”, um tanto autobiográfico, que a homossexualidade é tratada de forma mais clara. Morreu em 1996, aos 47 anos, lutando contra a AIDS.

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2. Mário de Andrade.

Pioneiro da poesia modernista no Brasil, o paulistano Mário de Andrade foi um dos grandes idealizadores da Semana de Arte Moderna, evento que aconteceu em 1922 e revolucionou o mundo das artes no país. Músico, dramaturgo e crítico literário, é em “Macunaíma” que o escritor teve o maior êxito da carreira. No livro, publicado em 1928, procurou retratar a história do povo brasileiro, por meio de um herói com caráter, digamos, duvidoso. Quer dizer, sem caráter algum. Apesar de algumas suspeitas acerca da orientação sexual do autor, a sexualidade dele, de fato, só virou pauta no ano passado quando, por meio da Lei de Acesso à Informação, foi aberta uma carta-confissão dele para o também escritor Manuel Bandeira. No documento, fala das pressões sofridas e da “fama” que tinha. “Si agora toca nesse assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui a sair sozinho comigo na rua (veja como eu tenho a minha vida mais regulada que máquina de pressão) e si saio com alguém é porque esse alguém me convida, si toco no assunto é porque se poderia tirar dele um argumento pra explicar minhas amizades platônicas, só minhas”, escreveu.

3. Cassandra Rios

Nascida Odete, Cassandra Rios foi uma mulher ousada demais para a época que nasceu. Se hoje, infelizmente, o prazer feminino é ainda um tabu, imagina na década de 1940? Escrevia cenas amorosas explícitas entre lésbicas, retratava preconceitos sofridos por elas e, principalmente, indagações. Em “A Volúpia do Pecado”, de 1948, livro de estreia da autora, por exemplo, as personagens Lyeth e Irez buscam no dicionário um termo que defina o comportamento delas, diferente do ~socialmente~ aceitável. Sucesso editoral (ela chegou a vender mais de 300 mil exemplares), a escritora não caiu nas graças da crítica por considerar o estilo dela “muito cru”. Pioneira, foi a primeira a falar abertamente do tema lesbianismo no Brasil e, claro, sofreu diversas perseguições dos censores da ditadura. É fundamental por trazer um retrato bastante verossímel e nada normativo do mundo lésbico no país. Os principais livros são “Copacabana Posto 6 – A Madrasta”, de 1972 e “Eu Sou Uma Lésbica”, de 1979.

4. Álvares de Azevedo

Autor do clássico de contos “Noite na Taverna” e da antologia poética “Lira dos Vinte Anos”, Álvares de Azevedo era literalmente um romântico! Integrante da segunda geração do movimento literário, ele era sarcástico, irônico, falava sobre dor, claro, amores impossíveis e tinha uma espécie de fixação pela morte. “Quando em meu peito rebentar-se a fibra/ Que o espírito enlaça à dor vivente/ Não derramem por mim nenhuma lágrima/ Em pálpebra demente”, escreveu certa vez. Sofria de tuberculose e morreu cedo, antes de completar 21 anos, em abril de 1852. Deixou uma carta de despedida para o “amante”: “Luís, há aí não sei quê no meu coração que me diz que talvez tudo esteja findo entre nós […] há em algumas de minhas cartas a ti uma história inteira de dois anos, uma lenda, dolorosa sim mas verdadeira, como uma autópsia de sofrimento. Luís, é uma sina minha que eu amasse muito e que ninguém me amasse. Assim como eu te amo, ama-me”. Own! <3

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5. Gilberto Freyre

Nascido no Recife, Gilberto Freyre é considerado um dos maiores sociólogos do século XX. É autor de “Casa-Grande & Senzala”, de 1933. No livro, apresenta um retrato da formação sociocultural brasileira. De acordo com ele, o determinismo racial não influencia o desenvolvimento de um país, ele refuta veementemente a ideia de que no Brasil existia uma raça inferior por causa de toda a miscigenação. Depois de lançada, a obra, além de receber críticas de sociólogos contemporâneos, foi acusada de pornográfica e chegou até a ser queimada em praça pública. Em entrevista à Playboy, em março de 1980,  o autor declarou já ter se relacionado com homens e, bem, o tema homossexualidade sempre esteve presente em algumas das produções dele. Na seminovela “Dona Sinhá e o Filho Padre”, por exemplo, um dos personagens centrais é gay.

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