Meu aniversário este ano caiu numa quarta-feira, 24 de agosto. Decidi me dar meia semana de folga e desci para a praia. Aproveitei o dia de comemoração com meu amor, mas no dia seguinte ele precisou voltar a São Paulo para trabalhar. Eu também precisava fazer algumas reuniões, mas nada que não pudesse ser online.
Depois que acabei todas as obrigações da minha quinta-feira fui dar uma caminhada na praia. Mesmo com o sol se pondo no horizonte, o barulho do mar e algumas fragatas voando à minha volta, eu não conseguia me desligar da minha própria mente e aproveitar a paisagem.
Estava aprisionada a um turbilhão de pensamentos que aparentemente não tinham a menor razão de estar ali, me acompanhando numa caminhada calma, pés descalços, na areia da praia. Fui até um dos cantos da praia, nada: os pensamentos continuavam ali.
Fui até o outro canto da praia e a perseguição seguiu: os pensamentos na minha cola, ou melhor, grudados na minha mente. Você, a esta altura pode estar se perguntando: “mas no que será que ela estava pensando?”.
Pois esta foi a pergunta que me fiz: que tanto estou pensando? Foi aí que resolvi caminhar prestando atenção aos meus pensamentos – um a um.
Nenhum deles era realmente importante. Mas havia uma sensação por trás de todos eles que eu não consegui identificar muito bem. Uma sensação que parecia nublar tudo, especialmente a minha capacidade de estar presente e realmente ali, caminhando na praia. Decidi que era hora de, então, parar um pouco e meditar.
Sentei-me na areia, cruzei as pernas e não foram necessárias nem três respirações para que minha voz interior me dissesse: “Mari, você está cansada.”
Foi como um vento que assoprou as nuvens de todos os pensamentos e clareou tudo: eu realmente estava cansada. Ou melhor, exausta. E o que fazer diante daquela informação interna inquestionável? Interrompi a meditação ali mesmo e deitei na toalha que havia levado à praia.
Cochilei por meia hora.
Não foi o bastante para acabar com meu cansaço, mas o suficiente para acolher algo que precisava ser acolhido. Ter me permitido tirar aquela soneca me trouxe uma sensação de autocuidado que me deixou muito mais leve.
Voltei para casa caminhando e meus pensamentos pareciam ter ido passear em outro lugar – já não estavam mais nublando a minha mente. Senti a água, reparei nas conchinhas do chão, vi a luz suave do entardecer penetrar nas nuvens e iluminar de lilás uma ilha de pedras no meio do mar, enfim, consegui apreciar o que estava diante dos meus olhos e dos meus pés.
Lembrei-me de que no final do primeiro semestre de 2022 eu havia feito uma promessa para mim mesma que diminuiria o ritmo, pegaria mais leve, faria mais pausas, cuidaria mais da rotina para que não ficasse novamente com a sensação de estar sendo atropelada por mim mesma.
Agosto havia chegado e, naquele instante, percebi que havia me esquecido da promessa. Esqueci, temporariamente. Mas não desisti – disse em voz alta para que eu pudesse ouvir.
Assim como qualquer acordo, os compromissos que fazemos com nós mesmas precisam ser revisitados, relembrados, de tempos em tempos.
E, como diz uma grande amiga, a psicóloga Cinthia Alves: “O primeiro passo para a mudança é a aceitação.”
Se eu quero mudar o ritmo que tenho levado a vida, preciso aceitar que tenho levado uma vida acelerada demais. É fácil a gente entender isso quando imagina que precisa chegar a um compromisso em um determinado horário. Se a gente não sabe de onde vai sair, fica muito complicado calcular o tempo para chegar ao destino na hora marcada.
Não sei o que você anda querendo mudar na sua vida, mas, mais uma vez, esta experiência me mostrou que se a gente aceita o que precisa ser mudado, já começamos a bailar a dança da mudança. Bora entrar neste baile?