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Maquiadora, consultora e pesquisadora de beleza, fundadora do Liceu de Maquiagem.
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O corpo como entretenimento

Liberar mamilos femininos? Alçar engajamento com dancinhas e pele à mostra? Bem-vindas à falácia da libertação sexual como empoderamento

Por Vanessa Rozan
21 mar 2023, 09h59

Você já se deu conta que não existe mais rede social, né? Talvez o grupo de WhatsApp do seu condomínio ou das suas amigas, no máximo, porque o resto é entretenimento. Sim, desde que o TikTok chegou, a Meta vem tentando de tudo para ficar tão divertida quanto. Agora, eles estão discutindo liberar o mamilo feminino. Pensar sobre esse “avanço” é que vai ser divertido, vem comigo.

Os algoritmos contam quanto tempo você olha para cada vídeo e foto e quais são as suas buscas para te mostrar sugestões de conteúdo parecidas. Não é mais sobre ver o que a sua prima posta ou um conhecido, numa conexão social próxima de afetos e figuras familiares. É sobre te manter rolando o feed por horas, numa roda de rato interminável de vídeos que podem te fazer rir, dançar e até “ensinar algo novo”. Porém, anotem: quando algo é gratuito, você é a mercadoria.

O TikTok faz isso de forma mais agressiva. Faça o teste: quando abrir, perceba que, imediatamente, o vídeo começa a rodar com som alto, sem que você esteja pronta para isso. Ele também abre na seleção “for you” ao invés de te mostrar os perfis que você segue. Ou seja, a sugestão dele para você é melhor do que o que você mesma acha que sim. Detalhe: esse aplicativo foi o que mais cresceu em 2022.

O sucesso se deu pela acessibilidade e pela identificação, tendo um público maior na faixa de 13 a 24 anos. Mas qualquer busca pelo desafio de dança da música da vez vem acompanhado de inúmeros vídeos de mulheres seminuas, numa incitação de pornografia conhecida como softcore ou softporn. São meninas de 20, 18, 16 anos usando biquínis pequenos, lingeries ou colando emojis sobre o corpo ao som de algo como “soca fundo”. Tem até um fórum no Reddit, o TikTokThots (ou “vadias do TikTok”), que compila esses conteúdos. Tudo isso aprovado pela plataforma, viu?!

A sociedade patriarcal neoliberal agora chama esse movimento de “liberação sexual” da mulher de “empoderamento”. Muitas aspas porque ele nunca será fato enquanto for apenas uma conquista individual. As palavras, aliás, são raptadas de seus significados para vender qualquer coisa, até te fazer acreditar que é preciso ser visível para não ser excluída. Afinal, já que não preciso lutar por direitos então sou livre para fazer — contém sarcasmo — o que quiser com o meu corpo. É o “meu corpo, minhas regras” adaptado ao entretenimento de todos, em especial dos consumidores de pornô.

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Pois bem, a hashtag #tiktokthots tem mais de 8 bilhões (!!!) de visualizações. A Meta, claro, precisa fazer alguma coisa para correr atrás. Instagram e Facebook não são “redes sociais” fundamentadas na competição, tal qual a rede vizinha, que incentiva desafios com tags #tiktokchallenge e afins. O Instagram nasceu a partir da fotografia. Você passava por uma tela de edição antes de poder publicar uma imagem. Era sobre a construção da foto perfeita. Mas a imitação de uma habilidade social tem a ver com adaptação e sobrevivência para seguir te mantendo ali dentro do app. Ele precisa, então, ser mais legal, legal como os jovens gostam. Tem que ter entretenimento, tem que dançar, tem que ter vídeo e… Tem que ter corpo. Não qualquer um: a fórmula mágica do corpo feminino jovem, branco e magro.

Eu sempre gosto de lembrar que os algoritmos vão mostrar mais sua foto ou vídeo para seguidores e não seguidores se tiver pele à mostra, em especial se você for mulher. Os algoritmos não são Oompa-Loompas que querem fazer experimentos sociais conosco, eles são apenas o reflexo do comportamento humano, e, sim, pornografia vende.

Vamos pensar aqui: quem ganha com a liberação dos mamilos femininos na Meta? Se todas as outras partes do nosso corpo já estão à mostra ou veladas nas redes sociais, na publicidade, no cinema, na TV de forma sexualizada e a serviço do prazer do outro, qual vai ser o real avanço? Conquistamos o direito de igualdade e agora chegamos lá? Veja bem, não tenho uma opinião sobre liberar ou não os mamilos, horas eu penso que já estamos perdidas. Afinal, pouco muda entre colocar emojis sobre eles ou não, pois, no fim, esse corpo feminino estará ali ainda objetificado. Como sairemos dessa? Essa é uma discussão que precisamos começar a rascunhar, juntas.

Vanessa Rozan é maquiadora, pesquisadora de beleza e dona do Liceu de Maquiagem
@vanessarozan é maquiadora, pesquisadora de beleza e dona do Liceu de Maquiagem. Todo mês, em Lado B, ela trata sobre os padrões de beleza que influenciam o comportamento social. (Luiza Perez/CLAUDIA)
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