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Fábio Garcia escreve sobre televisão desde 2012, mas consome a telinha desde que se entende por gente. Ama programas ruins que dão a volta e ficam muito bons
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‘Éramos Seis’ prova que é possível fazer novela de um jeito diferente

Mesmo mais lenta, ‘Éramos Seis’ tem encantado o público com uma história que todos sabem como vai acabar.

Por Fábio Garcia
Atualizado em 17 jan 2020, 09h52 - Publicado em 11 nov 2019, 16h14
 (Globo/Reprodução)
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Ao contrário de séries ou outras produções no mundo todo, a telenovela brasileira é feita como se fosse ação e reação: o capítulo exibido hoje foi gravado há alguns dias, e o autor entregou o texto somente há poucas semanas. Esse tempo sempre “corrido” serve para moldar a novela de acordo com o gosto do público: se determinada trama dá certo há um entendimento que precisamos esticá-la, e personagens menos queridos vão aparecendo menos. E é nesse contexto que ‘Éramos Seis‘ chegou na Globo: embora a emissora seja especialista em fazer tudo de última hora, mudando o que for necessário para se adequar ao público, a atual novela das seis já está com a história toda definida, e o público sabe disso.

Realizar ‘Éramos Seis’ em 2019 trazia muito mais riscos do que chances de sucesso. Em outras épocas existia até o público disposto a ver qualquer novela, mesmo que ruim, mas atualmente a competição com outras emissoras e até com a internet deixa a briga mais feroz. Imagina você lançar uma novela de ritmo mais lento e ela ser um fracasso de audiência? Como cortar ou mudar o desenrolar da história se o esperado para ‘Éramos Seis’ é seguir quase que fielmente o texto de Silvio de Abreu e Ruben Ewald Filho.

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(Globo/Divulgação)

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Por sorte, a Globo não precisa se preocupar pois ‘Éramos Seis’ tem apresentado bons números de audiência, mas este não é o único mérito da novela. O texto, adaptado por Ângela Chaves, soube muito bem transpor a história da família Lemos para o público do século XXI, mesmo sem mudar a trama base da novela. Porém, quem ajuda a segurar o público na televisão mesmo é a escalação primorosa dos atores.

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A Globo foi muito feliz com a escolha dos atores de ‘Éramos Seis’, e é até injusto começar a citar alguns pois outros igualmente excelentes serão deixados de lado. Gloria Pires está em um de seus melhores papeis na carreira, passando toda a doçura da protagonista Dona Lola através do olhar e de um sotaque paulistano cuidadosamente estudado. Quem chega agora imagina até que a atriz viveu a vida toda na capital paulista.

Antonio Calloni, que vem de uma série de homens odiosos na dramaturgia, conseguiu dar a severidade de Júlio sem abusar do maniqueísmo. Embora a gente deteste o patriarca da família Lemos, não tem como não ficar com dó diante das demonstrações de carinho dele para com os filhos.

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(Globo/Divulgação)

Falando em filhos, o trabalho feito pela Globo com o elenco infantil da primeira fase foi incrível. Normalmente tramas que necessitam de atores infantis, como nas novelas do SBT, tendem a ter uma interpretação mais oscilante, porém em ‘Éramos Seis’ não havia qualquer ator fora do tom. Vale o destaque para Pedro Sol, que interpretou o Alfredo, e a Gabriella Saraivah, responsável por dar vida à Inês, os dois provavelmente serão vistos em novas novelas da Globo no futuro. Já na segunda fase, o entrosamento entre Danilo Mesquita (o Carlos) e o Nicolas Prattes (Alfredo) é algo muito gostoso de assistir.

Enquanto as novelas atuais optam por cenas mais dinâmicas, cortes de videoclipe e diálogos rápidos, ‘Éramos Seis’ tem uma narrativa bem mais lenta. Alguns podem até dizer que “nada acontece”, mas na verdade a novela das seis escolheu trabalhar com o ritmo das versões anteriores. A força da história está no diálogo, nos olhares entre os personagens e na expectativa do público para ver como a família Lemos vai se deteriorar com o tempo. Tanto que nem há reclamações sobre uma “falta de vilão” na trama, pois fica o entendimento de que o vilão é a própria Vida.

‘Éramos Seis’ apresenta um desafio que a Globo deveria apostar mais vezes, o de realizar uma história do começo ao fim conforme a imaginação do autor, independente de determinada trama ir bem com o público ou então do personagem X desagradar. Talvez com isso tenhamos histórias mais variadas, com ritmos diferentes e com oportunidades de se renovar o gênero. Fica a dica!

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