Mudança, andança, na dança…
Entre caixas sendo abertas e coisas sendo transformadas em outras, fica a certeza de que os percursos são muito mais enriquecedores do que as chegadas
3,2,1…. Já! Perguntas rápidas para respostas que estão na ponta da língua! Se você pudesse escolher algo que deseja mudar em sua vida agora – aquela primeira coisa que te vem à cabeça, qualquer uma – mas que vem de “bate pronto”, sem julgamento: perder os quilinhos extras, deixar de ser tão irritada, julgar menos, não ter insônia, livrar-se de brigas, mudar de emprego, trocar de marido… O que quer que seja, você consegue escolher uma primeira coisa que realmente te incomoda o suficiente para querer mudar? O que seria?
Curiosidade complementar: como “anda” a sua coragem? Pois fato é fato, mudar exige coragem… e muita! Ah, quem dera de vez em quando aparecesse o maravilhoso gênio da lâmpada e levasse-nos embora o que incomoda, abrindo espaço para novas possibilidades! E vou confessar que, às vezes, infantilmente caio nesse conto do vigário que eu mesma me conto (kkkkk) de que as coisas se transformam ou acontecem com praticamente nenhum esforço.
Obviamente, a ilusão “do passe de mágica” leva uma bofetada básica, pois, em qualquer área da vida, transformação sem que haja determinação, trabalho e repetição é praticamente inviável, concorda? Ao passo que o tempo passa, percebo quanto o imediatismo, o desejo de chegar ao ponto final (com o desejo transformado) atravanca, e muito, nossas jornadas e mudanças que desejamos instalar em nossas vidas. Muitas vezes não é possível “cortar caminhos” e as transformações vão se mantendo cada vez mais distantes, ampliando nossa reclamações e nosso vitimismo.
Esse mês vivi uma dessas experiências de mudança que se iniciou com uma mudança mesmo (literal!) de casa, de espaço físico que, à primeira vista, parece ser simples comparada às mudanças de ordem interna, de desenvolvimento pessoal. Mas tomando como verdade essa afirmação (que no universo dos atores é absoluta), “QUEM MUDA FORA, MUDA DENTRO”, observei com olhar atento a imensa oportunidade que mudar de casa me oferecia mais uma vez para jogar fora o que não mais me serve – limpar espaços, desencaixotar verdades, rever perspectivas, limpar sujeiras e mensurar o que cabe nos novos “armários” que me oferecerão novos pontos de vistas para minhas vestimentas.
Óbvio que, repetidamente, me confundi: perdi mil vezes a xícara de café de todo dia que teimava ir programadamente para o armário que já não existe mais, e resolvi rir – rir de mim mesmo – de como nosso cérebro, ao mesmo tempo elástico, tem por natureza amar as coisas sempre iguais; assim gastamos menos energia, mas assim ficamos sempre ali estagnadas… Ai, que chatice a mesmice!
No meio das risadas, das trapalhadas, dos tantos “abre e fecha caixa”, da tesoura que sumia de lugar a cada caixa aberta, chorei também, arriei exausta querendo deixar para amanhã, para a semana que vem… Mas sem pressa e sem pausa, passei a fita adesiva no padrão procrastinador e segui lembrando que se perder no meio de tantas novas possibilidades é a base da transformação.
Neurologicamente falando, nossa máquina cerebral perfeita reconhece ser praticamente impossível os nossos neurônios começarem a percorrer novos trajetos sem “dar uns brancos”, mas é exatamente o que acontece quando queremos achar o interruptor de luz na escuridão do novo espaço; exige tato, calma e presença até que novos encaixes sejam feitos, novos bons hábitos sejam formados. Por aqui, muitas caixas ainda estão sendo abertas e coisas sendo transformadas em outras no novo espaço, mas ficando, mais uma vez, a certeza de que os percursos são muito mais enriquecedores do que as chegadas. Por enquanto, estou aqui amando a dança e a andança que a mudança nos traz!