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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Número de estudantes que não sabem ler e escrever dobrou em 2 anos

Colunista Stéphanie Habrich conversou com um doutor em educação para saber mais sobre o atual cenário nas escolas brasileiras

Por Stéphanie Habrich Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
29 set 2022, 08h31
analfabetismo
Pandemia de Covid-19 não criou o problema, mas o agravou.  (Andrea Piacquadio/Pexels)
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No dia 16 de setembro, dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) revelaram um triste cenário aos brasileiros. ​​Realizado a cada dois anos desde 1990, o levantamento é composto por provas que medem o domínio de estudantes (do 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio) em leitura e resolução de problemas (uma área da matemática). Como a última edição havia sido realizada em 2019, os resultados de agora, referentes a 2021, foram fortemente influenciados pela pandemia do novo coronavírus. O objetivo do levantamento é que os dados do Saeb sirvam como base para melhorar a educação brasileira.

Os números, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), apontaram que, entre 2019 e 2021, a quantidade de crianças do 2º ano que não sabiam ler e escrever nem mesmo palavras isoladas mais do que dobrou – aumentando de 15,5% para 33,8%.

É claro que precisamos considerar uma variável importante de 2019 para cá: a pandemia do novo coronavírus. Com o isolamento social, mesmo os estudantes que tinham acesso a meios digitais para acompanhar as aulas tiveram que se adaptar a um novo modelo de ensino. E muitos sequer tinham como assistir às aulas. Pelo fato de o Joca estar presente em escolas ao redor do Brasil, sempre tive muito contato com colégios, e não era raro ouvir falar de estudantes que precisavam de aparelhos eletrônicos e internet para seguir com os estudos. Em diversos casos, professoras relataram que o único contato que as crianças tinham com a escola era através de tarefas enviadas aos responsáveis, restringindo os estudos a trocas de mensagens, por WhatsApp mesmo. As aulas remotas eram a realidade de poucos

A falta de recursos nas escolas ao redor do país não é uma novidade. Essa carência, no entanto, vai muito além da ausência de ferramentas tecnológicas. De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica de 2021, apenas 41,4% das escolas da rede municipal de ensino fundamental brasileiras possuem bibliotecas ou salas de leitura. O valor é cerca de metade do observado nos colégios privados (80,5%) e estaduais (81,4%). Nem banheiros estão presentes em todas as escolas: cerca de 4% das instituições de ensino brasileiras carecem deste item. 

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Não, o Saeb não mostrou problemas inéditos

Por causa desse cenário excepcional, conversei com o professor Ocimar Munhoz Alavarse, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e docente do curso de Pedagogia na instituição, para saber de que forma os dados do Saeb foram influenciados pelo isolamento social. “Antes da pandemia, as proficiências dos estudantes que estavam terminando os anos iniciais do ensino fundamental já eram preocupantes. Não é que não tínhamos problemas antes da pandemia e agora temos”, explica. 

Isso quer dizer, segundo o professor, que a pandemia não criou novos problemas, mas evidenciou questões que já existiam, como uma alta taxa de estudantes que chegam aos anos finais do ensino fundamental com dificuldades na leitura. 

Além disso, o docente aponta que existe a possibilidade de que esses resultados escondam uma realidade ainda mais grave: “É possível que esses resultados, especialmente de leitura e de matemática, estejam acima [ou seja, sejam mais positivos] do que se todos os alunos estivessem na escola, já que é bem provável que os alunos que estavam na escola em 2021 [para participar do levantamento] foram aqueles que conseguiram, ainda que com problemas, manter contato com as escolas”, diz. De acordo com o documento “Taxas de atendimento escolar da população de 6 a 14 anos e de 15 a 17 anos”, com informações da Pnad Contínua do segundo trimestre de 2021, houve um aumento de 171,1% dos jovens de 6 a 14 anos que estavam fora da escola no segundo trimestre de 2021 em comparação ao mesmo período de 2019. 

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E as desigualdades não são apenas evidenciadas entre os alunos que possuem ferramentas para acompanhar as aulas e os que não possuem. Enquanto os alunos que tinham dificuldade nos estudos muitas vezes encontraram no ensino remoto obstáculos ainda maiores para sua educação, essas barreiras eram menos acentuadas entre quem tinha facilidade na escola. “Se as escolas querem trabalhar para evidenciar os melhores estudantes, elas não precisam fazer nada, porque a pandemia até ‘ajudou’ nesse sentido, já que deixou mais gente para trás. Mas, se as escolas estão em busca do sucesso de todos os seus alunos, será necessário despender maiores esforços“, conclui.  

Por isso, para o profissional, o grande desafio das escolas que buscam melhorar o ensino para todos os seus alunos é aprimorar o modo de ensino de forma a abraçar todos os seus estudantes: “Agora as escolas precisam intensificar, e não criar, um acompanhamento mais sistemático da aprendizagem dos seus alunos”. 

Preciso concordar com o professor Ocimar. Identificar as questões que pedem mudanças é, sem dúvidas, um primeiro passo importante para isso. No entanto, é necessário tratar as questões dos mais jovens como prioridade. Na minha opinião, se quisermos contar com um futuro mais justo, não podemos ignorar aqueles que, apesar de já serem cidadãos hoje, vão conduzir o planeta no futuro: as crianças e adolescentes. 

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