Como lidar com a fadiga de notícias ruins?
Stéphanie Habrich usa a experiência no Joca, jornal feito para crianças e adolescentes, para mostrar como o problema pode ser combatido
A sensação de cansaço por conta do noticiário negativo e dos efeitos nos nosso psicológico é global. Em 2020, a agência governamental do Reino Unido, Ofcom realizou uma pesquisa e descobriu que quase um terço dos entrevistados estava evitando consumir conteúdos negativos relacionados à pandemia.
Esse comportamento, batizado de “fadiga de notícias”, ou “fuga de notícias”, anda preocupando autoridades ao redor do mundo. Ao se distanciar do noticiário, o cidadão deixa de consumir informações relevantes, o que é crucial em períodos como os que vivemos agora.
O que poderia ser feito para trazer de volta aqueles que se afastaram das notícias? Iniciativas estão tentando resolver esse problema. Alguns profissionais de mídia têm apostado em um tipo de jornalismo que mostra as mazelas do mundo ao mesmo tempo em que aponta caminhos para melhorá-los no chamado “jornalismo de soluções”. A abordagem traz esperança para o leitor ou telespectador, o deixa menos amedrontado e mostra que existem caminhos para superar os problemas.
Juventude
Sempre ouvimos dizer que as novas gerações são o futuro da humanidade. Por isso, uma das coisas mais cruéis que um adulto pode fazer é tirar as esperanças de um jovem. É como se estivéssemos dando um tiro no nosso próprio futuro. Estamos dizendo para eles que nem vale a pena ir atrás, mesmo se for para melhorar algo em pequena escala e, assim, matamos as boas iniciativas que podem surgir.
No Joca, jornal para crianças e jovens que fundei há dez anos, levamos essa questão do negativismo desenfreado muito a sério e, por isso, frequentemente investimos no jornalismo de soluções. Sabemos que é importante mostrar aos nossos leitores que, por mais nebulosa que seja a situação, sempre há um caminho – ou algo que possa ser feito. Esse tipo de abordagem faz com que os jovens mantenham o seu otimismo vivo e tenham disposição para lutar por um mundo melhor.
É o que estamos vendo, atualmente, com o projeto Mi Casa, Tu Casa . Nessa iniciativa, que é uma parceria do Joca com o ACNUR (agência de refugiados da Organização das Nações Unidas) e a organização Hands On Human Rights, os leitores do jornal são incentivados a ajudar crianças e adolescentes venezuelanos que estão nos abrigos para refugiados e migrantes de Roraima. Para participar do projeto, os jovens podem doar livros, ajudar na arrecadação de dinheiro para a construção das bibliotecas e trocar cartas com os moradores dos locais de acolhimento.
Para mobilizar os jovens a participarem da campanha, publicamos no Joca várias matérias que explicavam a situação dos refugiados venezuelanos, tanto no Brasil como no exterior. Como citam as boas práticas de jornalismo de soluções, não deixamos de falar sobre as dificuldades que essas pessoas estavam enfrentando. Porém, em vez de ficarmos restritos a isso, também apresentamos um ponto positivo, no caso era o projeto Mi Casa, Tu Casa, que levará cultura e diversão para o dia a dia daqueles refugiados.
Nossos leitores acompanharam as matérias sobre os venezuelanos e se empenharam ativamente para doar livros e verbas para a campanha. Até o momento, já arrecadamos mais de 30.000 livros e estamos perto de chegar a R$ 60.000 doados para a construção de bibliotecas. Além disso, temos vários jovens envolvidos em divulgar a iniciativa e fazer com que mais pessoas contribuam para o projeto.
A história do Mi Casa nos mostra que é possível praticar um jornalismo que não canse e desanime, mas que informe e encoraje os cidadãos a buscar soluções para os nossos problemas.
Precisamos acreditar que nem tudo está perdido e que há solução para a tal da fadiga (ou fuga) de notícias.