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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.

A maioria dos jovens tem dificuldade para distinguir fatos de opiniões

Segundo um relatório da OCDE, 67% dos estudantes brasileiros de 15 anos não sabem diferenciar fatos de opiniões em textos

Por Stéphanie Habrich
1 jun 2021, 11h32
JOVEM
 (Nick David/Getty Images)
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Quase sete a cada dez, ou seja, 67% dos estudantes brasileiros de 15 anos não sabem diferenciar fatos de opiniões em textos. Essa é a conclusão de um relatório divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em maio deste ano. O resultado do Brasil está acima da média internacional, que é de 53%.

Na realidade, sabemos que essa não é uma questão que atinge apenas os jovens. Você já deve ter visto adultos que ignoram os fatos e se prendem apenas a opiniões.

Na pandemia, algo que ocorre com certa frequência. A pessoa ouve um conhecido dizendo que o tratamento X pode ajudá-la a combater a Covid-19 e, logo, começa a fazer uso dele, mesmo que não exista evidência científica que comprove a sua eficácia. A opinião da pessoa conhecida, que não passa de uma mera suposição, ganha mais atenção do que estudos sérios, baseados em análises e procedimentos rígidos.

Se essa realidade também se estende aos adultos, é de se esperar que os jovens sejam afligidos por algo semelhante. Afinal, se as pessoas mais velhas, que deveriam servir como referência, confundem fatos com opiniões, é natural que os mais novos repitam os mesmos comportamentos.

Na prática, vemos isso acontecendo o tempo todo. Basta se aproximar de um grupo de crianças e adolescentes em uma escola e, logo, você os verá soltando alguma opinião que não tem embasamento, mas que eles julgam ser a verdade absoluta. Muitas vezes, esses posicionamentos são reproduções de discursos que ouvem em casa, vindos de membros da família.

Vamos imaginar a seguinte situação: um adulto tem muita raiva de uma determinada figura pública e começa a falar mal dela na mesa de jantar. Baseado na sua percepção dos fatos, ele faz uma série de acusações contra aquele indivíduo.

O filho, ao ouvir tudo aquilo, toma as falas do adulto como verdadeiras e sai espalhando-as para os amigos, como se fossem fatos – embora sejam apenas opiniões, carentes de provas e contexto.

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Com isso, a desinformação (ou as fake news) vão sendo espalhadas, até que se chega ao ponto em que uma opinião baseada em “achismos” vira a verdade absoluta para milhares de pessoas. E, então, passa a ser muito mais difícil convencer a todos de que aquela não é a realidade dos fatos.

É por isso que insisto tanto na necessidade de levarmos educação midiática para nossas crianças e adolescentes. Em um mundo em que as informações circulam rapidamente, é necessário que elas aprendam o quanto antes a lidar com conteúdos midiáticos.

Dentro desse campo entra o aprendizado de diferenciar um fato de uma opinião e de aplicar esses conhecimentos na prática, quando estamos diante de uma notícia veiculada pela imprensa ou mesmo de uma mensagem que chega pelo WhatsApp, por exemplo.

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Como caminho para ao trabalho com a educação midiática, muitas escolas usam o Joca, jornal para crianças e adolescentes que fundei há dez anos. A partir da leitura de notícias, os jovens têm acesso ao que está acontecendo no Brasil e no mundo e assimilam, quase por osmose, o que caracteriza um fato, algo que foi apurado e está provado que aconteceu.

Ao mesmo tempo, sempre buscamos dar a informação da forma mais contextualizada possível, inserindo dados e explicações históricas que possam ajudar a compreender que o jornalista que escreveu a reportagem se baseou em evidências – e, por isso, podemos acreditar que ele traz informações verdadeiras.

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Além disso, sempre publicamos no jornal opiniões de leitores sobre as notícias abordadas. Nas seções “O Que Eu Penso Sobre?” e “Correspondente Internacional”, jovens do Brasil e de outros países são convidados a fazer um comentário sobre um fato que é próximo à sua realidade (como uma criança israelense falando sobre a vacinação em Israel ou um adolescente do Amazonas comentando sobre as enchentes no estado).

Essas inserções deixam claro para o leitor que estamos diante de uma opinião, algo que não necessariamente pode ser provado por a+b, mas que corresponde pura e simplesmente à forma de pensar do entrevistado.

Com essas seções e com as notícias, o leitor do Joca passa a saber exatamente quando está diante de uma opinião e quando está perante um fato. A cada edição do jornal, ele vai ampliando e refinando o conhecimento, até que consiga fazer essa diferenciação de forma natural, em todos os momentos da vida em que esse aprendizado vier a ser necessário.

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Se não quisermos que as próximas pesquisas sobre interpretação de textos venham com resultados tão ruins quanto o de agora, precisamos começar a agir desde cedo. A desinformação e a distorção da realidade podem ter sérios impactos sociais. Não podemos ter mais uma geração de adultos sem conhecimentos e formação em educação midiática.

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