A importância da educação midiática para o processo eleitoral
Escolas e famílias devem trabalhar juntas para que os jovens se tornem eleitores bem-informados e críticos
A avalanche de informação que recebemos diariamente vem de uma infinidade de canais com os mais diversos conteúdos. Vivemos em uma era digital onde a informação está na palma da mão, 24 horas por dia. Essa facilidade traz o desafio de discernir o que é relevante e verdadeiro, especialmente em momentos eleitorais, como o que viveremos nos próximos meses.
O jovem de hoje, comparado aos jovens de 20 anos atrás, tem uma capacidade de receber informação muito maior, basta levar em conta a internet, o celular e as inúmeras redes sociais disponíveis.
No entanto, ele corre o risco de perder a capacidade de assimilação, porque recebe tanta informação, que pode não se aprofundar em nenhuma. Isso gera um risco de no futuro esses jovens se tornarem adultos com pensamento raso, que não se aprofundam em assuntos relevantes.
Diante desse alerta, como podemos ajudar os jovens a navegar com segurança e senso crítico para se proteger da desinformação e distinguir o que é fake news?
“É a educação midiática é o que vai trazer para o jovem uma visão crítica, uma capacidade de verificação do que está chegando de informação para ele”, diz a psicoeducadora Denise Alves Freire.
Em um período de eleições, a desinformação é capaz de minar a confiança no processo eleitoral. Esse tema tem sido uma preocupação minha e de todo o time da Magia de Ler, editora que produz os jornais Joca e TINO Econômico, voltados para o público infanto-juvenil. Por isso, temos investido nosso tempo em ouvir jovens para saber se estão cientes dos riscos que correm se não prestarem atenção nos conteúdos que consomem.
Os jovens que ouvimos têm dado depoimentos alarmantes:
“As fake news me deixam inseguro com meu voto, fico questionando se tudo o que foi passado é verídico e se meu voto não foi influenciado por alguma mentira”, A., de 17 anos.
“Às vezes, fico com medo de não saber em quem confiar ou de tomar decisões erradas por causa das fake news”, V., de 16 anos.
“Infelizmente isso acaba afetando a opinião em relação à imagem de algum candidato, dependendo da notícia sobre o mesmo”, J., 17 anos.
O risco dessa desconfiança, a longo prazo, é de formarmos cidadãos apáticos e desinteressados de se engajarem politicamente. “De imediato, talvez a sociedade não consiga medir o peso dessa alienação, só que a longo prazo terá muito a perder”, Denise.
Considerando que essa será a primeira eleição na qual a inteligência artificial estará mais popularizada, o risco de mentiras serem produzidas com mais “cara de verdade” fica maior.
Ou seja, mais um motivo para prepararmos os eleitores, especialmente os mais jovens para não serem enganados.
Como fazer isso? Campanhas de conscientização e o apoio a organizações que lutam contra a desinformação são passos importantes nessa direção, mas a ação mais importante deve vir de casa e das escolas. “É o adulto que tem que dar as ferramentas suficientes para educar esse jovem”, diz a psicoeducadora.
Restringir acessos ou tirar o celular não é a solução mais efetiva para evitar a desinformação. “O ideal é o pai chamar o filho para navegar e, juntos, buscarem a fonte das informações”, diz Denise.
“Também é importante mostrar a pluralidade de opiniões e de pensamentos sobre todos os temas, para que o jovem reconheça diferentes pontos de vista.”
Na escola, esse trabalho tem que continuar. A sugestão de Denise é estimular a participação dos estudantes nas decisões que dizem respeito ao dia a dia escolar.
Aprendendo a exercer a cidadania no micro espaço da escola, o jovem vai aprendendo a levar isso para outros ambientes. “As escolas já costumam ter seus representantes de classe. Vale estimular esses grupos com reuniões semanais ou quinzenais, pedindo a participação deles sobre assuntos pertinentes a eles”, sugere a psicoeducadora.
Escolas e famílias devem trabalhar juntas para promover essa educação. O futuro da nossa democracia depende da capacidade dos jovens de hoje de se tornarem eleitores bem-informados e críticos.
Investir na educação midiática é investir no fortalecimento do nosso processo eleitoral e, consequentemente, no futuro da nossa sociedade.