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Sofia Menegon

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Sofia Menegon é feminista, idealizadora da podcast Louva a Deusa e consultora em relacionamento e sexualidade
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Sinto ciúmes. E agora?

Levei tempo demais para entender que não é possível controlar o que sentimos

Por Sofia Menegon
27 abr 2023, 10h28
ciúmes
Durante a maior parte da minha vida, acreditei que o segredo era aprender a controlar os sentimentos. (Gabriel Mendes/Pexels)
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Eu sinto ciúmes. E, depois, sinto raiva, inveja, posse. Sinto uma vontade enorme de guardá-la só para mim. Eu sinto e não é pouco. Eu sinto em exagero. Sinto que quase me excede, vaza, escorre. Eu sinto e sinto muito. Sinto muito mesmo e, às vezes, sinto muito por sentir esse tanto também.

Durante a maior parte da minha vida, acreditei que o segredo era aprender a controlar os sentimentos, em especial, esses que a gente classifica como negativos, impróprios, inadequados, tóxicos. Cheguei uma vez a comprar um livro de um psicólogo que dizia que, se somos capazes de controlar os pensamentos, então seríamos capazes de controlar nossas emoções também. E eu tentei, como tentei fazer funcionar. 

Levei tempo demais para entender que não é possível controlar o que sentimos, assim como não é possível controlar o outro e não é possível controlar o futuro ou o presente. Lidar com o sentir é diferente, talvez até o oposto, de controlá-lo. E isso, sim, é possível aprender.

Há alguns anos, não tantos assim, eu costumava me perder em um emaranhado de pensamentos nocivos diante de qualquer gatilho que me despertasse ciúmes. Eu via um comentário da minha parceria em uma foto e logo pensava que ela estava interessada na pessoa e aí que talvez elas tivessem nutrindo sentimentos mútuos, e, certamente, isso significaria o fim da nossa relação. Ou, então, veria uma foto da minha namorada com a ex e já imaginaria as milhões de razões pelas quais ela deveria estar com a moça e não comigo. Ficava pensando como a ex era mais bonita, interessante, inteligente. Um looping sem fim. 

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E não foi da noite para o dia que deixei de fazer esse caminho. É bem verdade que, vez ou outra, ainda o percorro numa tentativa espinhosa de não me perder de mim. Mas descobri com a vida e a análise que é possível desbravar outras rotas mentais e, então, lidar com o ciúme menos dolorosamente.

Então, ao invés de imaginar o que minha parceira sente por outra pessoa, eu pergunto. E quando ela responde, acredito. Ao invés de pensar nas milhões de qualidades que todas as ex namoradas dela com certeza têm, eu lembro das minhas. Ao invés de criar cenários mirabolantes, faço uma análise concreta dos fatos, recordo dos meus valores, respiro fundo e escolho o que fazer com as minhas conclusões. Têm vezes em que isso significa sentar para uma conversa difícil. Têm vezes que significa levar para a análise. E, outras tantas, em que o tempo, o carinho e o amor dão conta de aliviar. Mas tem também, ainda, aqueles dias em que eu recorro às rotas antigas. E tá tudo bem. Ou não, mas não há linhas retas quando o assunto é autoconhecimento e autodesenvolvimento.

A gente não deixa nunca de sentir. Pelo menos não deveria deixar. A gente também não controla o que sente porque quando o faz, se sufoca. Mas pode aprender a selecionar trilhas menos tortuosas. E isso exige treino. Treino e acolhimento e afeto e abertura e espaço para dizer das nossas inseguranças e medos. Porque só é possível treinar, quando se pode falhar. E é preciso coragem para falhar e para sentir.

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