Sem tempo para linguagens do amor
Não quero um amor que me obrigue a decidir entre ganhar flores ou ajuda para resolver um pepino familiar
Toque físico, tempo de qualidade, atos de serviço, presentes ou palavras de afirmação. Você se sente amada quando é acarinhada ou quando sua parceria divide as tarefas de casa contigo? Quando recebe elogios ou quando passa horas conversando sobre interesses mútuos? Não, não se pode ter tudo. Afinal, amor é sobre renúncia. Será?
Eu não quero escolher entre o abraço apertado que troco com a minha namorada a cada 15 minutos, quando estamos juntas, e todas as vezes que ela me diz que eu sou “braba”, gostosa, linda, inteligente. Não quero um amor que me obrigue a decidir entre ganhar flores ou ajuda para resolver um pepino familiar. Não quero um ou outro. Mais de um ou mais de outro. Eu quero tudo e quero muito.
Aliás, eu só me sinto amada quando o pacote é completo. Passei tempo demais cedendo, renunciando, deixando as minhas necessidades e desejos de lado para satisfazer as vontades de outro alguém. Tempo demais desassistindo-me para assistir a expectativa de uma sociedade sexista, fissurada no sofrimento e obcecada pelo amor romântico. Uma vida inteira acreditando que, para ser feliz no amor, precisaria ser menos exigente, esperar menos, baixar a régua, fazer-me de Amélia.
Não! Quero tudo e quero muito. Inclusive os conflitos, as não concordâncias, as incompatibilidades. Quero discussões que me façam pensar. Quero incoerência, ambiguidade, verdade. Quero poder querer, poder demandar, poder pedir e dizer. Ah, eu quero muito e quero tudo.
Se não for assim, fico comigo mesma, que sou excelente companhia. Eu sei me afagar, me olhar no espelho com ternura, dizer a mim mesma as qualidades que aprendi a notar. Eu sei cuidar de mim, preparar um chazinho quente nos dias duros ou me presentear com aquele livro que há tempos queria ler. Ah, não é de hoje que ir ao teatro comigo mesma é meu programa favorito. Se tenho tudo isso aqui, para que estar com quem tem pouco para me dar?
Ah, de jeito nenhum. Na minha casa só faz morada quem é poliglota do amor. Nada de um idioma só. Se não for assim, não quero, não vou.