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Sofia Menegon

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Sofia Menegon é feminista, idealizadora da podcast Louva a Deusa e consultora em relacionamento e sexualidade

Sim compulsório: precisamos problematizar o consentimento

"Muitos sins escondem também medos, vergonhas, pressão, desconforto", escreve a colunista Sofia Menegon

Por Sofia Menegon
13 out 2021, 14h00
Mulher
 ((Foto: Free-Photos)/Pixabay)
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Segundo O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 86,9% das vítimas dos 60.926 registros de casos de violência sexual no Brasil, em 2020, são do sexo feminino. E na Semana Nacional de Luta contra a Violência à Mulher, quero propor uma conversa sobre esse tipo de violência tão presente nas nossas histórias. Mas minha sugestão é que trilhemos um caminho um tanto quanto enevoado.

Quantas vezes acreditou que negar sexo seria o fim da relação ou que ele ia procurar lá fora o que não encontra em casa? Quantas vezes fez o que não era confortável ou prazeroso para satisfazê-lo e até mentiu pra si mesma, dizendo que era uma vontade sua também? Muitas das definições de violência sexual se baseiam no consentimento. Um conceito importante, mas ainda pouco analisado em suas nuances. E a verdade é que precisamos problematizar o consentimento.

Não é não. Mas muitos sins escondem também medos, vergonhas, pressão, desconforto. São “sins” forjados pela crença de que não se nega sexo para o marido. Ou, ainda, “sins” forjados pela pressão, pela ameaça, pela chantagem. “Ah, depois não reclama se me pegar com outra”, “eu fiz tudo por você e agora você me nega isso” ou “você não quer aquela bolsa, aquele sapato, aquela viagem, então tem que dar algo em troca”. São frases comuns na vida de muitas mulheres independentes e fortes e feministas. Nenhuma de nós está imune à cultura do estupro. Uma cultura que nasce da ideia de que corpos habitados por mulheres são propriedade pública.

Esses “sins” não são livres. Não são escolhas. São “sins” compulsórios, porque aprendemos que eram parte de nossa obrigação enquanto mulheres. O consentimento do uso do nosso corpo é cláusula mandatória nos contratos velados das nossas relações. Assim como o vazio que fica quando termina. A sensação de impotência. Somos violadas e não podemos nomear a violência porque nos foi arrancado um “sim” ou silenciado o “não”.

E eu já disse muitos desses “sins” na vida. Muitas vezes com companheiros de anos, com amigos que me chamaram pra um jantar e depois me fizeram achar que devia algo, com crushes de uma noite que custaram tantas outras sem dormir. 

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Violência sexual. Uma violência ainda mais perversa num sistema que nos culpabiliza e nos censura. Que nos humilha, silencia e descredibiliza. Um sistema que se retroalimenta porque são eles quem escrevem as leis, julgam, os absolvem e nos condenam. 

Essas marcas apenas deixarão de fazer parte da história das nossas filhas, sobrinhas e netas quando nos virmos verdadeiramente representadas nos espaços de poder. Quando o perfil médio do magistrado brasileiro deixar de ser o homem, branco, católico. Quando as mulheres ocuparem muito mais do que apenas 25% das vagas parlamentares no mundo. Quando assimilarmos a importância de falar, entender e participar da política. Quando, enfim, ocuparmos cada lugar que nos foi proibido.

Há perigo na esquina. Mas há também luta, esperança e revolução.

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