Como os papéis de gênero nos tornam inseguras nos relacionamentos
Medos geram insegurança e nos mantêm constantemente ocupadas com o aspecto relacional da vida
Se você é mulher e já esteve em um relacionamento é muito improvável que nunca tenha sentido medo de não ser boa o bastante, medo de ter exagerado, medo de que outra mulher seja mais interessante, medo que a relação termine, medo de não saber o que fazer, o que dizer e como se comportar. Todos esses medos geram insegurança e nos mantêm constantemente ocupadas com o aspecto relacional da vida.
É impossível desatrelar a insegurança dos papéis de gênero construídos e impostos socialmente. Fato é que o campo amoroso sempre foi colocado sobre as pilhas de responsabilidades das mulheres, disputando com a maternidade o lugar de prioridade. Mas, longe de ser um acaso, esses medos operam em perfeita concordância com os interesses do patriarcado.
Quando concentramos nossos recursos, sejam eles tempo, energia ou dinheiro, na tentativa de garantir um relacionamento “perfeito” ou para que tenhamos a sensação ilusória de aquietamento desses medos, nos mantemos a uma distância “segura” das posições de poder da sociedade.
Isso porque o relacionamento acaba se tornando mais uma camada das jornadas tão exaustivas atribuídas a todas nós. Ora, como disputar espaços de igual para igual quando nossas forças estão todas direcionadas à vida em casal, enquanto eles sequer colocam esse tópico na lista de preocupações? É uma corrida que já começa desigual.
Na última gravação do meu podcast, ouvi a psicóloga Fernanda Angelini dizer que os relacionamentos não precisam ser uma prioridade nas nossas vidas e que “está tudo bem se forem mornos”. Em um primeiro momento, estranhei, porque ia de encontro com tudo que aprendi sobre os relacionamentos até então. Mas a verdade é que a minha convidada estava mesmo coberta de razão.
Os relacionamentos não precisam ser perfeitos, não precisam demandar toda a nossa energia, não precisam nos conduzir à exaustão e eterna insegurança. Porque, quando isso acontece, perpetuamos um modo de viver que nos limita, censura e condena.
Decidir dedicar-se aos demais âmbitos da vida que não apenas o relacional pode ser uma forma de quebrar com esse ciclo e começar a construir um mundo com menores desigualdades de gênero.