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Sofia Menegon

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Sofia Menegon é feminista, idealizadora da podcast Louva a Deusa e consultora em relacionamento e sexualidade

Palhaça, iludida ou emocionada?

Em terra onde o pensar é determinante para a existência, sentir parece impróprio e, quem sente, tolo

Por Sofia Menegon
23 fev 2023, 06h48
mulher com balão de coração
Fugindo do sentir, fugimos também da possibilidade de nos envolvermos. (cottonbro studio/Pexels)
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Eu tinha 8 anos e chorava por algum motivo que aprendi a categorizar como “bobo”. Meu pai entrou no quarto e perguntou se eu era feita de cristal, para estar derrubando lágrimas à toa. Eu, sociabilizada como mulher, a quem é atribuída a capacidade e o “fardo” do sentir, fui tolhida desde o comecinho da vida. Carreguei, a partir de então, uma culpa descabida cada vez em que a emoção me escapava e ficava ali, à vista.

Cresci certa de que amar como eu amava, doer como eu doía, sentir como sentia era maldição que carecia ser rompida, revertida, disfarçada. Em terra onde o pensar é determinante para a existência, sentir parece impróprio e, quem sente, tolo. Sim, tolo. Não bobo.

O tolo é aquele que tem fé. O bobo ignorância. O tolo opta por acreditar. Ao bobo não cabem escolhas. O tolo aposta, o bobo se ilude. O tolo se entrega, enquanto o bobo deixa passar. O tolo é emocionado. O bobo? Palhaço. O tolo sente porque pode. O bobo sente porque foge.

Estar entregue às relações, permitir-me apaixonar em primeiros encontros, sonhar vidas inteiras em uma cantada, nunca me fez palhaça ou boba. Mas uma tola incansável. E foi só quando entendi a diferença entre um e outro que me dei conta de que ser tola era a melhor parte de mim. 

A verdade é que não se foge do amor, mas do pavor à frustração, à dor, ao sentir que não é autorizado. Fugindo do sentir, fugimos também da possibilidade de nos envolvermos, apaixonarmos e nos vinculamos. Caímos na ilusão de que não amando, não sofreremos. De que sem se entregar, não se tem a chance de sair machucada. Bobeira. Não viver o que se deseja, angustia. É dor maior, sofrimento dobrado

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Prefiro, portanto, ser aquela que sente saudade de uma ficada. Quero ser a emocionada. Porque amar é uma tolice. Mas não amar é um risco estúpido, que não estou mais disposta a correr. 

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