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Sofia Menegon

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Sofia Menegon é feminista, idealizadora da podcast Louva a Deusa e consultora em relacionamento e sexualidade

Não queira uma relação good vibe!

Vestir a máscara do relacionamento good vibes é um caminho possível, mas que não vai te permitir crescer

Por Sofia Menegon
Atualizado em 28 abr 2022, 10h30 - Publicado em 27 abr 2022, 08h31
relacionamento good vibes
Relacionamentos good vibes são lindos nas redes sociais, mas são mesmo saudáveis? (Karsten Winegeart/Unsplash)
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Já viu aquela hashtag “relationship goals”? Cliquei esses dias por curiosidade. Resultado: casais de contos de fadas artificiais. Facetas instagramáveis da vida a dois. Um grande faz de conta de relações good vibes. Imagens que geram ansiedade, desconforto e o questionamento: será que tem algo errado comigo? 

Mas, deixa eu te contar uma coisa? Vestir a máscara do relacionamento good vibes é um caminho possível, mas que não vai te permitir crescer, evoluir e curar aflições.

Relacionar-se é a escolha mais masoquista das nossas vidas. É se jogar num precipício de emoções, ego, projeções. Adentrar um território onde tudo pode sair do controle, onde as máscaras não ficam no rosto por muito tempo e em que corremos o risco, se tudo der certo, de ficar nuas. Nuas diante de um outro que, então, consegue ver cada pedacinho de quem somos: nossos medos, gatilhos, angústias, paranóias. E resta a incerteza sobre o que esse outro vai fazer com todas essas informações.

Em um mundo que nos quer quietas, obedientes, subservientes, o discurso do relacionamento good vibe e da namorada “de boa”, cola rápido. Confunde-se o respeito à individualidade do outro com a completa negação das nossas vontades, das expectativas e desejos sobre a relação. 

Não é por acaso. É conveniente criar mais um modelo de mulher perfeita. Aquela que nunca reclama do futebol de domingo ou que o marido não voltou pra casa depois da saída com os amigos. É conveniente que nos sintamos inadequadas quando estranhamos o desrespeito e desconsideração no relacionamento.

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Mas a verdade é que somos todos filhos de uma sociedade adoecida. Todos nos ferimos na infância, nos iludimos, criamos expectativas sobre o futuro amoroso. Todos sentimos ciúmes, medo, insegurança, carência. Todos nós. E é mais que normal e esperado que isso venha à superfície nos relacionamentos. É esperado que a gente grite, chore, entre em conflito, diga coisas que não queríamos dizer, esconda outras que precisavam ser ditas. Somos adultos machucados e machucados doem. Sentir essas dores é natural. Viver como se não existissem, só porque nos acostumamos com elas, não.

Quando vestimos o personagem da mulher ideal, que é apenas ideal para eles, seguimos calejando até o ponto de nos esquecermos que a dor está ali. Vamos cedendo espaço, cedendo nossos sonhos, cedendo o nosso corpo até que não sobre mais nada. Nos tornamos modelos a exibir, robóticas, apáticas e extremamente palatáveis ao patriarcado. É mesmo possível viver uma vida toda sem discussões, ao lado da mesma pessoa, assim. Mas a que custo? Quanto vale a sua verdade?

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Não estou aqui defendendo que perpetuemos relações tóxicas de nenhuma natureza. Mas quero dizer que relações saudáveis têm conflitos e abrem espaço para que eles aconteçam, para que se fale sobre eles da maneira que for possível. Também não quero evitar que essa realidade se transforme, que vivamos em um mundo de adultos livres um dia. Mas para que isso aconteça, não se pode apagar quem somos hoje. 

Eu não quero um relacionamento good vibe de fachada. Fazer de conta que sou aquilo que esperam de mim. Ser sensata, elegante, bem resolvida. Eu não sou nenhuma dessas coisas e posso afirmar com convicção que ninguém que se olhe no espelho com coragem é. Somos uma bagunça e está tudo bem. 

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