Meu primeiro mês do orgulho com uma mulher
A sexualidade, como todas as coisas na vida, não é linear
Esse é o meu primeiro Mês do Orgulho namorando uma mulher. Com certeza já passei vários deles desejando estar com uma mulher, apaixonada por uma mulher, interessada em uma mulher. Mas namorando, não. E isso talvez pareça pouco relevante e sem importância para quem lê. Para a Sofia que escreve, não. Para mim, viver isso tudo com Julia é significativo demais.
E não é significativo só porque Julia é uma mulher. Mas é também. Durante quase 30 anos da minha vida, me senti desajustada. Não servia à heteronormatividade, mas também não parecia suficientemente parte do acrônimo LGBTQIAPN+, que dirá de uma comunidade.
A menina hétero demais para ser bi e bi demais para ser hétero. Bi festinha, bi de balada, aquela amiga que as amigas beijam. A descolada que pegava meninas. A esquisita que se aproveitava das mulheres, mas só namorava homens. Insensível, confusa, promíscua, aparecida, covarde.
E eu fui mesmo insensível. Fui insensível com a minha primeira namorada porque eu não sabia lidar com tanto afeto. Fui insensível comigo por me cobrar severamente para atender as expectativas que não eram minhas. Fui confusa também. Ainda sou.
Em um mundo tão monossexista, é quase impossível não viver questionando uma sexualidade que fuja a norma. Tem dias em que tenho certeza de que sou lésbica. Houve um tempo em que tive certeza de ser hétero. É confuso, porque olhar para si é confuso. Olhar para si em relação ao outro, nem se fale.
Entretanto, parece que eu preciso sempre fazer uma escolha por qualquer sexualidade que não seja a minha. Satisfazer uma necessidade binária por categorizar tudo, inclusive pessoas, em uma ou outra caixinha. Aquietar a fobia que se tem daquilo que não se consegue compreender. Uma tentativa legítima, genuína e muito humana de fazer-se caber para ser aceita.
“Mas sexualidade, como todas as coisas na vida, não é linear. A gente não nasce sabendo e é muito raro manter uma convicção inabalável, a menos que você seja completamente homofóbico e, aí, as questões são outras.”
Sofia Menegon
Eu sou também promíscua quando quero, aparecida quando dá vontade e covarde quando não vejo outra saída. Porque, acima de tudo, eu sou exageradamente humana.
Humana no meu não saber que conflita o tempo todo com a minha vontade egóica de querer saber de tudo. Humana em não saber o que quero, tendo a mais plena certeza das bases que me alicerçam. Humana em desejar amar e ser amada.
Para que eu pudesse viver esse mês do orgulho com Julia, eu precisei antes acreditar que podia viver o mês do orgulho com Sofia.
E para ser uma Sofia que levanta bem alto a bandeira bissexual, eu precisei antes ser a bi de balada, a hétero flexível, aquela que beija as amigas. Antes de poder ser a Sofia que ama Julia, eu precisei poder ser a Sofia que ama e ponto.
Eu não sei se é sobre poder amar quem a gente quiser, sabe? Acho que, acima de tudo, é sobre poder amar a gente. A gente que não se ajusta porque prefere andar pela vida assim, desajustada, leve, solta.
Feliz NOSSO mês!